A banda holandesa DeWolff desafiou a pandemia trazendo um novo álbum carregado de um bom rock, muita criatividade e uma interação orgânica e intensa com seus fãs. Para contar mais sobre esse projeto e a trajetória da banda, o vocalista Pablo Van den Poel conversou com a gente num papo super bacana. Leia abaixo!

MadSound: Vocês tocam desde quando eram crianças, como a banda começou? 

Pablo Van den Poel: Eu comecei a minha primeira banda quando tinha 11 anos e aos 14 anos eu tinha outra banda que já tocava nas rádios. As coisas iam bem, mas a gente estava presa na pegada do AC/DC e tinha a vontade de expandir, tocar Jimmy HendrixThe Doors e Pink Floyd. Naquela época, eu e meu irmão Luka Van de Poel (baterista) fazíamos várias jams em casa, quando conhecemos o Robin Piso. Éramos bem jovens e fazíamos parte de um coral de igreja. Robin veio para tocar baixo e mais tarde ele começou a tocar piano e os encontros se tornaram cada vez mais frequentes. 

MS: De onde vinham as influências de vocês? 

PVDP: Quando eu tinha 9 anos só escutava Metallica e aos meus 12 anos, meu pai me deu meu primeiro CD do Jimmy Hendrix. Ele achou que, como eu tocava guitarra, eu deveria escutar um dos melhores guitarristas de todos os tempos. Então, comecei a escutar aquele som e comecei a amar e ficar obcecado. Aos poucos, tentava reproduzir e ouvir outras bandas.Até hoje gosto de descubrir bandas novas. 

MS: Vocês são muito famosos na Holanda, como conseguiram sobreviver a tantas mudanças na indústria da música nesses tempos?

PVDP: Desde quando começamos, muitas coisas mudaram, não acho que foram grandes mudanças, porque naquela época já era possível fazer o download das músicas. Acho que a indústria da música hoje está melhor do que 13 anos atrás.

Financeiramente é mais difícil, pois as bandas hoje ganham dinheiro através de shows ao vivo, que é o nosso principal jeito sobreviver. Com a pandemia, as coisas mudaram drasticamente. A gente teve que procurar por outros meios de sobrevivência e criar novas ideias. Mas como somos muito flexíveis, gostamos de tentar novas formas de criação. 

MS: Qual foi o segredo da banda fazer tanto sucesso na Holanda?

PVDP: A gente começou muito cedo e as pessoas se impressionavam com a gente adolescente tocando músicas dos anos 60, eles achavam inacreditável e curioso de como a gente havia descoberto essas músicas. Se começássemos hoje seria mais difícil. Éramos muito jovens, tivemos nosso “momento” e tínhamos sempre novas músicas, o que fazia com que a gente sempre ficasse no spotligh.

MS: Como você descreve seu som para o público brasileiro?

PVDP: A gente toca um som que a gente ama com influencias de Led ZeppelinDeep Purple, o clássico do rock. Com o tempo começamos a ouvir mais soul music e músicas americanas de raiz. Com isso, a gente combinou o rock com soul e blues e criamos o nosso próprio estilo, misturando todos esses elementos e fazendo um som lindo e construindo nossa linguagem

MS: O último álbum de vocês, Wolffpack, foi super colaborativo com grande participação dos fãs. Como surgiu essa ideia e como foi o processo?

PVDP: Com o surgimento dessa pandemia a gente não pôde mais fazer shows, então pensamos em fazer um álbum e começamos a pensar nisso em março 2020. Num processo normal nos teríamos algumas músicas prontas em julho, teríamos que passar por vários processos e pensamos: “Como fazer um álbum com a participação das pessoas? Não apresentá-lo apenas quando terminássemos, mas fazer com elas também fizessem parte de todo o processo de criação de uma música?” Então, tivemos a ideia de ter uma relação mais próxima com aqueles que assinassem nossas novidades e receberiam três músicas a cada duas semanas. E a partir disso o processo começava: a gente sentava, escrevia, gravava e mandava essas três musicas para eles e nas próximas semanas mais músicas de novo. Fizemos isso por algumas semanas e tivemos muitas músicas novas que não conseguiríamos lançá-las no vinil, por não caberem, então pedimos para nossos fãs escolherem as 10 melhores e assim, montamos o tracklist para o álbum.

MS: Foi um processo bem democrático e bem interativo, como foi isso para você?

PVDP: Foi muito divertido e foi muito legal receber as reações das pessoas através de e-mails, que era a forma como enviávamos as músicas. O álbum acabou sendo divulgado boca a boca por um longo período e de forma bem exclusiva e em primeira mão para alguns fãs. Normalmente, quando a gente lança um álbum em vias normais a gente só tem uma semana de atenção, é ótimo, mas acaba logo e as pessoas acabam esquecendo rápido também. Com essa forma de assinatura que criamos, a gente ficou constantemente nas cabeças das pessoas e foi bem divertido.

MS: Quais foram os desafios nas criações das músicas durante a pandemia? 

PVDP: No começo da pandemia fiquei bem assustado com toda a situação e ver que todos os shows foram cancelados. Mas ao mesmo tempo pensei: “tenho mais tempo para escrever”, o que foi maravilhoso. O desafio foi que como as pessoas estavam pedindo muitas músicas, estávamos produzindo muito, tínhamos uma pressão de tempo e foi de certa forma estressante. Mas sabíamos que podíamos escrever muito rápido e tomar decisões rápidas. Estávamos sendo testados se podíamos escrever uma boa música com tanta rapidez e conseguimos. 

MD: Quais foram as inspirações para vocês?

PVDP: Como não estávamos fazendo nada, muitas das inspirações vieram de filmes e livros. Em 2019, viajei com a minha esposa para Memphis e fomos conhecer igreja do pastor gospel Al Green (o mestre da soul music americana), que existe desde a década de 70 e também tentar encontrá-lo, que coincidentemente também estava por lá. Quando chegamos, estava rolando muita música e parecia um show de rock com cantores gospel. Sentei e por alguns segundos chorei muito porque era tudo muito lindo.  Saí de lá achando que era música mais linda que já ouvi em toda a minha vida. E como tinha certa religiosidade e não tinha muito conhecimento sobre o cristianismo, pensei que ler ao Velho Testamento pudesse entender mais de onde vinha aquela inspiração. Claro que se não fosse a pandemia, não leria por não ter tempo, mas usei essa parte da Bíblia como inspiração para algumas das minhas canções. 

MD: E planos para tocar no Brasil?

PVDP: Até agora não sabia que tinha pessoas no Brasil que conheciam o nosso trabalho, é muito legal saber disso. A ideia de estar na estrada de novo e tocar para muitas pessoas ainda está muito vago na minha cabeça, aqui na Holanda não temos planos ainda, estamos no escuro, mas quando chegar o tempo certo vamos querer fazer shows como loucos e com certeza a América do Sul vai fazer parte dos nossos planos, porque estamos recebendo mensagens de pessoas de lá que ouvem nossas músicas. Estou muito ansioso para tocar no Brasil e conhecer esse lindo país, parece ser um dos lugares mais divertidos para se tocar no mundo.

Apesar da pandemia limitar os shows ao vivo, a banda DeWolff vai fazer uma maratona de shows online que vale a pena conferir. Serão 9 lives, 9 álbuns em 9 dias, eles vão tocar mais de 100 músicas no evento Nonagon Marathon, do dia 14 a 23 de março.

Ouça agora o novo álbum Wolffpack: