Pode ser difícil acreditar que uma banda com 20 anos de história e tão popular quanto a Fresno esteja vivendo atualmente “o maior momento da nossa carreira”, como diz Lucas Silveira, mas é inegável que o trio brasileiro renova suas forças e reforça a autoridade de seu nome a cada ano, o que os permite estar vivendo sua melhor fase depois de duas décadas.
Depois de lançar o excelente álbum Vou Ter Que Me Virar (2021) e se apresentar no Lollapalooza Brasil e na Virada Cultural paulista, a banda esgotou outras duas datas em São Paulo, lotando a Audio nas noites de sábado, 04, e domingo, 05. A casa tem capacidade para 3 mil pessoas, o que somaria um total de cerca de 6 mil fãs nas duas noites, além daqueles que estavam presentes na Virada Cultural – uma quantidade que, segundo Lucas, totaliza o maior público de sua história. “Talvez a gente tenha que se mudar para a casa do lado”, comentou durante o show de domingo, se referindo ao Espaço Unimed, com capacidade para 8 mil espectadores.
Parece brincadeira, mas esse é um sonho não muito distante da realidade. Por uma rápida contagem de mãos durante a segunda noite, foi possível notar que a maior parte do público de domingo não estava presente também no sábado, o que concede à Fresno um número bastante orgânico de pessoas que vieram vê-los durante os dois dias. Isso também não passou despercebido por Lucas Silveira. O vocalista ficou impressionado com o volume da plateia e disparou “Onde vocês estavam esses anos todos?”, admitindo que os shows da banda em São Paulo costumavam atrair cerca de mil pessoas.
Apesar de termos como “emo revival” e a “volta do pop punk” terem se popularizado, é de se argumentar que o emo, na realidade, nunca foi embora, e a Fresno é um dos maiores exemplos disso. A banda que ajudou a disseminar a cena emo no Brasil no início dos anos 2000 se manteve constantemente ativa nas últimas duas décadas e o resultado é essa conquista de públicos cada vez maiores e uma devoção apaixonada que permanece viva nos corações dos fãs. Buscando sempre trazer novas referências ao seu som, a Fresno atinge também diferentes audiências e conquista fãs que talvez não lhe prestaram tanta atenção no início da carreira.
Politicamente, a banda também se mantém ativa a favor da liberdade e dos direitos humanos, sempre se pronunciando contra as injustiças e espalhando mensagens durante o show como os dizeres “Vamos votar direito, porra!!!!”, que apareceram no telão durante a faixa de hardcore “FUDEU!!!”. Em meio a aplausos na noite de domingo, Lucas Silveira disparou: “A gente ainda vive em um país que, pelo menos na Constituição, é livre. E a gente precisa lutar contra as pessoas que querem acabar com essa liberdade. A gente precisa lutar contra as pessoas que querem apagar as coisas que garantem a nossa vida e a nossa existência.”
Apresentando uma setlist que mescla novos hinos a clássicos de sua discografia, o trio guia sua plateia a fazer aquilo que os fãs de emo sabem de melhor: sentir. Sejam esses sentimentos de raiva, tristeza, frustração, amor ou alegria, é inegável que o turbilhão de emoções é muitas vezes melhor que o vazio, e é nele que a música emo se sustenta e também de onde tira o seu nome. Viver todas as emoções com a Fresno, seja a revolta por um governo negligente, a resistência de tantas comunidades em frente ao ódio ou a memória de um amor da adolescência que ficou só na imaginação nos lembra que, apesar de tudo, ainda temos um coração – e que ele ainda bate em busca de mais vida.
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