Nunca imaginei que eu fosse fazer uma lista dos 5 melhores discos do ano. Também não imaginei que estaria vivendo uma pandemia de escala mundial. Então, pra esse 2020 em que nada saiu como a gente planejou, aqui vai minha lista dos discos que me ajudaram a passar por esse ano maluco. Mas vamos do começo…

  1. WaxahatcheeSaint Cloud

Lá em março, enquanto tinha gente achando que quarentena eram só quarenta dias, Katie Crutchfield a.k.a Waxahatchee, nos presenteou com mais um disco. Saint Cloud é o encontro perfeito entre o country, o indie e o folk e veio na hora certa.

O disco é menos “barulhento” do que os seus outros quatro trabalhos, mas tem aquilo que ela faz de melhor: as belas composições abstratas. Saint Cloud soa como um reencontro de Katie com ela mesma, e isso não é à toa. Katie abraçou a sobriedade no último ano e talvez isso explique um disco tão diferente dos outros, tão coutryindiefolk. Ela te leva pra um passeio em sua caminhonete Ford vintage até um campo de rosas e a vida fica bonita novamente, nem parece que o mundo está acabando – pelo menos durante os 40 minutos e 9 segundos de seu disco.

2. The StrokesThe New Abnormal

Agora já estamos em abril, um pouco mais conformados e confinados. Os cortes de cabelo em casa começam a acontecer, todo mundo está fazendo pão e lavando as sacolinhas do mercado. E sem poder esperar mais, no dia 10 de abril, os Strokes, a.k.a a banda mais influente da década retrasada, lança seu sexto álbum de estúdio. Confesso que fiquei com medo de escrever sobre Strokes, quando se trata deles, eu admito: sou clubista. Defendo eles até mesmo quando os caras estão completamente perdidos (nunca critiquei o Comedown Machine publicamente e até aprendi a reconhecer seu valor com o tempo), mas não teve jeito, com o The New Abnormal eles acertaram, muito. E digo mais, talvez esse seja o melhor trabalho deles até agora (jovens doutrinados pelo Is This It vão fechar essa página em instantes). Eu nunca imaginaria que os Strokes lançariam o melhor álbum da sua carreira em pleno 2020, no meio de uma pandemia mundial. Mas é isso, 2020 veio para surpreender mesmo. O tempo fez um bem danado pra eles, e por mim, podem ficar mais 7 anos sem lançar nada, se for pra voltar com algo nesse nível, tá tudo bem.

The New Abnormal é um disco perfeito do início ao fim, recheado de hits em potencial, com letras maduras, músicas para shows e músicas para pista de dança (não vejo a hora de pedir Bad Decisions bêbada pro Dj na baladinha) e é quase uma pena ter sido lançado num ano tão atípico.

3. Fiona Apple – Fetch the Bolt Cutters

Uma semana depois do Strokes lançar o que viria ser o seu disco mais maduro, Fiona Apple, a.k.a complicada e perfeitinha, lançava o seu disco mais… Libertador. Que dobradinha perfeita no mundo da música. A Fiona está de saco cheio de todo mundo desde 1996 e isso é o que eu mais gosto nela, mas só agora ela conseguiu fazer todas as coisas do seu jeito. Fetch The Bolt Cutters é inteligente, é irônico, é divertido, é sensível, é agressivo, é empoderador, é Fiona Apple. Ela não tá nem aí pra o que você acha dela e isso nunca esteve tão claro. Para além das curiosidades, que deixam o disco ainda mais legal – como latidos de cachorro e batuques feito com os ossos da cachorra morta – o disco entra na lista de melhores discos do ano porque é bom de verdade, é excêntrico.

Fetch The Bolt Cutters não é um disco fácil – nunca é se tratando dela, mas foi necessário pra mim. Lá em abril, quando eu descobri que quarentena não eram só quarenta dias trancada no meu quarto e com medo de estar contaminada depois de qualquer espirro, ela embalou minhas nóias e meus dias de isolamento como ninguém. E com ela, sigo com a mesma regra que citei acima para Julian Casablancas e sua turma: pode lançar um disco a cada 7 ou 8 anos, não ligo, é sempre bom!

4. Neil YoungHomegrown

Pode colocar um disco de 1974 na lista de melhores discos de 2020? Acho que se tratando do Neil Young, a.k.a dono da porra toda, eu abriria uma exceção. Ele pode tudo. Em junho, quando a gente já não aguentava mais ficar em casa e estávamos todos de luto porque não teríamos quentão, vinho quente e fogueira, Neil Young nos abençoou com o disco que ficou por anos, igual o amigo do Milton Nascimento: Guardado debaixo de sete chaves dentro do coração. Coração que no caso foi partido.

Homegrown foi escrito durante uma separação turbulenta com a atriz Carrie Snodgress, mãe do seu primeiro filho. Nada como uma decepção amorosa pra render um bom disco, certo? E bota coração partido nisso. Deixou ele tão triste que fez com que ele guardasse todas essas músicas por mais de 45 anos. Segundo ele, esse é o disco mais pessoal de toda sua carreira. Mas o Neil Young é um cara massa e viu que 2020 seria um ano difícil e resolveu, finalmente, nos dar de presente o Homegrown. Pode um disco gravado em 1974 estar na lista de melhores do ano? Tecnicamente, não, mas poxa, é o Neil Young, é um privilégio nosso estarmos vivos para presenciar esse momento.

5. Eels – Earth To Dora

Nessa linha do tempo, agora já estamos no fim de outubro, conformados mas nem tão confinados assim. Às vezes nem parece que tem mais coronavírus no mundo e Eels, banda do doidão Mark Oliver Everett a.k.a ‘E’, lança seu 13º disco, o Earth To Dora. Assim como os outros álbuns dessa lista, esse disco contém músicas feitas antes do período pandêmico, e que, da melhor maneira possível, nos fazem esquecer que estamos vivendo um grande caos mundial. Eels é sempre assim, me ajuda a rir das desgraças da vida. Acho que 2020 não poderia ser melhor representado do que por esse palhacinho com sorriso amarelo da capa. O otimismo presente em faixas como Are We Alright Again e a dor de corno de Are you Fucking Your Ex são os pontos altos de Earth To Dora, que é um grande disco, mais ‘E’, impossível.

Earth To Dora é sarcástico e dolorido, com o nível de sarcasmo e de dor perfeito pra fechar esse ano de merda. Só nos resta rir, ouvir umas boas músicas, usar máscara e esperar a vacina chegar.

Categorias: Listas Notícias