“A partir da troca com o OUTRO reconhecemos aquilo que nos habita e criamos conexões. Assim se deu esse projeto. Que esse movimento perpetue e espalhe!” Essas foram as palavras escritas à mão por Nathalie Alvim em uma ação para promover seu primeiro EP, Outro, que foi lançado na última sexta-feira, 18.

O caminho até aqui foi extenso e fluido como o movimento do mar que ela menciona na faixa “Azul Salgado”. Seu nome chamou atenção pela primeira vez há quase 10 anos, em 2014, quando tentou pela segunda vez uma participação no programa The Voice Brasil e conquistou a aprovação dos quatros jurados com uma versão potente de “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin.

Desde então, a trajetória de Nathalie Alvim seguiu uma importante jornada pessoal, mas não tão exposta aos olhos do público. Em entrevista para o Mad Sound, ela garante que continuou compondo durante todo esse tempo e que sua passagem pelo reality foi “uma grande escola” e um passo importante de seu amadurecimento enquanto pessoa e artista.

Os primeiros contornos de Outro foram delineados em 2019, com o lançamento de “Bagunçada”. A faixa fala sobre o estado de confusão que precede o momento de grandes escolhas e novos recomeços. O dilema de ter que decidir deixa mesmo tudo meio bagunçado por dentro, até que a decisão finalmente é tomada. “Eu sofro, digo não / Mudo, cresço / Acalmo, vivo”, narra Nathalie durante a ponte.

A canção veio em um momento de transição, quando foi morar sozinha após o fim de um relacionamento. Ela descreve a composição da faixa como um momento de certeza sobre iniciar sua carreira na música. “Eu já estava começando com o autoral e ‘Bagunçada’ veio no metrô”, conta. “Eu compus o refrão e a primeira parte inteira no metrô, batucando e gravando o áudio no celular. Era uma coisa que eu fazia muito quando pegava metrô.”

Nathalie Alvim em foto de divulgação do ‘Outro’. Créditos: Bag Moreno/Reprodução/Facebook

Todas as composições de Outro são assinadas por Nathalie Alvim com exceção de “Diáspora”, que foi escrita por seu amigo de longa data, Ivan Liberato. A faixa ganhou destaque por conta de uma ação realizada por Nathalie com a imprensa e amigos, na qual o Mad Sound esteve presente. Antes do lançamento oficial, a música foi reproduzida em estúdio para que alguns convidados pudessem ouví-la na tecnologia de imersão auditiva Dolby Atmos e ter sua reação documentada em vídeo. 

A faixa foi mixada pelo estúdio ANZ Immersive Audio e ganhou nova profundidade sonora. Rica em elementos sonoros, assim como o restante das músicas do EP, “Diáspora” tem um caráter mais experimental e menos facilmente rotulável. Nas palavras de Nathalie, ela “brinca com o espaço” – característica que pôde ser melhor explorada através da disposição de som em 360º. Os assinantes da Apple Music podem conferir essa experiência diferenciada de som em vários outros projetos disponíveis na plataforma. 

Sobre a oportunidade de ver as diferentes reações das pessoas ao ouvirem a música em estúdio, Nathalie disse: “Quando a gente compõe algo ou constrói algo, cria algo, é engraçado demais entender que quando a gente entrega pro mundo já não é nosso. E aí cada um vai se apropriar daquilo de um jeito. Aquilo vai chegar em cada um e vai tocar cada um de um jeito. E poder ouvir as pessoas falando sobre isso, sobre as diferentes sensações, sobre o que cada um imagina com a música… É engraçado isso.”

O sentimento é semelhante com o lançamento de Outro. Com a chegada da irreverente e ácida “Pinga com Limão”, parceria com Daniel Lotoy, Nathalie completa esse projeto que vem crescendo e se construindo há quase três anos. A figura desse “outro” que é tão mencionado, se traduz na dualidade das coisas, nas reflexões e questionamentos que originam de experiências vividas. “A gente não é nada sem o ‘outro’. Outra reflexão, outra visão. Esse é o ‘outro’”, explica a artista.

Com seu EP de estreia, Nathalie Alvim se apresenta como uma poderosa voz da nova MPB. Trazendo com leveza influências que vão desde o pop rock até o samba, ela cria em Outro uma característica quase etérea, um som que ela descreve como “suspenso”, e conclui falando sobre o que aprendeu com o próprio EP depois de finalizar o projeto.

“Eu descobri muita coisa depois, com essa caminhada do autoral”, diz. “Eu sei que não existe um só caminho pra essa coisa do ‘criar algo artisticamente’, e também não tem um certo e errado. Tem como cada um vai fazer essa pesquisa e essa pesquisa pode partir desde a sua terapia até uma pesquisa mais concreta, de história. Ela é uma junção de tudo. Ela é a soma da nossa vida, do que a gente vive. Eu acho que o artista precisa viver para ter o que dizer.”

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