Bem-vindos à Chromatica: o sexto álbum de Lady Gaga que significa muito mais que o retorno da artista ao pop. O disco se trata da visão do mundo pelos olhos de Gaga em meio à uma batalha afim de sair das profundezas que ela se encontrava.

“Eu quero fazer um disco que incentive as pessoas a se reanimarem mesmo nos momentos mais tristes. (…) Se você está passando por momentos de dor e está ouvindo a essa música, só saiba que eu sei o que é sentir dor. E eu também sei como é para não deixar isso arruinar sua vida”, disse a cantora sobre o álbum, para a Paper Magazine

Oscar, Grammys ao lado de Tony Bennett, atuação intensa na política, a resposta para a nova-iorquina encontrar a cura de sua dor estava longe do que os olhos podiam ver nos últimos anos, mas intrinsíco a seus ouvidos: o som, a música. Tal fator se tornou tão importante na batalha de Gaga durante a produção do disco, que o símbolo de Chromatica é o símbolo matemático para som.

O disco, dividido em três interludes de orquestras que transformam a experiência de um simples álbum pop, de fato parece um teletransporte para um planeta desconhecido em que, segundo Gaga, canções calmas são proibidas, e até o mais triste dos momentos são acompanhados por batidas house contagiantes.

Depois da primeira interlude, “Chromatica I”, a impressão é de se estar entrando em um mundo como de Game Of Thrones, no entanto, a nostálgica e indiscutívelmente dançante “Alice”, deixa claro que o mundo o qual estamos visitando é baseado na pista de dança, na aglomeração, na música. A escolha da canção como primeira do álbum não poderia ser mais perfeita para introduzir a ideia do disco.

“Could you put me out of this alive?”, pergunta Gaga na primeira frase do álbum, e uma pergunta díficil assim não foi feita por acaso, pois, apesar de ser o disco mais dançante da carreira da artista, é o que possui as letras mais pessoais da mesma. “Maestro, play me your symphony, I will listen to anything / Take me on a trip DJ, free my mind”, a salvação através da música fica clara em trechos como esse, que reforçam que talvez a expressão popular “Quem dança seus males espanta”, possa ser a mais compatível com o mundo de Chromatica.

A história que o álbum tem como proposta narrar, é feita de maneira aparentemente não linear, tendo altos e baixos da jornada de Gaga sendo encaixados de modo não tão coeso com a narração.

As canções “Fun Tonight” “911”, “Plastic Doll” e “Replay”, mostram os momentos obscuros dessa aventura, com destaque para “911”, faixa que fala sobre a relação de Gaga com um antipsicótico que toma para domar a si própria, afirmando na canção que sua maior inimiga é ela mesma. A medicação é tão forte que pode deixar a artista apática, como canta no trecho “Can’t see my cry”, no entanto, vê o remédico como uma salvação, o descrevendo como “Paradise is in my hands”.

Os diferentes tons de vozes de Gaga e os backing vocals da canção a tornam uma forte concorrente para melhor canção do disco.

Os momentos de esperança e felicidade através da música e do amor, componentes indiscutíveis em Chromatica, aparecem nas canções “Stupid Love”, “Free Woman”, “Enigma”, “1000 Doves”, “Sine From Above”, com Elton John, “Babylon”, “Rain On Me”, com Ariana Grande e “Sour Candy”, com BLACKPINK, colaborações essas que não poderiam ter sido feitas mais perfeitamente estratégicas, juntando dois dos maiores nomes do pop nos últimos anos que cuidaram de seus fãs enquanto Gaga não retornava para o gênero.

Certamente, a maior surpresa desse álbum veio na décima quarta faixa, na colaboração com o compadre de Gaga, ninguém menos que Sir Elton John. Música devagar com piano? Em Chromatica ninguém nunca ouviu falar.

A canção simboliza a relação de gratidão que ambos artistas tem com a música, por salvarem sua vida de momentos tão críticos, relembrando sua infância e a descoberta do som que transformaram os dois em estrelas, “Then the signal split in two / The sound created stars like me and you / Before there was love, there was silence”.

A letra emocionante é acompanhada de uma batida contagiante que tem como maior surpresa ainda um final acelerado que deixa a faixa mais especial e curiosa.

A viagem termina com a excêntrica, brilhante e ultra-divertida “Babylon”, a celebração dos desafios enfrentados pela cantora durante o disco, mas, mais do que isso, segundo ela, simboliza o começo de uma nova fase e de um novo “ela”, em que ela irá continuar dançando entre os novos obstáculos que certamente irão a acompanhar.

Chromatica é o manifesto do mundo sob as lentes cor-de-rosa que Lady Gaga parece batalhar todo dia para enxergar, um disco sobre a batalha para uma saúde mental melhor, a busca pelo amor próprio e daqueles que nos cercam.

E mais do que um presente para seus fãs, se trata de um presente para a própria artista, mais do que nunca depois de tantos anos de carreira, se permitindo ser vulnerável consigo mesma e com o público através da batida da música, aquela que verdadeiramente deixa seu coração vivo.

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