Em tempos verdadeiramente sombrios, em que a ameaça à democracia, liberdade de expressão, e a vida e corpo de minorias são pauta de violação, descaso e refutamento pelo governo, usar a arte como um verdadeiro impulsionador de vozes silenciadas se torna uma missão obrigatória a qualquer um que tenha plataforma, e é isso que Mulamba realiza com excelência, cuidado, e muita dor no clipe “Carne De Rã”, lançado hoje, 28.

A faixa, presente no EP Ventre Laico Mente Livre, lançado um ano atrás com colaborações como Luana Hansen, Brisa Flow, e companheira na música, Ekena, e muitas outras, transpira a dor de ser apenas mais um corpo ao olhar do Estado diante aos seus direitos sexuais e reprodutivos como mulheres, se tornando vítima de esquecimento ou de acusações e crime contra sua vida.

O incrível clipe, dirigido por Helena Freitas sucede em deixar a homenagem e o grito das mulheres que tiveram as decisões sobre sua própria vida tratadas como criminosas. “Antes de começar a construir as imagens do clipe, fui atrás de uma uma imersão com as vítimas do aborto clandestino. A partir disso, ficou claro que nenhuma imagem poderia ser um gatilho visual para quem já passou por esse processo”, conta a diretora ao Mad Sound.

“Eu nunca abortei, mas já ajudei em vários processos de aborto, isso dentro da minha arrogância, me trouxe a permissão de cantar sobre o aborto”, conta Cacau de Sá. “Eu sabia o quanto o meu apoio era importante pra elas e sem questionar ajudava. Ajudarei sempre a acabar com algo que não queiram. Nunca, em nenhum momento, me senti culpada de alguma forma. O abraço do depois cheio de novas possibilidades me blindava de qualquer peso social.”

Clipe de “Carne de Rã”, da Mulamba

“A arte é uma forma de sensibilizar as pessoas pra temas que estão presentes no nosso cotidiano, mas que a hipocrisia coletiva faz a gente fingir não ver”, conta Terená Kanouté, que protagoniza o clipe junto a Lourdes Miranda, Lia Petrelli.

O ato de expôr feridas que são necessárias de serem lidadadas, debatidas e mudadas na sociedade continua sendo uma meta eterna da banda, e elas pretendem fazer isso ao lado, é claro, de outras maravilhosas mulheres que utilizam sua arte para enfrentarem o mundo e suas mazelas, como “Elza Soares, Juçara Marçal e Doriene Conceição“, revela Cacau em entrevista.

A Mulamba, recentemente, lançou um remix da faixa “Espia Escuta”, presente originalmente no último disco da banda, Mulamba, ao lado da incrível produtora BADSISTA, e sobre o futuro das próximas novidades do grupo, Cacau afirma, “Podem esperar movimento, graça, alegria e algumas questões que nos cabem ou perturbam.”

Confira abaixo o clipe de “Carne de Rã”, de Mulamba e Ekena.