Em 1996 uma das maiores bandas desta geração iniciava sua história. Na Califórnia, reunidos no quarto de um jovem Mike Shinoda , Brad Delson, Rob Bourdon e Joe Hahn experimentavam sons, letras e instrumentos em busca de algo que representasse a identidade deles, ainda como um grupo de adolescentes. Porém, demorou três anos até o grupo encontrar, literalmente, sua voz. Após conversar com o vice-presidente da Zomba Music, o quarteto foi apresentado ao então ex-vocalista do Grey Daze, Chester Bennington.

O momento foi crucial para a jornada da banda, na construção do símbolo musical que são atualmente. Com Bennington, o grupo não apenas estava completo, mas também havia acabado de dar vida a uma dupla de compositores que criaria hinos de força e superação — que vivem até hoje. O primeiro sinal de sucesso do Linkin Park foi imediato. Logo após o lançamento do disco de estreia Hybrid Theory (2000), a banda já havia conquistado o público e a indústria musical.

Desde então, eles lançaram álbum atrás de álbum, hit atrás de hit e, ao mesmo tempo em que criaram um relacionamento de confiança e parceria com os fãs, nunca deixaram de conquistar novos admiradores. Mas não se pode dizer que a banda só teve momentos de ouro. Em 2017, depois de ter lançado mais cinco LPs, o grupo apresentou One More Light para o mundo. Diferente dos antecessores, ele não foi bem recebido pela crítica, e nem mesmo por parte dos fãs.

Com uma sonoridade discordante de tudo o que já haviam feito, as dez faixas presentes no disco despertaram as mais diversas opiniões. Nele, foi possível observar um novo lado do Linkin Park, que, apesar incompreendido por muitos, foi defendido por Shinoda e Bennington até o último momento.

No dia 20 de julho, dois meses após o lançamento do controverso trabalho, o vocalista Chester Bennington morreu. Naquela quinta-feira, acordamos com a notícia de que ele havia se suicidado. Muitos não sabiam que o músico sofria de depressão, apesar do teor das composições dele, que alertavam sobre a situação e tinham, em alguns casos, um tom de despedida.

A perda de um ente querido, seja ele um irmão, um primo, um amigo, ou até mesmo um cantor cuja música te ajudou a superar momentos difíceis, é sempre um processo doloroso. É preciso tempo, paciência e força. Quando Bennington morreu, a Internet foi inundada por homenagens que mostravam as diversas maneiras como as pessoas estavam lidando com a tragédia.

Neste furacão de sentimentos e homenagens, uma era muito esperada pelos fãs. O que seria do Linkin Park sem Chester Bennington? O que seria de seus próprios integrantes sem a voz que os completou? Ainda não existem respostas para estas perguntas e não se sabe se um dia elas existirão. A única certeza é que a música oferece a força necessária para superar perdas e adversidades, e o primeiro a dizer isso foi Mike Shinoda.

“A música foi o jeito que eu encontrei de superar este último ano”, afirmou, em entrevista exclusiva ao Mad Sound. “Eu tentei ter coragem o suficiente para expor a situação e ser honesto com o que estava acontecendo.” Em janeiro deste ano, o músico surpreendeu todos quando lançou um EP contendo três faixas. Intitulado Post Traumatic, o trabalho é uma expressão de toda a dor que ele sentiu ao perder o colega de banda — que também era seu melhor amigo.

“Sabe, eu fui pensando ‘se ficar muito pesado ou me sentir desconfortável com alguma coisa, vou editar mais tarde’, mas eu acabei deixando tudo do jeito que estava”, conta, às vésperas de lançar o primeiro disco solo da carreira que leva o mesmo nome do EP. Segundo ele, compor estas faixas foi uma forma de terapia, que o fez perceber que poderia montar um álbum completo com todos aqueles sentimentos que muitas vezes nem ele entendia. “Acabou que tudo o que senti e tudo o que passei foi para o álbum. Eu escrevi e cantei as minhas verdades sobre o que estava acontecendo.”

Trabalhar neste disco foi um desafio e não apenas pelo tema que ele carrega, mas também por Shinoda trabalhar sozinho, algo que não fazia desde que montou o grupo na metade dos anos 1990. “Lançar um álbum é sempre especial, mas obviamente este é diferente devido às circunstâncias, é um território novo para mim. Eu nunca lancei um álbum solo e eu acho que as pessoas têm muitas perguntas sobre como eu estou, como os caras [do Linkin Park] estão, sobre o que as músicas significam.”

“Luto é um processo pessoal. O que eu sinto pode não ser a mesma coisa que outra pessoa sente, então eu precisava fazer isso sozinho. Achei melhor fazer algo meu, que expõe os sentimentos e pensamentos que são meus e de mais ninguém.”

A decisão em fazer algo seu pode ter sido a mais fácil de todo o projeto, pois expor os sentimentos da forma que ele faz em Post Traumatic foi o oposto disso. “Foi um processo difícil e achei melhor contar minha história em uma ordem cronológica”, revela, ao falar sobre o processo de criação do disco. “Ele começa com algo que surgiu de um lugar sombrio, contando como foi quando tudo aconteceu, até eu passar para algo mais leve, conforme aprendi a lidar com a situação.”

“Então as músicas começam falando sobre quando o Chester faleceu, mas na metade do disco o tom muda. A faixa ‘Crossing a Line’, por exemplo, fala sobre atravessar a linha entre o conhecido e o desconhecido e então, depois dessa música, você é levado para direções que abordam outros temas. E eu acho que isso mostra exatamente como a vida é.”

Post Traumatic chega nesta sexta, 15, mas já conhecemos grande parte da track list. Além do single “Crossing a Line”, Shinoda já lançou “Place to Start”, “Over Again”, “Watching as I Fall”, “Nothing Makes Sense Anymore”, “About You” — que conta com pariticipação de blackbear –, “Running for My Shadow” (com grandson), e a mais recente “Ghosts”. Porém a faixa que mais chama atenção quando se ouve o disco pela primeira vez é “Brooding”, a única instrumental do trabalho.

“Essa música eu fiz logo no começo, provavelmente em outubro ou novembro”, revela. “E eu a escrevi exatamente do jeito que você a escuta no álbum. Às vezes eu começo a brincar, combinar sons e coisas do tipo para me manter inspirado e fui cantando algumas coisas sob o instrumental, mas não achei certo. Percebi que a faixa estava boa daquela forma e ela cumpria seu papel sem letra nenhuma, então decidi mantê-la desse jeito. Eu acredito que ela fala sobre um momento em que a música instrumental trabalha como uma forma de terapia. É algo sutil, sofisticado e simples. Você não precisa adicionar nada a ela.”

O disco continua surpreendendo. Com convidados como Chino Moreno, K. Flay e Machine Gun Kelly, o trabalho traz faixas mais pesadas que falam sobre sentimentos sombrios e outras mais leves que transmitem força, superação e aceitação das situações que não temos controle.

“A vida é difícil e a música faz as coisas ficarem mais fáceis”, ele confessa.