Depois dois anos na estrada, Guilherme Silva e Stephan Feitsma, músicos que compõem o Pessoas Estranhas, decidiram fazer uma parada em uma data inusitada: entrar no estúdio no Carnaval de 2020 para produzir seu primeiro álbum. E apesar de parecer que a dupla ficou de fora das festas, não se engane: os artistas apenas reinventaram a pista de dança em seu disco homônimo que chega hoje, 15, via Cavaca Records.

“Acho que não tem arrependimento não. Adoramos pular carnaval, mas gravar um disco com quem a gente gosta e com o estúdio só pra banda é perfeito. A gente se divertiu muito e ainda poupou uns meses de vida não enchendo a cara todo dia hehe. No próximo carnaval tamo aí pra curtir, tocar, gravar, o que for”, conta Stephan em entrevista ao Mad Sound. “Foi também uma maneira que encontramos de nos isolarmos do mundo”, Guilherme complementa. “Em qualquer outro fim de semana ou feriado ia ter gente colando no estúdio. Quem iria querer ir pra uma gravação em pleno Carnaval? Só a gente mesmo.”

E que bom que o “Bloco do Contra” que a dupla embarcou e comandou aconteceu, pois o disco homônimo do Pessoas Estranhas é uma viagem do começo ao fim, com batidas com personalidade, ritmos frenéticos e psicodélicos e transições de entortar as sobrancelhas, é impossível não se divertir e embalar na experiência proporcionada pelos músicos.

Desde encontrar a inspiração no famoso melhor amigo do homem, o cachorro de Guilherme, na faixa de abertura “Rubens”, até expressar a plena solidão em “19”, homenagear Tim Maia com um funk pop poderoso em “Não Tem Como Não Gostar”, e até fazer críticas ao descaso do ser humano com o meio ambiente em “Musga”, a banda passa por letras densas e outras de extremo bom humor, mas nunca perdendo o ritmo que faz o pé direito não parar quieto no chão e a cabeça balançar para frente e para trás tal como um boneco de jogador de beisebol.

“Quando a gente compõe junto sai desse jeito, é pra cima e dançante mas também tem rock e outras milhares de inspirações acontecendo ao mesmo tempo. É meio natural que isso aconteça”, conta Stephan sobre a sonoridade do disco. “As vozes são propositalmente mais enterradas (baixas) na mixagem. No Pessoas Estranhas a gente gosta de colocar a voz mais junto dos instrumentos.”

E Guilherme complementa com um tópico vital não só para a banda mas para todo artista: as referências, “Apesar de tocarmos juntos há uns 10 anos, nossas referências e gostos são bem diferentes. Obviamente temos bandas em comum como Talking Heads e Sly and the Family Stone, mas esse caos que é a sonoridade do Pessoas Estranhas vem também dessa grande mistura de referências e influências que eu e o Stephan temos.”

Falando no assunto, ao falar de grandes debuts, a dupla faz o impossível e elege seus primeiros discos favoritos de nomes lendários: para Guilherme, os álbuns introdutórios de King Gizzard and the Lizard Wizard e da Bjork levam o ouro, e já para Stephan, o escolhido é o primeiro do Curtis Mayfield.

Com a missão cumprida de encher os dias dos ouvintes com muito mais groove, Stephan reflete sobre o lançamento e as expectativas do disco da mesma forma descontraída e sincera que o projeto é apresentado, “Eu diria que estamos aliviados. O processo de fazer um álbum exige bastante do psicológico… Quando termina parece que corremos uma maratona. Tem também aquela ansiedade de como vai ser a recepção do disco e essas coisas, mas em relação a isso somos bem tranquilos. Tem gente que vai gostar mais e menos e é isso.”