Tierra Whack – não, seu nome não foi criado a partir de um gerador de nomes de rappers aleatoriamente, tal como fez Post Malone. A autenticidade da artista que irei falar hoje, vem, literalmente, desde seu berço.

Nascida na Filadélfia, a leonina de 24 anos tem como maior ídola a cantora Lauryn Hill. E, apresenta narrativas com visuais excêntricos, letras centradas em suas múltiplas personas e seus sentimentos de modo vulnerável, exposição essa não vista tão frequentemente no mundo do hip-hop

Tudo isso está presente em seu primeiro trabalho: Whack World (2018). Um álbum visual dirigido por Thibaut Duverneix e Mathieu Léger, feito para tempos de conteúdos rápidos e impactantes: quinze músicas, quinze minutos, quinze estéticas diferentes. 

Os assuntos nesse projeto narram desde acontecimentos pessoais, como aceitar e amar seu próprio corpo, em “Fruit Salad”, ter que se afastar de um amigo que queria mais do que amizade com a cantora, em “Cable Guy”, cantar sobre a morte do cachorro dela como uma metáfora da morte de um amigo próximo, um dawg, gíria comum na língua inglesa.

Em “Pet Cemetery”, cujo título faz referência à icônica canção do Ramones, “Pet Sematary”. Até reflexões sobre seu estilo e flow como rapper, ao comparar seu jeito, forte e independente, com frango frito apimentado, em “4 Wings”, e reconhecer seu talento em “Pretty Ugly”. 

A autoconfiança exibida nas faixas de Whack, no entanto, não a acompanharam desde sua infância. Uma poetisa nata, porém, tímida e insegura, ela foi incentivada por um tio à acrescentar batidas a seus poesias. A partir disso, se tornou Dizzle Dizz, e impressionou a cena de rap local e até o rapper A$AP Rocky com seu freestyle e flow. Ainda em sua cidade natal, na época do lançamento de seu primeiro álbum, a artista trabalhava como porteira quando não estava gravando. 

Voltando para os dias de hoje, Tierra deu grandes passos e fez parte da trilha sonora de O Rei Leão, produzido por ninguém menos que Beyoncé, na faixa “MY POWER”. Lançou a ótima “Unemployed”, que conta com mais um visual bem “Whack”: a artista cozinha e serve batatas com vida própria.

Recentemente, ela integra a faixa “Copy Cat” com a também excêntrica Melanie Martinez. A artista, por fim, iria integrar a line-up do Festival GRLS, que ocorreu nos dias 7 e 8 de março em São Paulo, no entanto, por motivos pessoais, cancelou sua apresentação, sendo substituída pela cantora Ludmilla.

Em tempos que discutimos questões e estereótipos de gênero e cor, Tierra parece ultrapassar qualquer obstáculo sobre o que pode ser esperado dela, tal como que uma mulher negra sempre tem que ser forte, ou que mulheres não podem ser muito sensíveis, nem muito confientas. Whack, claramente, não poderia ligar menos para tais expectativas, pois, ela se permite sentir como a canção “Liability”, de Lorde, se achando um fardo para todos, e, em outros, “Boss Ass Bitch” do grupo PTAF parece ser seu hino. 

O mundo de Whack é colorido, um tanto quanto maluco, mas, ao mesmo tempo, relacionável e íntimo. Conseguindo, a partir disso, um grande feito: Criar seu próprio planeta em meio ao universo da indústria musical, e, dessa forma, inspirando outras mulheres a fazer o mesmo. 

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