Em meio à contínua passiva agressiva determinação nas redes sociais incentivando a todos (e principalmente, todas), a olhar o suposto “lado bom” de toda situação possível – desde um coração quebrado até uma pandemia – sentir parece ser errado, e quando se é mulher, um ato nada “empoderador”, afinal, como criar conteúdo para o Instagram com a tristeza, certo?

Phoebe Bridgers, Julien Baker e Lucy Dacus, três dos principais nomes da geração atual do indie, já eram capazes sozinhas de reverter qualquer algoritmo de que ser uma mulher que sente demais e procura um meio para se expressar, é algo not cool, e juntas, como boygenius, nos lembram que tal interpretação é um tanto quanto démodé.

No EP homônimo do trio, lançado em 2018, as artistas refletem, compartilham e questionam juntas sobre assuntos como amor, ataques de pânico, e relação com os fãs nas seis delicadas faixas do projeto.

Na canção de abertura, “Bite The Hand”, o trio fala sobre uma relação que coloca em xeque a integridade e autonomia de alguém, para se sacrificar se tornando o que a pessoa amada precisa.

Apesar de ser um sentimento e situação, infelizmente, muito comum em diversos relacionamentos, a inspiração para a triste, mas poderosa canção, é a relação dos artistas com seus fãs, e suas idealizações e cobranças com seus ídolos, como explica Lucy Dacus para a Billboard.

A felicidade, tristeza e desejo de escapar aparecem em “Me & My Dog”, em que Phoebe começa relembrando um bom dia, a transformação através de um outro alguém, que enventualmente a sufoca a fazendo sonhar com uma realidade alternativa em que ela está ao lado de seu cachorro no espaço, podendo ouvir qualquer música sem pensar na pessoa que a machucou.

O acústico e harmonização em “Ketchum, ID”, fazem o ouvinte refletir sobre os lugares que vão, as pessoas que amam, e mais do que isso, ao fato de que nunca estamos vivendo o presente seja qual é a situação, e sim, pensando no futuro, no que poderia ser, vivendo no automático.

O conciso e delicado projeto idealizado por Bridgers, Baker e Dacus soam e fazem nos sentir como se estivéssemos enrolados em um grande cobertor, como um abraço, imaginando, lembrando e, é claro, às vezes chorando, sobre tudo e todos, sem precisar justificar ou relutar, mas de vez em quando, compartilhar, e como no caso do trio, cantar, possa se tornar um imprevisto remédio não prescrevido.