Texto por Marcelo Gomes

A apresentação do Paul McCartney mexe com o coração de qualquer um que gosta de rock. Só em São Paulo, foram três datas para receber uma parte dos fãs sedenta pelo ex-Beatle. A Got Back Tour chegou ao Allianz Parque e provou ser um testemunho ocular da história do rock.

O público variava desde a idade mais tenra aos quase contemporâneos da lenda. Uma cena que chamou a minha atenção logo ao adentrar ao gramado, foi uma senhora que aparentava 70 anos ou um pouco mais que caminhava com a ajuda de um andador. Paul é quase uma divindade que opera milagres. E não estou exagerando, logo que começou o show com “Hard Day ‘s Night”, eu ouvi algumas pessoas falando, “ele está entre nós!”

A elegância do distinto Sir trajando seu terno embalou o sábado à noite. Na pista não era difícil avistar as pessoas dançando ao som de “Junior’s Farm”, “Letting Go” que teve alguns de seus músicos nas arquibancadas tocando, e “She’s A Woman”. Paul até arriscou um pouco de português e se saiu muito bem ao anunciar “Come On To Me”, uma música nova, ou melhor, um pouquinho nova, segundo ele. Ao final, tirou seu terno, gerando um frenesi nos presentes. Da sua fase do Wings, tocou “Let Me Roll It” que foi muito celebrada e ao final fez uma breve homenagem ao Jimi Hendrix com “Foxy Lady”.

Teve o momento romântico na qual dedicou “My Valentine” para sua esposa Nancy Shevell. A primeira canção que os Beatles gravaram também se fez presente, a acústica “In Spite Of All The Danger” fez até alguns casais dançarem juntos. Outro destaque foi quando falou em alto e bom som: “O Pai Tá On!” O estádio veio abaixo e para retribuir o carinho dos fãs, um mega clássico dos Beatles, “Love Me Do”.  A banda que o acompanha é fantástica, tudo é perfeito e recriam os arranjos originais de maneira incrível.

Em “Dance Tonight”,  o baterista Abe laboriel  esbanjou simpatia e roubou a cena fazendo dancinhas hilárias caindo nas graças do público a cada movimento. Do alto de uma plataforma, com seu violão vem “Blackbird” fazendo o estádio parecer a sala de sua casa num momento intimista com todos cantando. O clima continuou com “Here Today” que foi dedicada ao ex-companheiro, John Lennon. Estranhamente,  o violão parecia trastejar demais, mas isso não incomodou ninguém. A surpresa veio no final, de maneira espontânea, o público fez um coro de “Give A Peace A Chance” que foi acompanhada pelo Paul no piano e cantada por todos, que momento emocionante.

Mais uma do Wings, agora “Jet”, dedicada ao Denny Laine que faleceu recentemente. A transição entre as músicas mostrou a capacidade de McCartney de escolher um setlist que transformou a apresentação numa verdadeira viagem musical através de suas canções. “Something” foi dedicada ao George Harrison enquanto “Ob-La-Di, Ob-La-Da” colocou todo mundo para dançar onde tinha espaço, fazendo a pista parecer aquelas festas dos anos 60. É incrível como depois de seis décadas, essas canções ainda possuem grande impacto sobre as pessoas.

A divindade também mostrou seu lado mortal em “Band On the Run” quando se esforçava para atingir notas super altas e muitas vezes não conseguia. Mais uma vez, ninguém ligou, eu achei maravilhoso poder presenciar algo que é nitidamente ao vivo, ainda mais nos dias de hoje. 

A sequência que veio a seguir deixou todos com aquele sentimento, que dia bom para estar vivo. O riff contagiante de”Get Back” manteve o clima lá em cima enquanto a emocionante “Let It Be” transformou o estádio em um mar de vozes uníssono para celebrar esse momento nostálgico. E não parou por aí, durante “Live And Let Die”, pirotecnia, fogos de artifício e chuva de papel picado deram um ar literalmente explosivo ao show. O ápice certamente foi com o hino “Hey Jude”. Colocou todos para cantar desde as primeiras notas num momentos mais icônicos que um show pode ter. Muita emoção, olhos marejados e devoção ao lendário ex-Beatle. Que maneira épica de se despedir.

Mas não era o fim, o  incansável Paul presenteou os fãs com um dueto com John Lennon em “I´ve Got A Feeling” e outros clássicos dos Beatles como “I Saw Her Standing There”, “Sgt. Peppers Lonely Heart’s Club”, “Helter Skelter”, “Golden Slumbers”, “Carry The Weight”, e “The End” para finalizar o longo bis. 

Com 2h30 de show, mais de 30 músicas no repertório, Paul McCartney no auge de seus 81 anos, mostrou porque é uma lenda. A apresentação no Allianz Parque foi uma experiência mágica que celebrou um dos maiores compositores e intérpretes do rock. Da energia contagiante de sua performance à reação emocionada dos fãs, McCartney provou mais uma vez que suas canções são atemporais e  continuam atraindo diversas gerações de fãs ao longo de seis décadas. Mais que um show, uma celebração de um legado musical que servirá de inspiração por muitos e muitos anos.

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