A inglesa Charli XCX decidiu aceitar um desafio proposto por ela mesma: produzir e lançar um disco inteiramente feito durante o período de quarentena. Tendo em vista que a maioria dos grandes artistas, como ela, tem um estúdio em sua própria casa, a tarefa, para alguns, não parecia muito desafiadora.

No entanto, a ansiedade do isolamento é um fator novo, altamente influenciador para qualquer atividade nesse período, e não foi diferente para Charli.

O resultado do desafio foi apresentado ao mundo na última sexta, 15, quando o quinto álbum de uma das popstars mais inovadoras da geração, how i’m feeling now, chegou as plataformas de stream. O título, nesse caso, não fala mais que mil palavras mas, com certeza, introduz o conteúdo de uma coleção de canções presentes no álbum.

Charli, conhecida por ser uma figura extremamente excêntrica e festeira, quer mostrar para seus fãs como está passando sua quarentena. E não, não inclui nenhum furo de isolamento para ela ir à festas e escrever novas canções e sim, atribuir ao seu característico pop futurista uma dose de vulnerabilidade provavelmente nunca ouvida antes pelos fãs.

O disco, que começa com a eletrizante “pink diamond”, parece ser uma clássica faixa de Charli, a vida rápida, festas e carros, no entanto, os insights de quarentena da artista já aparecem na segunda canção, a delicada “forever”.

A faixa, produzida por BJ Burton e a lenda da PC Music, A.G. Cook, é dedicada ao seu atual namorado, o operador de câmera de todos os clipes desse disco, Huck Kwong, fala sobre o amor eterno que a artista terá pelo companheiro mesmo se um dia eles terminarem, além de falar sobre a dificuldade já enfreitada pelo casal quando a cantora vivia em turnês.

A pegajosa e radiante “claws”, é um dos destaques do álbum, mostrando uma Charli feliz com a sua vida romântica (essa vida que, segundo ela para a AppleTV, está renascendo, pois no passado ela só cantava sobre ter seu coração partido).

A canção sobre como ela gosta (e gosta tanto que repete esse verbo muitas vezes durante a música, mas isso não incomoda), vem logo depois da cheia de ansiedade e preocupação “forever”, mostrando os altos e baixos dos pensamentos de um isolamento, mesmo que sobre um mesmo assunto.

Outro momento de clareza é registrado na faixa “7 years”, outro destaque do projeto. Na canção, Charli reflete sobre a longa jornada que ela e o companheiro tiveram até esse momento, além de concluir que a quarentena está sendo o primeiro período em sua vida que ela está prorizando sua mente e seu corpo, ela conta pra a AppleTV.

A faixa também foi a primeira gravada para o disco, e também a primeira produzida em casa por XCX desde que ela tinha 15 anos.

A ansiedade retorna na faixa “enemy”, em que Charli reflete, baseada na famosa frase do filme O Grande Chefão Parte II, “Mantenha seus amigos perto, e seus inimigos mais perto ainda”, se seu namorado, que no momento, está mais próximo à ela do que seus amigos pode, eventualmente, se tornar seu maior inimigo.

As reflexões sobre o relacionamento de Charli são interrompidas pela saudades de seus amigos, sejam eles seus companheiros de festa, na faixa “anthems”, ou outros artistas que são, segundo ela, “as mais fodas”, como Kim Petras e Tommy Cash, em “c2.0”, segunda versão da faixa “Click”, presente no álbum Charli, lançado ano passado, e que tem originalmente a colaboração de Petras e Cash.

O primeiro álbum produzido e lançado durante a quarentena por uma artista da magnitude de Charli XCX foi acompanhado de perto pelos fãs nas redes sociais. Relatos da artista no Instagram, apresentações e conversas no Zoom, e behind the scenes dos clipes. No momento em que boa parte do planeta está buscando sobreviver da melhor forma possível, Charli não foi exceção em demonstrar sua experiência nesse período díficil.

A artista conseguiu um grande feito: transformar suas ansiedades e reflexões desse período na coisa que mais ama fazer, além de sair de sua zona de conforto e apresentando um projeto tão vulnerável mas dando continuidade a sonoridade que a colocou no mapa como um gênio do pop.