Fio banhado em combustível usado para a passagem de fogo de uma ponta a outra. O significado da palavra rastilho traduz a força do violão presente no novo álbum de Kiko Dinucci. Lançado pelo paulistano no dia 21 de janeiro, o som de Rastilho difere bastante de seu primeiro álbum, Cortes Curtos. No lugar das guitarras, o acústico ganha espaço no segundo disco solo do cantor e compositor paulistano.

Gravado e mixado por André Magalhães e Bruno Buarque, Rastilho remete às obras de grandes nomes da música brasileira, como Baden Powell e Dorival Caymmi. Abrindo o disco, “Exu-Odara” (canção de domínio público), introduz o protagonismo do violão que se estenderá por todo o álbum, seja em tons melancólicos ou mais alegres, mas sempre mostrando sua potência. Em “Odolé” nos deparamos com a primeira participação do álbum: o coro formado por Dulce Monteiro, Maraísa, Gracinha Menezes e Juçara Marçal. Galopes no violão antecedem a harmonia vocal do quarteto, seguida pela voz de Kiko, soando como um eco poderoso.

Apesar de ser composto majoritariamente por novas composições, Rastilho conta com uma releitura de “Tambú e Candongueiro”, música gravada com o grupo Afromacarrônico no álbum Pastiche Nagô (2008). Além disso, Kiko apresenta sua versão de “Vida Mansa” (1955), de José Batista e Norival Reis, também incorporada pelo coro feminino. Já em “Foi Batendo o Pé na Terra”, relata suas primeiras experiências em rodas de samba.

A capa elaborada por Paulo Saborido transmite a essência da faixa “Febre do Rato”, que narra em um tom sombrio as dores originadas pela injustiça social brasileira. Seguindo a atmosfera sombrosa, “Veneno” conta com a participação do rapper paulistano OGI, que divide os vocais com Juçara Marçal. 

O filme Deus e o Diabo na Terra do Sol marca presença no álbum. Ava Rocha, filha do diretor Glauber Rocha, participa na faixa “Dadá”. É realizada uma ambientação do sertão nordestino na música intitulada com o nome da cangaceira Sérgia Ribeira da Silva, que compõe o elenco de personagens do longa. Outras homenagens são elaboradas no disco, como na faixa “Marquito”, em que a voz ecoante de Kiko canta sobre Marco Antônio Brás de Carvalho. Marco foi um desenhista que se tornou guerrilheiro durante a ditadura militar e foi preso em São Paulo. Na faixa “Gada”, a homenageada é a princesa angolona Jacimba Gada, que se tornou uma guerreira após ser escravizada no Brasil.

Rastilho se encerra com a faixa-título que possui uma agitação flamejante, conduzida novamente pelo coro feminino, além da percussão da madeira do violão. 

Kiko Dinucci realiza uma explosão musical, afirmando o caráter pujante do instrumento. Assim como o violão é o destaque do álbum, Kiko novamente nos mostrou seu destaque na música brasileira atual.