É possível que Future Islands seja um nome que não te traga associações instantâneas. Mas, se você já era um habitante internético em 2014, é provável que se lembre de uma peculiar apresentação no Late Show with David Letterman. Uma performance de “Seasons” perfeitamente executada, mas que poderia ter passado despercebida se não fosse pela energia teatral e oitentista do frontman Samuel T. Herring — que deve ter deixado Rick Astley com saudades da coreografia de “Never Gonna Give You Up”.

Até aquele momento, Herring, William Cashion (baixo) e Gerrit Welmers (teclado e sintetizadores) faziam parte do maior grupo de bandas da Terra — o das desconhecidas. Mas, em um estalo de dedos, milhares de visualizações no YouTube fizeram com que o trio de synth pop saltasse para o status de queridinho dos Estados Unidos.

Bono, vocalista do U2, chamou “Seasons” de um “milagre” da música em entrevista à Rolling Stone EUA. Debbie Harry, do Blondie, declarou o desejo de fazer um dueto com Herring — o que de fato aconteceu, alguns anos depois, em “Shadows”, do mais recente e quinto disco do grupo, The Far Field (2017). Mas, apesar do estrondoso sucesso, ver fãs de outros continentes cantarolando músicas do Future Islands ainda é uma experiência instigante para a banda.

No último dia 13 de maio, o grupo sorriu ao ver isso acontecer em São Paulo. A data marcou o encerramento de uma turnê pela América Latina, com um show headliner no Balaclava Fest. “É incrível ver pessoas que vivem tão longe de nós, e que nem tem o inglês como língua principal, cantando nossas músicas”, disse Herring, em entrevista exclusiva ao Mad Sound. “Para nós, é muito importante ir a novos lugares e encontrar novos fãs. Perceber que continuamos atingindo as pessoas e que temos uma porta aberta para falar com tanta gente nos inspira, nos faz querer continuar.”

Apesar de esta ter sido a segunda passagem do Future Islands pelo Brasil, foi a primeira vez que tiveram contato com o público daqui — em 2011, o show aconteceu em um evento particular. E, mesmo com a pouca familiaridade, os norte-americanos se mostram interessados pela cultura nacional e fogem da tradicional resposta “Caetano Veloso e Gilberto Gil” quando questionados sobre música brasileira. “The Sexual Life of Savages é uma compilação que traz bandas do post-punk brasileiro dos anos 1970 e 1980. Eu amo esse disco. Ouvi muito ele na época em que formamos o Future Islands”, contou o baixista Cashion.

The Sexual Life of Savages é uma compilação que traz bandas do post-punk brasileiro dos anos 1970 e 1980. Eu amo esse disco. Ouvi muito ele na época em que formamos o Future Islands”, contou o baixista Cashion.

E, se gostam do post-punk nacional, os integrantes do Future Islands são fãs de carteirinha dos representantes britânico do movimento. Com a ascensão da banda, eles tiveram a oportunidade de conhecer um dos favoritos: o The Cure. “Um dos primeiros festivais em que tocamos foi na Suécia, e o The Cure era a atração principal. Todos estávamos enlouquecidos porque iríamos assistir ao show deles. Acabou que conseguimos mais do que isso, e eu até roubei um aperto de mão do Robert Smith. Nós estávamos muito bêbados, e subimos no palco cinco minutos antes deles. O empresário da banda tentou nos expulsar de lá, mas pelo menos eu consegui falar com o Robert”, revelou o vocalista.

Ainda que carreguem o espírito de fãs, os 12 anos de carreira do Future Islands dão à banda o status de solidez buscado incessantemente pela maioria dos artistas. Sucesso que, para eles, tem segredo na “honestidade”. “Sempre estamos tentando fazer mais com o nosso trabalho, ir além do que criamos anteriormente. Mas não acreditamos em tendências. Acreditamos no que faz sentido para nós, na sinceridade da nossa música.”

O processo de se abrir de forma honesta está exemplificado em The Far Field, fortemente inspirado pelas experiências pessoais da banda desde o estouro em 2014. “O crescimento mudou o jeito como compomos, de forma consciente ou não. Quando deixamos a estrada, em 2015, as coisas estavam muito maiores que antes. E compor músicas foi, como sempre, a maneira que encontramos para lidar com tantas emoções”, revela Herring.

Mas, em um mundo de tanto caos, há espaço para os “sentimentos puros”, do Future Islands? Eles têm certeza que sim. “Esperamos que a nossa música faça com que as pessoas ainda acreditem no amor e na esperança. Ou que ao menos ela seja uma escapatória de tudo o que elas tem que ver na TV e nos jornais”, opinou Welmers. “Estamos constantemente tentando mostrar que você pode ter compaixão, empatia, vulnerabilidade e, com isso, fazer deste um mundo melhor. É muito importante ter coração quando temos um líder nos Estados Unidos que não tem (risos).”