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Luedji Luna. Crédito: Tassia Nascimento

Luedji Luna: “As mulheres negras estão trilhando uma nova narrativa na MPB”

Cantora soteropolitana fala sobre universo do disco de estreia, Um Corpo no Mundo, que chegou em 2017

Um dedilhado de cordas somado a leves sopros abre os caminhos de “Asas”, primeira faixa de Um Corpo no Mundo, disco de estreia de Luedji Luna. A música é responsável por introduzir a suave voz da cantora nascida no bairro do Cabula, em Salvador, na Bahia, que contrasta com versos de uma indagação paradoxalmente certa: “para quê te quero asas? / se tenho ventania dentro”.

Esse furacão em forma de artista se apresenta ao mundo em um trabalho cuidadoso, que resulta do encontro das raízes africanas com a marcante vivência urbana em São Paulo. Entre afirmações poéticas, como o título de “Eu Sou uma Árvore Bonita”, e melancolias em forma de choro, ao longo da poesia de “Acalanto”, Luedji se firma como uma das revelações da música popular brasileira.

Em entrevista exclusiva ao Mad Sound, a artista fala sobre inspirações, processo criativo, papel da mulher negra e o sucesso da turnê de Um Corpo no Mundo. Após lotar o paulistano Auditório do Ibirapuera no último dia 22 de abril, passar pelo Rio de Janeiro e participar de um tributo a Itamar Assumpção em Salvador, Luedji segue para Porto Alegre nesta sexta, 4, no Agulha, com ingressos já esgotados. Abaixo, leia a conversa com a cantora na íntegra.

 

Mad Sound: Como estão os meses após o lançamento de Um Corpo no Mundo? A relação do público com o disco mudou a forma como se relaciona com seu próprio trabalho?

Luedji Luna: Os meses estão intensos, a agenda cheia, muita demanda por shows e pelo disco. Acredito que a única mudança pós-lançamento foi que mais pessoas passaram a me conhecer.

MD: Falando um pouco sobre a concepção do álbum, no financiamento coletivo que o viabilizou está especificado que ele é “uma proposta para se pensar em identidade, um olhar sobre si mesma a partir do contato, ainda que disperso, com os imigrantes africanos em São Paulo”. Como se deu esse “contato disperso”? E como ele te inspirou a fazer o disco?

LL: O contato se deu através do olhar, observar esses corpos negros como o meu transitando pela cidade me trouxe certo alento, e ao mesmo tempo um questionamento sobre qual daquelas “Áfricas” eu pertencia. Um Corpo no Mundo nasceu desse encontro.

MD: O disco fala sobre passagem, mas também sobre “não pertencimento”, um sentimento que está intrínseco à sociedade brasileira, mais excludente que inclusiva. Qual gancho foi responsável por despertar o “não pertencimento” em Um Corpo no Mundo?

LL: Um Corpo no Mundo é uma uma reflexão que surgiu do encontro com a imigração africana em São Paulo. O projeto se fundamenta na ideia do não pertencimento, do corpo que ocupa o espaço, mas não se identifica, e da necessidade de conexão com a ancestralidade, Essa inspiração nasceu dessa vivência, o fato de estar em São Paulo e não pertencer a cidade reproduz em pequena escala a sensação do que é ser negro da diáspora no Brasil.

A música também traz um questionamento sobre corpo, sobres quais são os corpos que merecem afeto, dignidade, respeito e amor. Eu cheguei em São Paulo em um momento em que estavam sendo noticiados muitos casos de xenofobia contra os imigrantes africanos na cidade, e a gente sabe que xenofobia no Brasil é racismo, porque os imigrantes não negros têm um tratamento completamente diferenciado.

MD: Em relação à política, para você a música é um espaço de luta ou de refúgio pessoal?

LL: Pra mim, as duas coisas imbricadas.

MD: O que é ser mulher negra para você? E qual o espaço da mulher negra na música brasileira?

LL: Ser mulher negra pra mim é ser potência, e hoje estamos trilhando uma nova narrativa na música popular brasileira.

 

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