No Brasil desde maio, o aplicativo da Taboom tem promovido uma nova iniciativa no jeito de fazer música ao que diz respeito à conexão entre artista e público. Através de um esquema interativo com quiz, enquetes, salas de bate-papo ao vivo e presentes virtuais, a plataforma tem permitido uma interação em tempo real de artistas independentes da cena nacional com os fãs interessados em participar do processo de criação musical.

Esse tipo de engajamento acontece através do projeto “Nada Será Como Antes” – uma série que reúne dois artistas que nunca trabalharam juntos antes para compor uma música em tempo real durante uma sessão de livestream recebendo opiniões do público e permitindo que este também faça parte do processo criativo desta canção inédita. Para isso, foi realizada uma curadoria que reuniu 10 artistas separados em duplas, que são: Tuyo e Dinho (Boogarins), Jup do Bairro e Brisa Flow, Maria Luiza Jobim e Zé Ibarra, Romero Ferro e Teago Oliveira, e Helio Flanders e Jonathan Ferr.

Cada dupla em questão recebeu o desafio de compor uma música inédita durante 4 transmissões ao vivo divididas ao longo das semanas de setembro. O resultado será reunido em um EP que terá a primeira audição aberta ao público no dia 18 de outubro, através de uma livestream de encerramento. A iniciativa permite que os fãs dos artistas em questão não só presenciem o processo de composição em primeira mão, mas também participem ativamente e opinem no passo-a-passo de criação junto a eles.

Nós do Mad Sound conversamos com Laura Damasceno, idealizadora do projeto, curadora e Diretora de Comunicação da Taboom, que é uma plataforma fundada pelo CEO Karl Loriega – filipino que morou no Brasil durante 15 anos – e o CPO, músico e fundador do selo Fleeting Media, Bruno Orsini, que é de Belo Horizonte, o que torna o aplicativo intrinsecamente brasileiro.

Segundo Laura, a idealização do projeto surgiu logo no início da pandemia, mas só encontrou o formato e a plataforma ideais agora, em 2021. Responsável pela curadoria de mais de 100 artistas durante o projeto Casa Natura Musical, ela escolheu a dedo as duplas que gostaria que participassem da iniciativa “Nada Será Como Antes”.

“Eu percebi que a gente estava vivendo um momento histórico e que eu, pelo menos, não estava vendo nenhum projeto olhando por esse viés. As empresas, as marcas, estavam investindo muito em distrair as pessoas que estavam em casa com grandes lives, a partir de músicas conhecidas, mas eu não estava vendo nenhum incentivo de produção musical sobre esse momento. E como eu acho que a música tem esse poder de ser um registro dos tempos, eu achei que isso faria todo o sentido e escrevi esse projeto,” conta Laura. “A sensação que eu tenho é como se eu estivesse na sala dos artistas participando daquela conversa. É um sentimento de companhia que eu não tinha há muito tempo.”

A colaboração entre Tuyo e Dinho, do Boogarins, por exemplo, era um sonho antigo compartilhado por ambos e que agora se concretiza perante os olhos do público. Conversando com o Mad Sound, Dinho e Lio ressaltam que se entenderam bem logo em um primeiro contato por conta de suas origens e vivências parecidas como pessoas que cresceram no interior do Paraná e tendo algo em comum que é ser “preto crente que entrou para o indie”, como diz Dinho.

“Como a gente mora em corpos parecidos, tem uma perspectiva parecida do mundo – ainda que não igual, mas complementar – que delícia, que facilidade! Eu acredito que essa seja uma espécie de parceria inaugural com o Dinho e que é bem possível que a gente faça outras milhares de coisas juntos graças à Taboom porque talvez esse encontros nunca acontecessem [sem esse projeto],” comenta Lio.

“A gente nunca explorou tanto o processo da música,” segue dizendo. “Nós estávamos conversando muito sobre como a gente só passa a fazer análises do que estamos fazendo depois da música pronta, então acredito que seja a primeira vez que vamos às redes para abrir o processo de feitura – inspiração, de onde vem, que ideias nós jogamos fora, que ideias permanecem, como o público reage. Quando você apresenta ao público uma canção finalizada, ele não tem muito o que fazer a não ser gostar ou não gostar, o que eu acho bonito, mas esse outro processo, em que a pessoa se sente autorizada, se sente parte da feitura da música, isso é de uma democracia… No começo eu fiquei um pouco temerosa porque pensei que talvez fosse um processo muito parecido com os processos publicitários, quando uma marca tem uma intenção e tudo o que você cria está sujeito a opiniões que não são a sua percepção, mas acredito que por causa do recorte do tema – nós estamos falando sobre um período que todo mundo tá vivendo – a gente se sente menos sozinho quando encontra o outro.”

O tema central abordado pelo projeto “Nada Será Como Antes” ao longo das músicas que estão sendo construídas são as angústias causadas pelo período pandêmico e o isolamento social, como uma forma de evidenciar os anseios e saudades desse momento histórico. Para Dinho, essa é uma oportunidade de encarar as redes sociais como uma outra forma de ferramenta no momento atual.

“Acho que o projeto da Taboom é um registro sobre o uso dessa ferramenta, sobre como a gente interage, como a gente conversa, como a gravação do EP foi feita, e acho que isso deixa um lastro que serve como registro desse tempo e isso é muito importante,” afirma. “Acho que impacta [nos novos jeitos de fazer música], mas impacta como um grãozinho de areia nesse todo, nesse processo que a gente está passando de viver mais com a cara na tela. Não sei se isso é melhor, pior, mais ou menos interativo do que como era feito antes. Acho que estamos fazendo e vendo e é muito legal fazer parte desse projeto e poder deixar esse registro como uma tentativa. Tomara que as próximas pessoas escutem, façam coisas parecidas ou mais ousadas, e que a música nunca perca a força de ganhar novas formas.”

O pensamento é compartilhado por Lio, que vê o uso destes novos recursos como uma forma de “romper a barreira da casa de show” futuramente e permitir que esta seja acessível também a outros públicos que não conseguem se locomover fisicamente ao local de eventos, em uma tentativa de “democratizar até que ponto a arte chega”. Além disso, ela opina positivamente sobre o contato inédito entre artista e público no momento de compor a canção proposta pelo projeto.

“Desierarquiza o processo,” explica. “Eu saio do meu pedestal de artista inquestionável e as pessoas estão ali interferindo na produção. Eu não estou prestando um serviço para o público, nós estamos criando juntos porque a gente tá passando pelas mesmas coisas. Nós não invertemos as coisas, tipo ‘agora quem manda é o público’. A gente convida o público para participar do processo junto com a gente e isso ajuda a desmistificar uma coisa que atrapalha bastante o processo de criação, que é o endeusamento do artista, a inquestionabilidade. Sinto que isso está bem presente nas redes de uma maneira meio trem desgovernado, mas sinto que talvez a Taboom tenha pensado em um jeito inteligente de fazer com que a gente consegue desierarquizar as coisas. Todo mundo se sente capaz de criar, de inferir, sem que o artista perca o controle da obra e sem que a gente fique refém do gosto pessoal de cada um.”

Dinho, que com o Boogarins já promovia oficinas interativas para incentivar a composição de músicas autorais no público, compartilha de uma noção parecida. “Nesse projeto da Taboom a gente tem a liberdade de fazer o que quiser e meio que só transmitir mesmo. Acho que o aplicativo dá essa oportunidade das pessoas participaram e os artistas decidem, fazem esse filtro,” reflete. “Fico curioso para saber o que as pessoas que estão assistindo estão pensando e se isso vai mudar a percepção das pessoas da música. Porque a nossa percepção de criação muda, mas ao mesmo tempo eu não quero que mude. Quero fazer a música com o coração, igual faço em outro formato. Me pergunto se o jeito que as pessoas escutam vai mudar e espero que mude para melhor.”

A última série interativa de livestreams acontece entre os dias 28 e 30 de setembro e pode ser acompanhada diretamente através do aplicativo da Taboom – disponível para Android e IOS. Confira o cronograma:

Encontro 4:
28/09 (terça): 21h: Helio Flanders + Jonathan Ferr
29/09 (quarta):
18h: Jup do Bairro + Brisa Flow
19h: Romero Ferro + Teago Oliviera
20h: Tuyo + Dinho Almeida
30/09 (quinta): 20h: Maria Luiza Jobim + Zé Ibarra
Live de encerramento (audição das 5 músicas): 18/10