O aguardado segundo disco da carioca Letrux finalmente chegou, e em uma sexta-feira 13. Depois do estrondoso sucesso de Noite de Climão, a cantora, definitivamente, um dos nomes mais surpreendentes do indie pop nos últimos anos, retorna na atmosfera de seu mundo, e nos convida a viver “aos prantos” com ela.

A primeira faixa, “Déjà-vu Frenesi”, se torna progressivamente caótica e aproximada do rock, falando sobre o que todos têm, mas ao mesmo tempo não têm. O refrão, que contém a repetição de “não deixar”: sangrar, derramar, secar e magoar cria uma ansiedade na canção. Essa instabilidade, loucura e confusão é nitidamente refletida na sonoridade da primeira faixa, um perfeito começo para ficar aos prantos.

Em “Dorme com Essa”, conhecemos uma face vulnerável de Letrux. Talvez, a mais vulnerável em qualquer de suas canções até agora. A sonoridade, profunda, delicada e viajante, traz o receio de encontrar alguém que a machucou na rua. O medo é tão grande, que Letrux acaba achando essa pessoa em todo lugar, mesmo ele não estando lá. E, ao mesmo tempo que a cantora quer essa pessoa com ela, seu desejo é de que ele suma da vida dela, e até mude de continente. No mínimo relacionável, né?

A inspiração anos 80 é instantêna em “Fora da Foda”, parceria com a incrível vocalista do CSS, Lovefoxxx. Nessa canção, as artistas brincam com a expressão “fora e dentro da moda”, e, lembrando muito o álbum Noite de Climão, refletem sobre causos da vida sexual.

“Eu Estou Aos Prantos”, faixa-título do álbum, traz os antônimos entre “dar” e “não dar”, e estar frequentemente em um sonho, ou alucinando. De fato, a canção foi a mais díficil de se compreender até agora, traduzindo o que é um momento de pranto, e caos de sentimentos e ideias.

A quinta canção, “Contanto Até Que”retrata um relacionamento abusivo que Letrux vive. A artista se depara com um interesse amoroso esnobe, que fazia com ela dêsse todo seu amor para ele, e não ficasse com nada, consequência essa, que a carioca não sabia que ia vir a acontecer. Seguindo uma sonoridade com instrumentos mais pesados, ela entrega um de seus trechos mais inteligentes até agora, em “Eu vim pra Botafogo no seu bairro / Eu vim pra botar fogo no seu quarto”.

Em “Vai Brotar”, a cantora se compara com alguém, demonstrando sua superioridade. A faixa, que conta com piano e algo que se assemelham a sintetizadores, só comprova o destaque desse disco: sua sonoridade.

“Cuidado, Paixão”, pode ser considerada uma das canções mais fascinantes do disco. Ela traz, em seu trecho em inglês “Now it’s too late baby / it’s too late”, uma referência nunca antes percebida por mim: Lana Del Rey. Os assuntos, desilusões, irônias e apetite sexual, tudo isso, enquanto uma voz falha e sensível ecoa, lembram muito a artista americana, e se aproximam muito das situações que Letrux traz em suas criações. Essa canção, tão serena, mas ao mesmo tempo, tão triste, parece uma conformação de um coração partido.

Em trechos como “Cuidado meu bem / Paixão é raio que ilumina / Um segundo / Depois volta o breu”, é impossível não se sensibilizar. Ou em momentos extremamente doloridos, mas até um pouco cômicos, como “Me confundi quando cê disse tchau / Entendi te amo”, pois, afirmou em uma live no Instagram, que em sua cidade natal, Rio de Janeiro, a sonoridade de “te amo” se aproxima muito com a de “tchau”, confundindo o sofrido coração da artista. A faixa se encerra com batidas e vocais de samba não esperados, mas que encaixam no cotidiano de uma residente do Rio de Janeiro, possivelmente, ouvindo o som de rodas de samba entrarem por suas janelas, cantando junto à sua dor.

A parceria com Liniker, “Sente o Drama”, parece contar cotidianos do verão, sempre comentando sobre o calor ou chuva, e pequenos causos do dia-a-dia, como perder o transporte público, esquecer a chave, encontrar alguém chato ou ter fome. A sonoridade possui uma guitarra um tanto quanto anos 70, no entanto, é uma das canções que, em um primeiro momento, menos se destacam na obra.

Em “El Dia Que no Me Quiera”, canção em espanhol, Letrux lamenta sobre um amor que parece a abandonar e deixa-la no escuro. A décima faixa, “Abalos Sísmicos”, traz mais momentos de vulnerabilidade da cantora, revelando os momentos que seu amante a abalou em diversas situações.

Em “Salve Poseidon”, outra faixa que se faz necessária de ouvir algumas vezes para capturar sua essência, uma estrofe se destaca: “Eu queria estar lá / Na hora que a Shakira disse / Que nasceu dia 2 de fevereiro / E o marido disse: “Eu também!” / Eu queria estar em todas as coincidências do mundo / Porque é aonde todo mundo / Está um pouco mais místico”. A natureza mística de Letrux se revela muito mais nesse segundo disco, e divide com o interlocutor alguns dos momentos mágicos (e sempre confusos) que a cantora vive.

Na penúltima faixa, “Esse Filme que Passou Foi Bom”, o disco vai se encerrando de maneira incrível. Letrux reflete sobre a morte, ressucitar, vida pós morte, e até fantasmas. Mesmo com decisões erradas que temos durante a vida, como esquecer de ligar pra vó, nossa vida, nosso filme, foi bom.

“Cry Something Awkward”, finaliza o álbum, em menos de um minuto, e em inglês, fala sobre as estranhezas de encontrar alguém que um dia você se envolveu. Se refere aos dinossauros, ao falar que eles ensinaram que nós não podemos sempre ter o que queremos, talvez uma referência a “You Can’t Always Get What you Want”, dos Rolling Stones? O disco é finalizado com vários “La la la”, como se, mesmo não podendo ter tudo que queremos, e vivendo momentos estranhos, a vida continua, aos prantos, doendo e sangrando, seja de felicidade, de amor, ou de ódio.

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