Thiago Pethit é gente como a gente. Ele busca ter uma casa para chamar de sua, fazer faxina da forma que bem quer, encher os armários de compras do mercado do bairro e, claro, um lugar em que possa deixar de lado suas personas para ser mais um Thiago nos trópicos.

Ao reconectar-se com si, o cantor retornou em forma do poeta Orfeu, o mais talentoso de todos, buscando nos salvar das turbulências com suas palavras. E ele conseguiu. Pethit não destrinchou o caos político e social que se alastra pelo Brasil, mas sua paixão e o seu desejo de música nos ajuda a entender o nosso país.

O seu retorno, Mal dos Trópicos (Queda e Ascensão de Orfeu da Consolação), cita um beijo no Copan, os bares do bairro Consolação, o puteiro da Rua Augusta, enfim, o clima de São Paulo. “É onde eu nasci e cresci (…) É natural, creio, que São Paulo apareça [no disco]”, conta Pethit em uma entrevista exclusiva ao Mad Sound.

“Nós somos muito daquilo que habitamos. As histórias de Mal dos Trópicos são em boa parte verídicas, ou pelo menos dá pra dizer que muitas coisas não são apenas imagens metafóricas ou pura retórica musical”, conta ele ao revelar que tudo citado nas canções do disco aconteceram de fato – mesmo quando faz a releitura de “Nature Boy”, música escrita por Eden Ahbez e mais conhecida na voz de Nat King Cole.

“Eu cismei que essa música tinha a ver com o mito de Orfeu”, ele explica. “Ela fala sobre esse menino meio mágico e encantado, que diz e acredita, que o amor é o que há de maior e mais grandioso na vida. Amar e ser amado. E eu tenho pra mim que isso diz muito sobre o mito de Orfeu também.”

Ele continua: “Além de ser uma música que parece ter um conteúdo, ainda que subjetivo, bastante homoerótico e isso me interessava muito neste disco. Muitas canções nasceram inspiradas por poetas que tinham ou tem o homoerotismo presentes em seus trabalhos: [Roberto] Piva, Antonio Cicero, [Ricardo] Domeneck, etc.”

Mal dos Trópicos claramente reflete a visão de Pethit sobre o Brasil, o “meu Brasil”, como ele coloca. “O Brasil que eu vivo e entendo, é este Orfeu despedaço e em luto”, ele explica sobre a temática do trabalho. “[A cena indie no Brasil] é um eterno perrengue. É um pouco como aquele meme ‘tava ruim, dai tava bom, mas ai ficou ruim e bom e parece que piorou de ‘novo’.” A solução disso? Nem Thiago Pethit tem, mas a luta deve continuar.

“[É preciso] saber e conhecer a sua história, o seu lugar e aprender a levar junto consigo aqueles que ainda não chegaram ao mesmo ponto que você. Seja que ponto for este. É preciso estar ciente e responsável pela luta de todos.” Aqui, o músico fala sobre o papel do artista LGBTQ+, mas a fala pode se encaixar em tantos contextos sociais e políticos hoje em dia que até surpreende. Thiago é um Orfeu quando o assunto é o uso das palavras.

E suas palavras retornam não só para as plataformas digitais e o bom e velho CD físico, mas também para os palcos. Nesse domingo, 15, Thiago Pethit se apresenta no Centro Cultural São Paulo. “Sigo ansioso para cair na estrada. Mas mais cuidadoso que antes. Não quero abrir mão de ter uma vida íntima e rica sem plateia.”

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