Em março de 2019, um termo pouco comum ao vocabulário brasileiro começou a aparecer nos maiores veículos de mídia do país. No boca-a-boca, todo mundo comentava de um grupo, o BTS, de um tal de K-pop.
O grupo coreano, que se apresenta em São Paulo nos dias 25 e 26 de maio, teve os ingressos do show esgotados em poucas horas. O mesmo aconteceu com a data extra que abriu um tempo depois. Imagina o desespero dos fãs de Sandy e Júnior que ficaram sem ingressos multiplicado por mil.
Mas afinal o que é K-pop? Um gênero musical, uma indústria cultural, um produto de exportação? Por mais que a definição mais óbvia seja de “música popular coreana”, há uma infinidade de características que definem o movimento. Vamos por partes. Nesse especial do Mad Sound sobre K-pop você vai entender mais sobre o que é essa onda que invadiu o mundo sem aviso.
Onda, inclusive, é um bom termo para definir o K-pop, uma vez que este surgiu justamente da Hallyu, ou Onda Coreana. Para os que gostam de História, é bom voltar um pouco para o final dos anos 1980 e a redemocratização na Coréia do Sul.
Até ali, antes do estabelecimento da Sexta República Coreana, só haviam duas emissoras de TV no país. O governo autoritário controlava as músicas que os sul-coreanos ouviam, que eram basicamente ferramentas de controle. Um dos maiores hits de 1984, por exemplo, foi “Ah, Republic of Korea”. Se o título já não fosse explicativo o suficiente, a letra pode mostrar um pouco do que se tratava a música. “Oh Oh Coréia! Oh oh nosso país/ Oh Oh te amarei para sempre!” O ufanismo embalado numa melodia pop dos anos 80.
Os artistas eram introduzidos ao público basicamente por programas de talentos na TV, também sobre controle do governo. Música independente não existia e o rock, por exemplo, era constantemente censurado e banido do país.
A partir de 1987, com a saída do presidente autoritário Chun Doo-Hwan por causa de protestos de jovens e estudantes (sempre eles), as coisas começaram a melhorar. A censura diminuiu e as transmissões de rádio se expandiram rapidamente. Assim, o povo sul-coreano começou a ter mais acesso às músicas que vinham de fora, principalmente dos Estados Unidos.
Foi então que veio a data de início do K-pop: 11 de abril de 1992. Em um desses programas de talentos, ainda muito fortes, aconteceu a apresentação do grupo Seo Taiji and Boys. Seo Taiji fazia parte de uma banda de heavy metal coreana e, quando essa acabou, juntou-se com dois dançarinos e foi explorar o hip-hop.
O grupo apresentou o single “Nan Arayo (I Know)”, que misturava o pop americano com a cultura coreana. Seo Taiji and Boys foram inovadores ao desafiar as normas de estilo musical, a censura, a moda e os temas das músicas. Eles cantaram sobre a angústia adolescente e a pressão social de obter sucesso em um duro sistema de educação. Basicamente, criaram uma música própria fora do ambiente manufaturado da indústria até ali.
Tudo bem que a banda perdeu o show de talentos e ainda recebeu as piores notas da noite. Mas, imediatamente depois, “I Know” foi parar nas paradas coreanas e ficou em primeiro lugar por 17 semanas. Quando o Seo Taiji and Boys se separou, eles tinham mudado a música na Coréia. O caminho foi aberto para que outros artistas continuassem experimentando e quebrassem mais barreiras. E também, para que os estúdios musicais dominassem e criassem todo um novo sistema de produção.
Se, em 1960, a Coréia do Sul era o 34º país nos rankings de mais ricos do mundo, com o fim da banda, em 1996, havia se tornado o 11º mais rico. Com a Ásia passando por uma grave crise, o governo sul-coreano teve uma grande ideia: transformar a cultura coreana em um produto de exportação. Ao menos 1% do orçamento estatal deveria ser dedicado à cultura.
Três empresas aproveitaram o ensejo e ditaram o que viria se tornar a explosão do K-pop e a onda que tomaria o mundo. Juntos, os três estúdios ditaram deliberadamente o que seriam conhecidos como os grupos Idols.
Mas, isso é assunto para a próxima parte do especial, que tratará das fórmulas que regem a cultura K-pop e as controvérsias por trás da indústria. Continue acompanhando o Mad Sound para entender mais sobre o mundo da música.