Vacilant é uma banda da cena alternativa do Ceará. Formada por Yuri Costa, Clau Aniz, Felipe Couto, Tuan Fernandes e Tais Monteiro em 2017, a banda lança seu segundo álbum, Tempo Bravo.

Os integrantes da Vacilant trazem à vida com Tempo Bravo os aprendizados de uma residência artística feita na escola Porto Iracema das Artes. A multi-instrumentista Maria Beraldo foi a mentora da banda durante o período. 

Como produto final, Tempo Bravo chega em mãos aos ouvintes como um álbum visual, com a colaboração de diversos talentos emergentes do audiovisual cearense. A parte audiovisual surge em diálogo com o disco. A direção e produção foi realizada por dois integrantes da Vacilant, Taís Monteiro e Tuan Fernandes, que também assinam a montagem. 

Além disso, entre os artistas convidados, amorfas, participa do vídeo de “Serviços Essenciais”, e Insira, no vídeo de “Sopa de Ossada”. As imagens vêm de arquivo de internet, inventários pessoais, experimentações de dispositivos cinematográficos em projeção em outras superfícies e cinema 3d expandido. 

Em entrevista exclusiva ao Mad Sound, Yuri Costa falou sobre como pensar visualmente nas músicas sempre foi importante para a concepção geral de Vacilant. “Tanto Taís quanto Tuan trabalham com audiovisual, e mesmo Clau, Felipe e eu também atuamos nesse meio fazendo trilhas sonoras e tratamento de som”, disse.

De acordo com Yuri, o projeto se tornou naturalmente um domínio com multilinguagens, procurando expandir as narrativas existentes dentro de cada canção e as exportando para o campo visual. “Ter um álbum visual e expandir a narrativa das músicas para vídeos sempre foi um interesse nosso. Com o incentivo da Escola Porto Iracema das Artes, conseguimos finalmente ter recursos para executar essa vontade”, explicou.

Ainda, ele comenta que a banda teve a oportunidade de trabalhar com algumas de suas grandes influências. Uma delas foi, de fato, a Maria Beraldo, durante a tutoria. Além disso, Vacilant fez uma versão própria de uma música do Catatau

Entre outras inspirações, ele destaca: “da música eletrônica, Flying Lotus, Aphex Twin e Cadu Tenório. Projetos e artistas da cena local também influenciaram diretamente nosso som, como Chinfrapala, Fóssil, Ayla Lemos, Vitor Colares. Também sempre presente os antigos brasileiros como Milton Nascimento, Arrigo Barnabé, Jocy de Oliveira”.

Conforme Yuri, há muitas referências que se misturam na roupagem eletrônica que a Vacilant propõe. E, portanto, a visualidade do álbum visual é um mix de todos esses artistas. Ele afirma que outras referências, como Alejandro Jodorowsky também estão presentes, assim como vídeos clássicos da cultura da internet.

Ainda musicalmente falando, a banda apresenta uma sonoridade atual e única, trazendo elementos do MPB, o hyperpop, o IDM, o jazz e o eletrônico em geral. O álbum, em sua totalidade, fala sobre “investigar a ressonância do tempo em nossos corpos e mentes. Poderíamos estender, dilatar, ressonar, demorar, retomar, destruir e reconstruir. Não em truque sonoro e imagético, mas em experiência dividida.”

Tempo Bravo é mais um álbum que foi produzido durante a pandemia. Yuri contou que o processo de desenvolvimento foi exaustivo, mas ajudou a banda a se distrair, mesmo que fosse um pouco, da situação atual. 

“Fazer arte enquanto convivemos com o luto de tantas mortes não foi uma tarefa fácil, mas achamos que insistir nessa produção artística era também um ato de resistência, de resposta a um desgoverno que fez e faz de tudo para boicotar os artistas”, disse.

Além disso, ele conta que a banda teve que reestruturar, replanejar e adaptar o projeto diversas vezes no decorrer da nossa estadia no laboratório de música da escola Porto Iracema das Artes. “Conseguimos resumir nossos encontros presenciais a alguns poucos dias em que tivemos que gravar instrumentos e captar algumas imagens para o álbum visual”, disse. “O restante do processo foi todo feito a distância pelo zoom, compartilhando os projetos musicais para discutirmos sobre as composições e distribuindo tarefas de produção para cada integrante fazer em casa.”

Após o lançamento do disco, os planos da banda incluem preparar a apresentação ao vivo, “tentando criar um ambiente que dialogue com as composições a partir de projeções, estruturas e performances”. Por hora, sem saber como se segue a situação sanitária no futuro de médio prazo, a banda continuará a escrever projetos para editais, ensaiando e buscando continuar a trabalhar com o novo álbum. 

Confira breves descrições das novas canções de Vacilant

‘’Tempo Bravo’’ é o single do álbum, uma das músicas com vozes e letras. Foi uma das primeiras do álbum e serviu como norte para as outras composições. Vacilant escolheu explorar bastante a utilização de compassos compostos e sempre com variações da fórmula de compasso, causando essa sensação de deslocamento do tempo, presente em boa parte da música. Os vocais são de Yuri, Tuan e Felipe.

Em ‘’Sangradouro’’, foram utilizadas repetições insistentes de loops para criar um ambiente melancólico, acompanhado de vocalizações com efeitos. O objetivo final era criar uma forma aos poucos até desaguar em uma ‘parte B’ catártica onde a artista Elisa Porto faz uma participação recitando um texto de sua autoria. Os vocais são de Yuri e Clau Aniz.

‘’Sopa de ossada’’ dá início a um momento mais agitado e experimental do álbum. A música  instrumental em que explora o atonalismo e influências do free jazz e improviso livre.

Continuando o momento de euforia, em ‘’Serviços essenciais’’ também são usados atonalismos e loops para criar esta sensação de agitação e caos. Esta é a canção com mais  sintetizadores, sendo portanto o instrumento que predomina em toda a composição.

‘’Minha imagem roubada’’ é uma composição de Fernando Catatau, presente no álbum O ciclo da decadência do Cidadão Instigado. A mira da banda foi nas baladas anos 90, buscando a estética nostálgica por meio de programações de arpejadores e timbres de bateria típicos da época. Todos da Vacilant cantam, incluindo Taís, que não é musicista, mas produz a identidade visual do projeto.

‘’Corredeira’’ é um respiro final do álbum, a música é tocada por duas guitarras apenas e tem um aspecto mais sereno e contemplativo.

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