Rose Gray é sem dúvidas uma das grandes revelações de 2025. Seu álbum de estreia, Louder, Please, foi lançado em janeiro e trouxe sucessos instantâneos como “Party People” e “Wet & Wild”, que foram abraçadas pela internet e pela comunidade clubber.
Gray faz parte da onda de artistas que estão trazendo de volta a dance music e mesclando a música eletrônica ao pop novamente, como fizeram recentemente Charli XCX, Troye Sivan e Caroline Polachek.
Nativa do Reino Unido, Rose Gray viu seu primeiro álbum de estúdio finalmente decolar depois de mais de uma década tendo seus altos e baixos com a indústria musical. O público brasileiro, particularmente, acolheu a cantora como um novo ícone da vida noturna. Em entrevista ao Mad Sound, Gray se mostra muito consciente das festas temáticas que tocam suas músicas e se mostra ansiosa para conhecer o Brasil o quão antes possível.
Confira na íntegra:
Mad Sound: Olá Rose, é um prazer te conhecer. Meu nome é Gabriela, eu escrevo para um site chamado Mad Sound. Estou muito feliz que estamos tendo essa conversa porque Louder, Please tem sido meu álbum do verão. É verão aqui no hemisfério sul, então eu tenho ouvido sem parar desde janeiro. Estou muito feliz de estar falando com você.
Rose Gray: Ah, obrigada! Estou sinceramente impressionada com todo o amor que tenho recebido do Brasil. É incrível.
MS: O que você viu até agora sobre a recepção do álbum no Brasil?
RG: As mensagens mais incríveis. Muitas DMs que, infelizmente, eu simplesmente não consigo responder. Caso contrário, eu ficaria no meu telefone o tempo todo [risos]. Mas eu tento responder a muitas delas e, vejo muitas coisas de movimento online acontecendo. Vídeos de festas que estão acontecendo, as baladas com tema do Louder, Please [risos].
MS: Era esse tipo de resposta que você esperava quando estava fazendo esse álbum? Era algo que passava pela sua cabeça?
RG: Eu estava muito consciente que – obviamente está acabando agora, mas nós estamos no meio do inverno aqui. E aqui no Reino Unido, todo mundo fica meio desanimado no inverno. Não há muitas festas acontecendo e as pessoas querem ficar quentinhas e confortáveis. Então quando lançamos o álbum, eu estava muito ciente do fato de que há um grande mundo lá fora. Eu fiquei um pouco triste por não sair no verão britânico, mas comecei a pensar: “Espera um minuto. Existem muitos lugares onde é verão.” Então eu tinha um pequeno pressentimento de que talvez ele se conectasse em lugares mais quentes. Eu nunca estive no Brasil, mas é o topo da minha lista. Então eu fiquei muito animada quando comecei a ver os números, os streams e ver que as cidades em que ele está sendo mais tocado são no Brasil.
MS: Eu tinha guardado uma pequena curiosidade para você para o final da entrevista, mas já que começamos a falar sobre isso… Ontem mesmo, o Louder, Please estava na posição 87 no Top 100 Álbuns da Apple Music aqui no Brasil.
RG: Uau!
MS: Como você se sente com essa novidade?
RG: Isso é tão legal! Ai, meu Deus. Nós não sabíamos disso! Eu não sabia disso. Uau. Vou contar no meu grupo do WhatsApp!
MS: Vou te perguntar um pouco mais sobre o álbum. Primeiramente, eu adorei sua escolha de singles para o Louder, Please. “Wet & Wild” e “Angel of Satisfaction” são minhas favoritas e, obviamente, as pessoas estão amando “Party People”. Você sabia desde o começo que essas músicas ou até mesmo esse álbum seriam um verdadeiro sucesso para você?
RG: Eu amava [o álbum] e sabia que as pessoas ao meu redor também amavam. Mas, ao mesmo tempo, eu tenho tantos amigos e contemporâneos que fazem música incrível, lançam um trabalho incrível, e isso não recebe o reconhecimento que merece. Então, por mais que eu acreditasse no álbum e o amasse, até o dia em que ele foi lançado eu não tinha ideia de como ele iria se conectar. Eu não sabia se seria ouvido por muitas pessoas. Talvez eu devesse ter tido mais fé, mas isso é algo difícil de conseguir. Eu estou em uma gravadora independente e não tenho uma máquina [de pessoas] operando atrás de mim. Muito disso vem de mim e dos meus empresários e de muito trabalho duro. Então, eu não acho que esperava que isso se conectasse tanto quanto está se conectando.
MS: Tem alguma faixa que você se divertiu muito fazendo?
RG: Me diverti muito fazendo “Angel of Satisfaction”. Foi muito bobinho e eu pude gritar bastante no estúdio porque a escrevi com Justin Tranter. “Switch” também foi muito divertida de escrever, super irônica. Honestamente, algumas músicas foram mais um trabalho de amor. Algumas delas levaram um pouco mais de tempo para serem elaboradas. Mas eu me diverti muito fazendo o álbum, foi muito divertido.
MS: O álbum está trazendo de volta algo que eu pessoalmente sinto falta na música pop, que é a dance music. E agora muitas pessoas estão fazendo isso, o que para mim é ótimo. Qual é sua história pessoal com a dance music. E por que você escolheu fazer um álbum como esse agora?
RG: Eu me apaixonei pela dance music quando comecei a frequentar clubes e a escapar e ser jovem em Londres com meus amigos e nós todos saíamos o tempo todo. Estávamos vivendo pelos fins de semana e isso coincidiu comigo meio que caindo fora da indústria musical muito jovem. E eu tinha muita música que eu tinha feito que era em um estilo muito diferente. Era muito emocional. E eu meio que me desentendi com esse tipo de música. Eu simplesmente sentia que não era muito eu. Eu amava, mas não me sentia muito eu.
Então comecei a festejar e me apaixonei pela dance music e comecei a descobrir vários artistas incríveis, principalmente mulheres que tinham vozes malucas, vozes muito interessantes. Algumas cheias de emoção, algumas operísticas, que brilhavam por cima dos dance breaks. Pessoas como Rachel do Opus III, Lady Miss Kier, que canta “Groove Is In The Heart”. Fiquei obcecada por ela, ouvi todas as músicas dela. Eu redescobri Madonna, ouvi o Ray of Light (1998) depois de adulta e fiquei muito surpresa. Me apaixonei pela Björk. Eu cresci amando a FKA Twigs e ouvindo absolutamente tudo que ela lançava.
Tudo isso meio que coincidiu e eu comecei a pensar que queria fazer dance music, se é isso que ouço nas festas, se é o que gosto de ouvir. Mas eu quero usar minha voz. Ainda quero usar minha musicalidade porque sou uma cantora treinada e uma vocalista. Então comecei a experimentar bastante. Cometi muitos erros, para ser honesta. Eu lancei muitas músicas. Não foi necessariamente um erro, eu amo tudo que já lancei, mas eu precisei redescobrir minha voz e minha técnica.
MS: E você está nesse ramo há um tempo. Como você mesma disse, aconteceram alguns imprevistos e atrasos ao longo dos anos e agora as coisas parecem estar finalmente funcionando pra você. Como tem sido ver que um projeto tão importante pra você tem ganhado bastante reconhecimento?
RG: Tem sido ótimo! Parece meio dramático, mas desde que o álbum foi lançado eu estou dormindo melhor. Acho que todo o meu cortisol diminuiu porque eu estava estressada e triste com a possibilidade das pessoas não ouvirem meu álbum. Eu estava preocupada que ele não fosse vingar.
Acho que ele ainda não vingou o tanto que ele merece. Acho que tenho um longo caminho a percorrer e ainda sinto que provavelmente há cerca de 99,9% de pessoas no planeta que não têm ideia do que eu faço. Mas foram seis semanas muito divertidas. Tem sido um turbilhão.
Não consigo imaginar o que as pessoas sentem quando viralizam e coisas assim, porque isso é um sucesso que vem da noite para o dia, mas é uma loucura para mim só estar em uma festa da indústria ou algo assim e eu fico realmente chocada quando alguém sabe quem eu sou. Ainda estou me acostumando com as pessoas realmente conhecendo minha música. Acho que estou muito acostumada com as pessoas me perguntando: “O que você faz?”
MS: O Louder, Please foi lançado em uma época interessante, porque ele veio bem no rastro do “Brat Summer”, que foi algo grande para a Charli [XCX]. Como você mesma disse, não é verão onde você mora, mas é verão em outro lugar, como aqui no Brasil. Nós não tivemos um verão Brat, então agora estamos dando festas com o seu álbum, estamos tendo um verão Louder, Please. Você acha que existe um motivo específico para as pessoas estarem mais interessadas em dance music nesse momento?
RG: Tem acontecido uma onda. Eu sei que a dance music é muito forte no Brasil. Estou ciente de que a cena clubber no Brasil é insana. Qualquer amigo meu que já foi até aí me diz que as festas de vocês fazem as do Reino Unido parecerem horrorosas [risos].
Acho que a dance music sempre teve seus picos quando havia coisas malucas acontecendo no mundo. Acho que sempre há coisas malucas acontecendo, mas parece que nos últimos anos tem sido um tapa na cara atrás do outro com essas coisas. Então, acho que as pessoas querem escapar e experimentar com a dance music. E também tem algo surgindo. Eu sinto que, graças à Charli – e a muitas pessoas que fizeram isso antes da Charli – agora existe uma compreensão e uma abertura dentro da indústria que não é necessariamente uma coisa só. É música eletrônica, mas também é pop, mas também é industrial, mas também é techno. E agora isso tudo pode estar no rádio e nas paradas porque a Charli e o “Brat Summer” simplesmente dominaram todo mundo. Então, eu acho que é ótimo, na verdade. Acho que é realmente emocionante.
MS: Você mencionou a cena clubber do Brasil e sua vontade de nos visitar. Você tem planos de fazer isso em breve?
RG: Não tenho nada confirmado ainda, mas eu estou em conversas constantes com meu agente e meu time. Estou muito ciente das festas que estão acontecendo com o meu rosto, então eu estou realmente tentando agendar uma viagem e eu também quero muito passar um período de férias no Brasil. Mas eu não posso ir até aí e não fazer uma performance, então preciso dar um jeito de conciliar os dois.
MS: Você consideraria vir aqui mesmo que não fosse para um show? Algo como uma festa, um DJ set ou algo assim?
RG: Com certeza.
MS: Quais são suas esperanças e seus planos para o futuro, considerando o momento em que você está agora?
RG: Quero continuar nessa trajetória. Sinto que coisas incríveis acontecem todos os dias, estou agendando shows, festivais… Mas, honestamente, eu quero ser uma artista de álbuns. Estou pronta para me tornar esse tipo de artista. Quero lançar outro álbum talvez ano que vem ou no final do ano que vem. Quero sair em uma grande turnê e fazer shows no Brasil, na Austrália, no México. Eu não toquei em muitos lugares ainda, então me tornar uma artista que está em turnê é algo grande pra mim. Existem muitas coisas que eu quero que aconteçam. Mas, sinceramente, só ser uma artista de álbuns já é algo enorme pra mim. Continuar fazendo isso. Não vou parar.
MS: Você já está trabalhando nesse próximo álbum ou você tem curtido a fase Louder, Please?
RG: Eu definitivamente estou curtindo o Louder, Please e quero ficar nessa fase porque acho que ele ainda tem muitas era por vir. Não acabou ainda! Mas definitivamente eu tenho planos para um segundo álbum em algum lugar da minha cabeça.
MS: Você tem alguma faixa favorita no Louder, Please que talvez não receba tanta atenção do público?
RG: “Tectonic”. Não acho que ela seja “subestimada” porque as pessoas que a conhecem costumam gostar dela. Eu não olho muito para a parte de streaming mais, mas eu acho que essa música é muito especial. É muito especial de performar ao vivo, tem um sentimento bastante espiritual.
