Reconhecida como uma das vozes mais inovadoras da cena latino-americana, a artista e ativista mapuche-huilliche Isleña Antumalen esteve na COP30, no Brasil, em novembro, exercendo seu trabalho de ativismo ambiental em defesa dos lagos Ranco e Maihue, no norte da Patagônia chilena.
Definida por si mesma como “artivista”, Isleña se dedica à sua carreira na música ao mesmo tempo que representa a juventude indígena chilena na defesa e proteção de suas águas e seu território. Recentemente, ela fundou o Centro Indígena de Ação Integral (CIAI), uma ONG intercultural formada por jovens do sul do Chile que trabalha com questões climáticas.
Em entrevista ao Mad Sound ela falou sobre sua participação na COP30 e incentivou o público brasileiro a consumir mais música dos países latinoamericanos como uma maneira de fortalecer a cultura sul-americana.
Mad Sound: Olá, Isleña. Você está no Brasil há algumas semanas para a COP30. Você gostaria de compartilhar mais da sua história como ativista? O que te faz começar no ativismo?
Isleña Antumalen: Comecei no ativismo muito jovem porque pertenço ao povo mapuche, que é a maior nação indígena do Chile. E, desde pequena, tive um interesse especial em não perder nossas raízes, em resgatar elementos da nossa cultura. E é por isso que sempre tive uma motivação tão forte. E então, conforme fui crescendo, percebi que existem muitos conflitos políticos entre o Estado chileno e o meu povo mapuche. Principalmente em relação à terra, água, perseguição política e desapropriação. E foi por isso que me interessei em dedicar minha vida a poder contribuir e ajudar meu povo, sendo uma jovem mulher que pertence a este povo, o povo mapuche.
MS: Você acha que as pessoas te ouviram? Você sente que sua missão foi cumprida?
IA: Bem, as COPs, as Conferências das Partes, são muito importantes internacionalmente, mas também muito técnicas. É difícil compreendê-las, aprofundar-se nelas, e é difícil para as nossas vozes chegarem aos espaços onde precisam estar, como as próprias negociações, ou mesmo a redação de um parágrafo. É um grande desafio, mas acho que não devemos desistir; temos que continuar esta luta.
O que eu penso sobre esta COP é que foi boa no sentido de que houve muita participação indígena, como nunca antes. Tive a experiência da última COP no Azerbaijão, e havia muito poucos indígenas, muito, muito poucos. Então, nesta, a presença dos povos indígenas e da sociedade civil foi sentida, e acho que isso tem muito valor e relevância e pode levar a bons resultados nas salas de negociação.
MS: Vamos falar um pouco mais sobre sua carreira musical, já que você lançou um novo single recentemente. Pode nos contar mais sobre como sua carreira musical se conecta ao seu ativismo?
IA: A música se conecta com o ativismo porque é a mesma pessoa fazendo as duas coisas; sou eu fazendo música, sou eu resistindo. Então, acho que isso criou uma plataforma muito boa para desenvolver essas áreas. Recentemente, lançamos duas músicas chamadas “Mapuchill” e “KOKOCHI”, que têm um estilo urbano, que é o meu estilo musical: reggaeton, dembow, guaracha. E tem sido muito bonito, especialmente porque tenho a oportunidade de conhecer outros irmãos e irmãs indígenas que fazem música como eu, que são ativistas como eu. Então, tudo isso é muito bonito e valioso para mim.
MS: Você está no Brasil há quase um mês. Como tem sido essa experiência para você? O que você achou das pessoas que conheceu, da cultura? Há algo que foi muito importante para você neste último mês?
IA: Bem, a cultura no Brasil é incrível. A quantidade de vida, a quantidade de música em cada esquina, em cada lugar, é inacreditável. Toda noite tem carimbó, tem festa. Acho que é muito diferente do Chile. O Chile é mais tranquilo; não há tanta liberdade para dançar, para ser você mesmo. E acho que o Brasil é assim porque faz muito calor. Sinto que as pessoas querem se soltar de alguma forma; o calor te deixa, sei lá, mais apaixonado, mais intenso. Então, acho que amo o Brasil, amo mesmo. Amo o Brasil.
MS: Que lindo! Uma das minhas últimas perguntas é sobre a organização não governamental que você criou para os povos indígenas no Chile, seu país. Pode falar mais sobre ela?
IA: É o Centro Indígena de Ação Integral, a organização com a qual viemos trabalhar na COP. É uma organização recém-formada; nós a fundamos junto com outras irmãs do Chile. É uma organização que busca ter impacto internacionalmente e também territorialmente, já que percebemos que existem pouquíssimas organizações onde jovens indígenas trabalham pela terra, pelas comunidades. Então, sentimos que é algo muito importante. Acabou de ser criada, mas temos muitas redes de contatos e muito entusiasmo para trabalhar e torná-la um sucesso, para que seja conhecida em diferentes lugares e alcance objetivos políticos, como ajudar a desenvolver regulamentações para proteger nossos ecossistemas, capacitar novos jovens e empoderar mulheres indígenas. Portanto, estamos muito felizes com esta organização que criamos para lutar pelas causas indígenas em nosso próprio país.
MS: Você gostaria de deixar uma mensagem para os brasileiros sobre arte indígena, sobre música indígena?
IA: Bem, minha mensagem seria para o Brasil ouvir a música latino-americana. Acho muito valioso que, dentro do nosso território sul-americano, possamos olhar para nossos próprios irmãos e irmãs que estão fazendo música, que possamos apoiá-los, ouvi-los, porque a música é realmente incrível, é muito boa, não fica devendo nada à música americana, à música mainstream, à música que vem do Norte; aliás, nosso novo Norte precisa ser o Sul.
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