Projota não pode ser parado, mas isso você já sabe. O paulistano de 34 anos domina as paradas brasileiras desde que seu primeiro álbum de estúdio Forco, Força e Fé, de 2014, o introduziu para o mundo como mais do que um hit maker, e sim, um eterno apaixonado pela música, curioso pelas artes e um ávido artista que utiliza sua plataforma para o bem. Tais características estão mais fortes do que nunca atualmente, enquanto lança aos poucos seu novo disco, Tempestade Numa Gota D’Água.

Na última sexta, 11, o rapper lançou o clipe e o single de “Nossa Lei”, ao lado de Xamã. Em entrevista ao Mad Sound, durante um bate-papo com a imprensa, Projota compartilha as inspirações por trás da nova música e clipe, porque sua nova “era” que está por vir significa tanto para o artista, e como a brutalidade policial mudou sua vida.

“Começamos a trocar WhatsApp e desde lá trás a gente vem falando de fazer uma música, já faz mais de um ano, que a gente tava nessa de fazer o som, ‘Não, vai ser no meu disco. Não, ser no meu disco!’, era pro nosso primeiro som sair no trabalho dele primeiro, mas acabou que saiu o meu primeiro”, revela Projota sobre as raízes da parceria com Xamã, que é uma das três presentes no disco, que também conta com Cynthia Luz e Maria Rita. “Quando a música surgiu eu falei ‘Mano, essa daqui é do Xamã, não tem jeito!’ Eu tinha que colocar ele no meu disco, ele é um dos nomes que eu mais tenho ouvido nos últimos tempos, muito muito muito talentoso.”

O resultado visual de “Nossa Lei”, que conta com a direção do trio Aisha Mbikila, Helder Fruteira e Hudson Rodrigues, é descontraído, colorido e um tanto quanto surrealista, se baseando no tema da canção de estar apaixonado e viver em um universo improvável aos olhos da maioria, mas perfeito para os dois envolvidos. A ideia, surgiu inicialmente da imaginação de Projota, uma realidade que ele já está acostumado, vendo o áudio e o visual como intrísicos ao criar arte. “Eu faço as músicas, eu ouço muito as minhas músicas, eu gosto de ouvi-las até cansar delas, assim. E normalmente o cansar delas é isso, até eu conseguir criar um visual pra elas”, ele compartilha.

“Eu gravo as músicas, e fico ouvindo no avião, na estrada, na van, e pensando no clipe, as ideias vão surgindo e às vezes o clipe já tá pronto na minha cabeça. ‘Salmo 23’ era um clipe que tava pronto na minha cabeça, ‘Ombrim’ era um clipe que tava pronto na minha cabeça, e eu entreguei pra quem ia dirigir, sabe? E finalizar, roterizar aquilo pra mim de uma forma profissional. Mas a ideia já vem toda aqui, adoro filme, série sou completamente viciado, então eu acabo sendo crítico pra caramba, eu sou até chato, quando eu vou fazer clipe eu até encho o saco dos meus diretores (…) Fiquei muito feliz de ouvir você falar sobre os clipes dessa nova era da minha carreira, porque é algo que eu quero ouvir mais, a gente tá se empenhando muito nisso. (…) E o que ainda tá por vir ainda esse ano, a galera vai ficar de cara”, finaliza o artista.

“Para cada artista vai funcionar de uma maneira. Vai errar quem falar que encontrou a fórmula”, diz o artista sobre estar lançando seu novo álbum, que segundo ele, o mostra de verdade através da música, aos poucos durante a pandemia do COVID-19. “A gente vai se adaptando, vai aprendendo. Ano passado era de um jeito, esse ano é de outro. Eu penso no meu trabalho só. (…) A gente tinha um plano pra janeiro, com todo o cronograma de lançamentos do disco, dividindo ele em três partes. Essas três partes a gente acabou mudando novamente dentro da quarentena, e já rodou tudo de novo. Dentro da quarentena a gente tem uma nova forma de consumo da parte do público, então naturalmente a gente precisou adaptar a forma de entrega dessa arte.”

Ao ser questionado sobre a brutalidade policial que tem como maiores alvos a comunidade negra, Projota compartilha tristes relatos de sua própria vida, “Aonde eu cresci a gente não tinha nem voz pra falar, já tomava um tapão na orelha (…) Eu já tomei um enquadro, que a gente tava indo para uma das Batalhas de Rima, inclusive, eu, Rashid, e Max, amigo meu de infância, e a gente tava indo no centro de São Paulo, a polícia parou a gente, e eu, simplesmente… eu nunca usei droga na vida, você tem noção? Nunca experimentei droga, nunca experimentei nem cigarro, cara. Nunca cometi crime nenhum, nem nada, o meu ‘crime’ ali era parecer suspeito. E o que me fazia parecer suspeito? Estava eu e mais dois negros andando na rua. Isso te faz parecer suspeito. E aí você é parado, e mesmo você não devendo nada, não tendo droga, não acontecendo nada… ‘Eu só to indo pra uma batalha de hip-hop ali, senhor, é isso’, o policial passou a arma na minha nuca e falou, ‘Se eu quiser fazer algo com você aqui, mano, já era, ninguém vai sentir falta’, sabe, porque eu precisei ouvir aquilo? Era uma pessoa ruim se utilizando de um poder que não deveria estar na mão dela.”

“A gente precisa da polícia, ela é necessária, mas existe uma falha muito grande dentro de tudo isso (…) É algo real, é algo que machuca, e é algo que mata, destrói famílias, é preciso a gente falar sobre isso”, o rapper alerta, reforçando sua missão de fazer música que ressone com sua verdadeira essência, mas nunca esquecendo das suas raízes e de como sua plataforma e arte podem mudar, definir e fazer refletir a vida dele e de tantos.

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