Cada vez mais, uma das artistas mais enigmáticas de sua geração, Angel Olsen está de volta colocando seu coração na mesa, dessa vez, da maneira mais crua possível.

No final do ano passado, sentada debaixo do MASP com um velho amigo, prestes a entrar no museu com ele para uma visita noturna, veio a recomendação que me acompanharia nos díficeis dias que estava enfrentando na época, “Ouve o novo da Angel Olsen, se chama All Mirrors, ela está em uma pegada meio ‘estrela de Hollywood caída’, bem dramática”.

A música de Olsen sempre soou muito bem em meus ouvidos, mas foi o disco lançado em 04 de outubro de 2019 que mudou minha percepção e de muita gente, a respeito da relação com a arte da cantora.

All Mirrors traz o sofrimento pelo coração partido como carro chefe, como outros milhares de discos, no entanto, pouco parece ter sido de maneira tão delicada e, ao mesmo tempo, majestosa como feita por Angel. No projeto, o ouvinte parece estar embarcando em uma jornada de incansávelmente intensos momentos de tristeza e reflexões de uma relação que desmoronou, mas não levou Olsen junto, que pelo contrário, parece ter usado as pedras da tragédia para traçar um novo caminho para ela mesma.

O álbum se tornou um dos mais aclamados do ano, e neste ano, Whole New Mess, novo disco da norte-americana, foi anunciado, porém ao conferir a tracklist, muitos notaram que a grande maioria das faixas já estavam presentes em All Mirrors, mas dessa vez, receberem tratamentos mais acústicos, crus, sem a orquestra que tornou o disco um dos mais comentados de 2019. Com isso, muitos se questionaram a razão de Olsen lançar a produção.

Mas artistas como Angel Olsen não dão ponto sem nó. Em entrevistas a respeito do novo álbum, ela revelou à jornalistas que, na verdade, Whole New Mess foi gravado antes que All Mirrors, e que seu lançamento havia sido sua intenção o tempo inteiro. E, apesar de possuir apenas duas inéditas (“Whole New Mess” e “Waving, Smiling”) de doze canções, os instrumentos utilizados tornam as músicas diferentes das presentes no disco anterior, e com isso, a maneira que a história se dá precisou ser contada de maneira diferente, por isso a mudança de ordem na tracklist.

Se engana quem que pensa tais canções perdem sua magia sem os grandiosos instrumentos, tendo em vista que não é de hoje que sabemos e ouvimos que canções intimistas podem ser bem letais para um coração recém-machucado, principalmente quando se tratam de composições feitas depois do final de um relacionamento de cinco anos.

Em canções como “(Summer Song)” e “Chance (Forever Love)”, a acusticidade da produção, parecendo se tratar até de uma demo, nos faz imaginar Angel Olsen como muitos de nos ainda estamos: isolados. Em passagens cortantes em que a cantora suplica por querer esquecer coisas que um dia deram à ela vida, podemos sentir o quanto seus machucados continuam frescos e longe de serem cicatrizados.

Fazendo o que faz de melhor, Angel Olsen consegue, com Whole New Mess, nos levar de volta a situações desafiadoras para o coração e para o nosso próprio auto-conhecimento, mas dessa vez, com outra abordagem e conseguindo extrair novas experiências e com certeza, pistas para o amadurecimento, ao entrar em contato com o aterrorizante e mágico ato do sentir.