Para dar primeiros passos um tanto quanto amedrontados, o ser humano pode precisar de algumas coisas: um tempo em casa obrigado por uma pandemia mundial, a animação de companheiros da música, e uma dose de coragem do melhor amigo do homem. Foram estes alguns dos ingredientes dignos de uma mistura vinda de As Meninas Superpoderosas, que Se Você Precisar, primeiro EP solo do multi-artista Icaro, se tornou realidade em setembro deste ano via Balaclava Records.
Em entrevista para o Mad Sound, o músico, que também é vocalista da banda Mannequin Trees, conta os bastidores do lançamento, suas referências e os planos para um futuro no momento agridoce, mas certamente com muita música no horizonte.
Sobre o processo criativo que resultaram nas quatro faixas escolhidas para o EP, uma participação especial roubou a cena e mudou os rumos do projeto: a cachorrinha de Icaro, Lua. Sua chegada na vida do artista, de primeira foi tímida, quieta, por ter vindo de um ambiente traumático. No entanto, tudo foi só uma questão de tempo para conquistar o artista, inspirando a bela “Não Faz Mal”, que fecha o disco com um pedido de companhia e agradecimento pelo carinho em meio ao isolamento. O surgimento da canção fez Icaro priorizar outras duas canções já gravadas e adicionar uma quarta, que resultaram na harmonia precisa para o curto mas doce EP.
A capa do trabalho, inclusive, é uma representação do artista sem filtros: em sua casa, ao lado de Lua, fazendo música e sendo quem ele é, sendo preciso superar o medo de ser vulnerável sem a banda, só com seu nome compartilhando visões e sentimentos com milhares de estranhos. A vulnerabilidade também está presente no desafio de compor em porutugês, hábito este que ele não tinha com Mannequin Trees, detalhe que pode aproximar mais ainda o ouvinte a se identificar com os pensamentos da música. Segundo Icaro, a tarefa foi diferente, tendo em vista que pelo hábito, o inglês prece ser mais fácil de escrever e rimar, no entanto, tudo é questão de prática.
Apesar da boa recepção do público, o artista expressa o desejo que tinha de tocar shows antes de lançar o material, e também depois de ter lançado, como se estivesse falando uma “prova final” que fica devendo a sensação de realização e até de aprovação das canções. O mais próximo do palco em tempos pandêmicos são, é claro, as lives. Icaro conta que já apresentou dois shows nesse formato, com o plano de transmitir mais um em breve. E gravou para o canal da Balaclava no YouTube as Live Sessions do EP, realizadas de maneira remota com Vini e Marquinhos, em diferentes takes. Apesar da experiência que possa causar estranhamento, Icaro ressalta a animação de Marquinhos sobre gravar e lançar material, vital para qualquer artista já em tempos normais, e em momentos de isolamento, mais ainda.
A respeito das referências de sonoridade do EP, três grandes nomes tomam o pódio do artista: John Frusciante, o responsável por inspirar Icaro a começar a tocar. Ele explica que, apesar de não ouvir tanto ele mais, seu sonho de um dia ter Frusciante produzindo um de seus discos, permanece, e a similaridade quase do destino entre os artistas persiste ao observar que o último álbum do artista, Maya, possui uma homenagem a gata de estimação do artista, assim como Icaro com Lua. Além do guitarrista, Ariel Pink e suas textura e visuais, e King Gizzard & The Lizzard Wizard, surgem, além de nomes clássicos dos anos 80, presentes de forma nítida nas batidas rápidas e contagiantes do EP.
Novidades não vão faltar no futuro de Icaro, com produções feitas com paciência e tempo, um modo de combater a ansiedade do artista, singles estão no horizonte ainda para este ano, e com a possibilidade do lançamento de um disco cheio para 2021, seja ainda em seu estúdio em casa ao lado de Lua, ou nos palcos pelo Brasil, a genuinidade e maestria do som de Icaro certamente irão seguir ressoando por aí.