Como o Mad Sound tem feito semanalmente listas com os melhores discos do ano segundo nossa redação, fica difícil superar as ótimas escolhas feitas até aqui. Para expandir ainda mais a coleção de discos selecionados, nada mais justo do que um recorte brasileiro da produção musical.

2019 foi um ano ótimo para a música brasileira, talvez muito influenciada pela péssima fase política pela qual o país passa. Afinal de contas, costuma ser do maior sofrimento que surge a mais verdadeira arte.

#5: Djonga – Ladrão

Djonga despontou do rap de BH para o rap nacional, arrebatando fãs como Marília Mendonça e Mano Brown. Em Ladrão, o rapper usa da imagética preconceituosa do criminoso que se cola no preto e no favelado. Como ele mesmo cita, o mundo em que Djonga vive (e todos nós vivemos) é como um filme do Jordan Peele, diretor de Corra! e Nós, terrores de cunho social onde o maior pesadelo é ser negro. Junta ali uma pitada de Kendrick Lamar, com discursos intricados e refrões fáceis e poderosos, e temos um dos melhores discos do ano. Uma mensagem de resistência e desconstrução.

#4: O Terno – <atrás/além>

O Terno - atras alem

Depois de RecomeçarTim Bernardes precisava se jogar no mundo. O disco <atrás/além> é o que o título informa: um olhar para o passado e um vislumbre do futuro. Existencialista em essência, o já não tão jovem músico tenta entender o que é o mundo e como fazer parte dele depois de uma personalidade formada. Os medos e vontades se misturam com o peso de uma geração esgotada de suas vivências e que precisa dar o próximo passo em direção à maturidade.

#3: Fresno – Sua Alegria Foi Cancelada

Se lá atrás o emo trazia uma mistura da vibe dark com a melancolia e a indignação com o mundo, com o passar do tempo diversos gêneros foram se apropriando dessa estética: a sofrência do sertanejo, a sad music, o trap, o lo-fi… Sua Alegria Foi Cancelada é a volta triunfal do, talvez, melhor expoente brasileiro do emo. Aqui, a banda juntou todas essas atuais influências para dar uma nova roupagem ao estilo.

É um disco sobre tristeza, num momento do mundo onde esse parece ser o sentimento que mais percorre as mentes e os corações do ser humano. Seja a tristeza amorosa, a falta de perspectiva de vida ou a indignação paralisante com os caminhos que o mundo está tomando. O emo está muito bem, obrigado.

#2: Emicida – AmarElo

Se o Djonga traz em Ladrão a revolta de classe, Emicida traz, em AmarElo, a calma e a reflexão dos momentos pelos quais essa mesma população passa. O single que traz o título do álbum é uma faixa empoderadora que funciona mais para mostrar a força do povo do que para preparar uma revolução. É como se no meio desses tempos difíceis, o rapper precisasse parar um pouco, respirar em paz e voltar a se entender como agente de mudança. É a positividade da vida – na amizade, no sexo, na família – que traz a força para lutar.

#1: Elza Soares – Planeta Fome

Para coroar um ótimo ano da música brasileira, mais uma vez vem a rainha Elza Soares dar o prazer de sua música. Mulher, preta e pobre, Elza coloca sua voz inconfundível em beats de rap, levadas de reggae e sons eletrônicos, modernizando o som tipicamente brasileiro. É um álbum sobre o país e o momento político, que a cantora encontra ecos na ditadura militar ao trazer a faixa “Comportamento Geral”, de Gonzaguinha. Planeta Fome continua a ótima fase da carreira de Elza Soares que, mais do que resistência, é um patrimônio cultural indelével para o Brasil.

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