O Sleater-Kinney é um produto de seu tempo. Três mulheres de quarenta e tantos anos que sabem o que a sociedade espera delas. E que sabem que elas nunca darão esse gostinho pro status-quo.

Sleater-Kinney - The Center Won't Hold
Sleater-Kinney – The Center Won’t Hold. Créditos: Divulgação

Quando as três lendas se juntam a uma das mais proeminentes artistas da geração atual, St. Vincent, como produtora, o resultado é um grito de rebeldia contra todas as angústias e ansiedades pelas quais passam o recorte que elas representam.

Mas, este grito também foge do esperado. Se os oito álbuns anteriores do trio traziam um indie-punk com duas guitarras e uma bateria lutando contra vocais duplos que se complementavam, em The Center Won’t Hold o som segue um caminho muito mais atualizado às novas audiências. Tanto é que, depois de lançados os primeiros singles do disco, a baterista Janet Weiss anunciou que sairia da banda por não querer seguir neste novo caminho.

The Center Won’t Hold pode ficar conhecido como Aquele Com Os Sintetizadores. Numa pegada muito mais puxada pro pop, o trio, porém, não perde o impacto de sua música, transitando de um industrial distorcido até um caos elétrico. Quem ouve encontra ecos de bandas como o Nine Inch Nails, o Depeche Mode e até atualidades como The 1975. O pop-rock dançante encontra o medo de um presente distópico.

O núcleo do trabalho, no entanto, continua sendo a abordagem mundana com que lidam com os temas que as incomodam pessoalmente. “Venda sua raiva, compre e troque/ mas ainda choramos por liberdade todos os dias”, canta Corin Tucker em “Can I Go On?”.

Em essência, The Center Won’t Hold é um álbum sobre apetite. Apetite intelectual, artístico e carnal. Nele, o trio discute como seu gênero e sua geração, colocados no atual contexto social e político, lidam com as amarras que os colocam. É uma contagem das doenças contemporâneas.

O grito como metáfora da resistência em meio a um mundo prestes a acabar aparece em “Bad Dance” (“E se todos vamos morrer queimados/ Então vamos gritar o grito sangrento/ Que estivemos ensaiando por todas as nossas vidas”), faixa que é quase um manifesto pra esse álbum. Antes, o berro viria junto às guitarras barulhentas e à bateria estrondosa. Agora, em The Center Won’t Hold, a distopia conservadora tenta manter tudo alinhado. Então, a solução é dançar. Como prega a faixa citada, “Se o mundo está acabando agora/ Então, vamos dançar”.

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