Formada por Yvan Romeiro (voz, guitarra e teclado), Dennis Ragonha (baixo e voz) e Ronaldo Ragonha (bateria), a Cyanogaster é um trio paulista da cidade de Guarulhos que chega para enriquecer a cena indie rock nacional.

Acrescentando elementos do indie tropical e certa psicodelia em suas músicas, a banda cria uma sonoridade sonhadora e viajante dentro de suas canções com letras carregadas de subjetividade e que pintam cenários cheios de questionamentos, incertezas e emoções. Seu EP de estreia, Liquidifiqueador (2017) já trazia muito do mistério que permeia as composições e a base sonora da Cyanogaster quase como um terceiro elemento. Tudo é meio misterioso.

Formada em 2017, a banda contava inicialmente com a presença do guitarrista Guilherme Nascimento, que não faz parte da formação atual. Em entrevista ao Mad Sound, Yvan, Ronaldo e Dennis (que são pai e filho) falam sobre como tem sido se redescobrir enquanto um trio. 

“Nós somos bem diferentes e enxergamos tudo musicalmente de modo diferente. Os três ouvem uma linha de guitarra e pensam três coisas diferentes, então a gente tenta direcionar isso e chegar em um lugar comum,” conta Dennis. “O produto final acaba sendo melhor do que o que cada um pensou individualmente.”

Quanto à sonoridade, Yvan descreve o som da banda como “muito colorido”. Ele também reflete sobre ter uma abordagem mais sinestésica em relação à música, enquanto Dennis e Ronaldo são mais técnicos. Apesar do comentário do amigo, Dennis revela que uma de suas grandes inspirações é o filme As Vantagens de Ser Invisível (2012), e reflete: “Acho que todas as minhas músicas tentam capturar a mesma energia do filme.”

O nome Cyanogaster é uma junção da cor ciano (um tom específico de azul) e uma noção “gástrica” associada ao estômago. De acordo com Yvan, a ideia surgiu de uma notícia sobre uma espécie de peixe encontrada no Amazonas que tinha coloração transparente e um visível estômago azul.

Enquanto o azul tem uma conotação relacionada à melancolia e à tristeza pela teoria das cores, a simbologia do estômago tem base biológica. “O que me chamou a atenção é que o estômago é essa central dos sentimentos,” diz Yvan. “Nós sentimos muito as coisas no estômago. Quando estamos apaixonados sentimos borboletas no estômago, quando estamos ansiosos sentimos gastrite, tem toda essa coisa.”

Tanto a melancolia quanto os sentimentos são explorados de uma nova forma no single mais recente, “Palpitare”. Demonstrando uma evolução sonora e maior maturidade musical, a Cyanogaster inicia uma nova fase trazendo elementos do dream pop e do shoegaze para sua música, dando mais criatividade para o som tradicional do indie rock. Quando perguntado sobre o que difere a Cyanogaster de outras bandas da cena, Yvan responde:

“Eu acho que nós estamos a serviço da arte e da música, mais do que procurando por identificação, o que, sem querer, acaba gerando mais identificação nas pessoas. Nós estamos nos permitindo nos descobrir em um momento em que muitas bandas estão tentando angariar mais fãs. Não que a gente não se preocupe com isso, mas acho que não é a tônica pra gente. A gente ama o que faz e a gente faria mesmo se não tivesse uma entrevista [para dar].”

Nesse momento, a banda vive uma fase que eles chamam de “inverno tropical”; uma tentativa de explicar suas intenções “tanto musicais quanto conceituais”, e também uma maneira de “celebrar a melancolia”. O trio pretende lançar mais quatro singles como parte desse processo, que se iniciou como uma “quebra de relacionamentos” advinda da pandemia. Com determinação, a banda promete um repertório totalmente novo enquanto tenta se redescobrir e se reinventar com um integrante a menos.

Ainda não se sabe o que o futuro guarda para a Cyanogaster, mas o presente se parece com este que agora dividimos enquanto coletivo: meio turbulento, mas também promissor.

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