Em uma missão pessoal em busca da liberdade e da permissão, o português Hélio Moraes compartilha com o Mad Sound sobre um novo momento em sua carreira: o lançamento de seu primeiro disco solo, Murais, e com isso, a exploração das possibilidades que a música e a alma podem trazer.

Com lançamento pela Sony de Portugal, e do selo do celebrado festival Primavera Sound, o Primavera Labels para o resto do mundo, o primeiro projeto solo do baterista das bandas Linda Martini e PAUS, se distancia dos ritmos criados pela experiência de Hélio com as bandas, em busca de um autoconhecimento através da ressignificação da música em termos técnicos e pessoais. Missão completada com sucesso através da impecável produção de Benke Ferraz, do Boogarins. “Não queria soar rock, ainda que ao vivo ganhe essa dimensão. Daí ter encontrado o Benke, que leu muito bem a minha intenção”, revela MURAIS. “Eu passei as músicas bem simples para ele e falei que poderia modelar da forma que bem entendesse. Como um quadro bem simples em que alguém passa a mão e borra; só que o borrão é precisamente o que eu buscava. No sentido em que queria jogar com a plasticidade dos instrumentos. Uma bateria pode não soar a uma bateria, pode se confundir com um baixo. Uma voz pode se confundir com uma guitarra e por aí adiante. Me interessava muito a forma de brincar com as texturas típica de Benke. O trabalho que ele fez foi incrível. E pensámos música por música, deixámos que cada uma controlasse a sua própria narrativa. Talvez seja por isso que consegue encontrar referências tão distintas, mas com um corpo comum unificador. Aí é responsabilidade de Benke.”

O leque de texturas e inspirações que podem variar da PC Music até o indie e do jazz, transporta o ouvinte para o curioso e fascinante mundo criado por Hélio e Benke, em que apesar dos variados impulsos do projeto, traz o fluxo e experiência detalhados à mão. “Eu tinha pensado num alinhamento. Mas Benke surgiu com outro e tinha muita razão. Além de que ele já tinha em mente essa coisa de faixa-tema que é ‘Benvindx’ e ‘Acordadx’. São duas músicas criadas a partir de elementos de ‘Até de Manhã'”, conta. “Então ficou decidido que o disco começaria com essa introdução e também que ‘Acordadx’ serviria de ponte entre os elementos de ‘Até de Manhã’ com a faixa mais beat que é ‘Oi Velho’. Ainda tinha uma outra música que não estava se encaixando, então saiu. Se não está encaixando, mais vale sair fora. Não tenho muito essa coisa de apego desmesurado.”

“A obra, como um todo, é mais importante que uma só música. E foi com essa perspectiva que abordámos o alinhamento. Tem artista que prefere botar os singles todos no início. Mas eu – e julgo que Benke também – tenho carinho pelo todo. Foi assim que os dois primeiros singles – ‘Não Sou Pablo, Nada Muda’ e ‘Catatua’ – foram parar, justamente, no final do disco. O importante era que fosse uma viagem que fizesse sentido e que respirasse quando era para respirar. Acho que conseguimos isso e estou muito feliz”, finaliza.

Viagem esta que além de Benke traz também outros dois brasileiros: Giovani Cidreira, em “Marialva”, e Paes, em “Oi Velho”. Mas quem acha que Murais foi o suficiente para Hélio compartilhar suas obras solo com a cena musical brasileira, pode pensar novamente. “A verdade é que eu venho consumindo muita música contemporânea vinda do Brasil. Além de que tenho uma série de afetos criados com artistas brasileiros. Isso acaba influenciando quando você começa pensando em possíveis convidades para essa ou aquela música. Então acho que será muito natural que possa acontecer. Além das pessoas talentosas com quem tive o privilégio de colaborar nesse disco, tem ainda um monte de artistas que admiro muito. De Maria Beraldo, Kastrup, Dinho e Edgar (quatro artistas com quem colaborei no EP dos PAUS LXSP) até Jadsa, passando por Tulipa Ruiz, Luedji Luna, Rod Krieger, Josyara, Aiye, Duda Brack, O Terno, Jaloo, Bemti, sei lá. Tem um monte de artistas diferentes que me inspiram muito. Por vezes pode nem ser a obra como um todo, mas posso somente admirar uma voz e gostar da ideia de a imaginar num outro contexto, sabe? A vida é isso, é a gente ter liberdade para se jogar, sem necessariamente estar muito preocupada em cumprir com expectativas de qualquer tipo, incluindo de estilo”, finaliza.

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