Aos 28 anos, Softee é uma das personas mais interessantes da música pop atual. Suas músicas misturam referências dos anos 2000 com synths dos anos 80 e em seus videoclipes ela é uma figura sensual, confiante, excêntrica e até mesmo teatral.

Conversando com o Mad Sound, entretanto, ela é Nina Grollman: simpática, sorridente, divertida e completamente honesta e aberta a falar sobre os mais variados assuntos – seu novo álbum, suas referências musicais, o amor pelo teatro e pela música e as diferenças de gênero na indústria musical.

Softee se encontra a poucas semanas de lançar seu segundo álbum de estúdio, Natural. Sucessor do disco de estreia Keep On (2020) e do EP Slow Melt (2019), o novo projeto chega em 12 de maio e traz um retrato honesto de um período específico na vida da artista. 

Depois de ter passado por um término “intenso e devastador” em 2020, Softee surpreendeu-se ao se apaixonar por outra pessoa pouco tempo depois. Apesar de inesperado, o acontecimento também pareceu absolutamente natural, dando origem a uma música ainda não-lançada chamada “Natural” e também ao conceito do álbum. 

“É um ciclo natural, mesmo que às vezes seja turbulento e intenso,” explica Softee. “Desilusão amorosa e [encontrar] um novo amor é algo cíclico que acontece, e acontece na natureza também. Então essa foi a inspiração para o nome do álbum e o álbum em si é, na verdade, cronológico. Começa com o meu término e durante o disco você acompanha essa progressão.”

Antes mesmo de passar pelo término que acabou moldando o conceito do álbum, Softee tinha uma coisa em mente: ela queria fazer um álbum que lembrasse a parceria icônica entre Justin Timberlake e Timbaland nos anos 2000. “Queria fazer a versão gay do Future Sex/Love Songs”, conta. A intenção era fazer um disco sexy de dance pop carregado de músicas sobre sexo, mas passar por uma desilusão amorosa alterou um pouco a rota do disco.

Mesmo com um contexto diferente em mente, as influências iniciais permaneceram. Em uma playlist feita por Softee juntando as referências para o Natural, é possível ver nomes como Ciara, Nelly Furtado, Lady Gaga e Rihanna. Seu videoclipe mais recente, do single “Isn’t Enough”, mostra a artista interpretando três personagens diferentes em uma referência ao videoclipe de “Get Right”, da Jennifer Lopez.

Mas para além desses artistas que fizeram parte de sua adolescência, Softee também tem grande paixão pela música dos anos 80 e sempre encontra um jeito de inserir um pouco desse som em suas canções. “Sou doida por synths, amo muito”, admite. “E eu adoro o som bombástico dos anos 80. Amo o quão assumidamente teatral a música dos anos 80 pode ser e o quão empolgante ela é. E esse som tem tanta influência que eu não consigo evitar que vaze um pouco em tudo o que eu faço.”

A teatralidade é parte intrínseca da arte de Softee porque sempre foi uma parte crucial da existência de Nina. A atuação se apresentou na vida de Nina antes que a música se tornasse uma realidade e sua paixão pelo teatro levou-a a alcançar altos patamares, como se apresentar na Broadway com Denzel Washington em The Iceman Cometh

A música, porém, se tornou uma realidade algum tempo depois, quando ela percebeu que mesmo estando em um lugar de prestígio na atuação teatral, não se sentia criativamente satisfeita.  “Comecei a me apoiar mais na minha escrita e na música e fiz uma escolha. [Pensei] ‘Quer saber? Vou levar isso a sério. Vou realmente me colocar no mundo enquanto artista ao invés de tratar isso apenas como um hobby.’ E depois disso as coisas meio que se encaixaram,” conta.

Hoje ela usa de suas habilidades teatrais para adicionar uma camada extra de sentido em suas músicas e videoclipes, podendo explorar o melhor dos dois mundos dentro do universo de Softee. “Acho importante ter o equilíbrio entre [cantar e atuar] porque acho que se eu fizesse só um dos dois o tempo inteiro eu ficaria muito infeliz”, admite.

Começar uma carreira na música não foi algo que aconteceu da noite pro dia e Nina admite que enquanto Softee ela se sente muito mais confiante e magnética do que no dia-a-dia. Mas quanto mais ela se inseria na cena musical, performava, escrevia e colaborava com outras pessoas, mais confiante ela se tornava, até perceber: “Eu tenho ótimos instintos. Eu tenho um ponto de vista bastante distinto. Eu sei o que eu gosto, o que eu quero e sei que sou boa nisso. Eu só precisava dessa fé em mim mesma e da experiência. Só precisava continuar me movendo.”

Nina também precisou dessa confiança e obstinação quando decidiu começar a produzir suas próprias músicas. Estando em uma indústria que é predominantemente dominada por homens, ela conta que é “crucial” para ela ser capaz de produzir suas próprias músicas – coisa que ela já vinha fazendo com músicas de garagem desde o Ensino Médio, mas ela ainda duvidava de sua capacidade nessa área.

“Quando eu comecei, eu dependia de muitos caras para produzir e eu notei que estávamos tendo muitos conflitos e o resultado nunca era o que eu estava visualizando,” conta. “Até que eu pensei ‘Por que estou esperando que alguém abra a porta pra mim? Por que eu não vou lá e chuto a porta? O que está me impedindo de abrir minhas próprias portas e fazer isso sozinha?’.”

Ela reflete sobre como mulheres são condicionadas a se sentirem inseguras em assumir funções que não dominam completamente, enquanto homens assumem cargos e responsabilidades sem se preocupar em preencher todos os requisitos ou em ser perfeitos no que fazem.

Sobre as diferenças de oportunidades e níveis de conhecimento entre homens e mulheres na indústria, Softee admite que pode ser tentador para uma mulher aderir aos conselhos da internet de “agir como um homem”, mas que, para ela, esse não é o caminho porque a maneira como os homens fazem as coisas “também não é necessariamente a melhor coisa.”

“Acho que precisa de equilíbrio,” reflete. “Como mulheres, é claro, nós fomos condicionadas a duvidar de nós mesmas, nos censurar, nos diminuir, e eu estou tentando desfazer isso. Mas também estou tentando reconhecer que isso em si também é algo bonito porque você sempre está pesando o outro lado, você está pensando no outro lado [de uma situação] e nas outras pessoas. Você leva isso em consideração também. Não é só ‘eu, eu, eu, eu, eu’.”

Às vésperas do lançamento de Natural, Softee também tenta navegar as águas traiçoeiras das redes sociais como uma maneira de promover seu trabalho. Ela é bastante ativa em redes como Instagram e TikTok, mas admite que, além de ter uma qualidade viciante, essas plataformas podem fazer com que um artista sinta que precisa “se vender” em nome de conseguir uma maior divulgação para a sua música.

“Não estou tentando ser influencer ou necessariamente viralizar, mas viralizar ajudaria nas vendas, entende? É muito esquisito. É algo muito baseado no comércio e tentar ser autêntico nesse meio pode ser complicado e não trazer a melhor das sensações. Então ainda estou aprendendo como fazer isso de uma maneira que faça sentido para mim”, comunica.

Por último, a artista fala sobre sua vontade de vir ao Brasil e a presença dos fãs brasileiros online, prometendo uma visita ao país assim que possível: “Eu adoraria ir ao Brasil. Está na minha lista de viagens desde sempre. Eu morreria para fazer shows no Brasil e definitivamente notei muito engajamento de vocês online e é muito empolgante.”

“É muito animador ver esse alcance e eu amo conhecer fãs brasileiros,” continua. “Vocês são as pessoas mais calorosas, engajadas e energéticas e eu definitivamente estou planejando ir para a América do Sul em algum momento e preciso passar pelo Brasil. Está no topo da minha lista, com certeza.”

Tags:
Categorias: Descubra Notícias