Na última sexta-feira, 12, o mineiro Fernando Motta lançou via Radar Balaclava, projeto da Balaclava Records, o single “Tridimensional”, primeira prévia de seu terceiro álbum, Ensaio Pra Destruir, que chega em março, e introduz uma missão de desapego do artista por sons distantes do que já estava acostumado, e cenas que excedam as quatro paredes do isolamento.

“[‘Tridimensional’] começou a ser feita um pouco antes [da pandemia], e eu só finalizei durante a pandemia”, ele conta em entrevista ao Mad Sound sobre a faixa, a mais antiga do disco, que inicialmente nem era uma certeza de integrar o projeto. “Eu estava muito na brisa de tentar fazer algumas coisas diferentes que já ficaram muito características das minhas letras e tentei fazer uma letra para sair, diferente de tudo que eu já tinha feito antes (…) e tem muito a ver com o disco, que em várias letras do disco eu falo sobre essa possibilidade de sair fora, transcender, não ficar em um lugar só.”

A busca pela fuga da normalidade de Nando refletiu nítidamente na sonoridade da canção, rápida, melódica, que traz diversas informações em camadas. O resultado resultou em uma canção dinâmica, sensível, e até viciante, um traço que o artista procura em suas criações, e até foi aprovada pelo irmão, um apaixonado por música, mas que não possui a mesma imersão à cena e ao indie brasileiro como o músico.

Para transformar a inquietude da canção em visuais, o mineiro contou com a direção de Gabriel Rolim, responsável por clipes de Boogarins, Pluma, Leveze, entre outros, e que também conta com Jadsa em planos de projetos futuros. O artista, que também é produtor e jornalista na Monkeybuzz, conta que sempre esteve submerso no mundo musical, e alguns anos atrás, quando frequentemente escrevia resenhas sobre discos, sempre procurava se expressar sobre os projetos de maneiras visuais e sinestésicas. Com isso, ao fazer um curso de VJ em 2015, e receber a oportunidade de criar os visuais de um show de Nuven, ainda no começo da carreira, sua imersão no mundo visual se potencializou.

“Eu comecei a pesquisar muito, usar muito sample das coisas, reutilizar, processar imagens que já existem. Fui descobrindo coisas com glitch art, depois com o universo analógico, e VHS, e foi indo. Mas acho que meu estilo está muito ligado a música, tanto que eu acabo fazendo muito clipe porque eu gosto muito, e me conecto muito”, Rolim compartilha. “Sou ansioso demais para ficar em uma só estética, então sempre fico explorando e aprendendo muita coisa. Hoje em dia a galera me chama muito pra fazer coisa com VHS, analógica e tal, mas sempre que eu posso eu tento não fazer, para não cair muito nisso, porque eu quero explorar outras coisas e evoluir. Tentar pegar todas essas linguagens que eu procuro e tornar uma coisa mais minha, mas também ir para outros lados.”

A colaboração entre Rolim e Nando foi fruto de papos de longa data, trocas futebolísticas, e a combinação feita sob medida do que a canção procurava como linguagem. A partir de conselhos de planos de filmagem e movimentos que reforçassem a rapidez da faixa, Motta saiu por Belo Horizonte ao lado de Mafius e sua câmera VHS para filmar cenas para o clipe em uma gravação digna de uma aventura na selva de pedra, com o artista revelando que teve que recorrer à um adaptador para deixar a câmera VHS ligada na bateria do carro, tendo que gravar as cenas diretamente do veículo – o resultado você pode conferir logo abaixo.

No caminho para o lançamento de Ensaio Pra Destruir, Motta já adianta, “Eu não queria fazer um disco de pandemia, músicas sobre estar sozinho no quarto. As pessoas provavelmente esperavam que eu iria fazer isso… porque eu já fazia isso antes (risos)”, o músico ressalta sua necessidade de ir para outros lugares e transformar memórias e diferentes localidades em arte que não tivessem a ver com o presente pandêmico.

Para a missão, o disco tem produção assinada pelo verdadeiro cavaleiro do apocalipse do rock triste, Victor Brauer, da Lupe de Lupe, que também trabalha com Motta na banda Ginge. A dupla parece se completar em projetos, com Nando recebendo os conselhos e visões de Brauer, e os desafios sonoros trazidos por ele, como os sons melódicos presentes no disco em que o músico não está acostumado em seus projetos. Além de Brauer, o projeto também conta com parcerias de Apeles, e de João Viegas do Ombu e Raça, banda que Nando aspira em trabalhar um dia em eventuais projetos.

“Tem discos que são construídos com uma narrativa, e eu gosto muito disso. Ouvir uma música que continua na outra, e tem momentos que você não sabe se é uma canção ou é um interlúdio. Eu acho que como o disco traz várias referências, achei um disco bem completo para o nosso universo indie, porque ele se comunica com muita coisa, mas do jeito do Nando”, relata Rolim sobre o disco, com palavras que tornam árdua a espera até março para conferir o projeto. Mas neste meio tempo, confira abaixo o clipe de “Tridimensional”, de Fernando Motta com direção de Gabriel Rolim: