Dias antes do lançamento do álbum A Brief Inquiry Into Online Relationships, o vocalista do The 1975, Matty Healy, reservou um tempo para conversar com o Mad Sound. Nada mais apropriado do que a conversa ter acontecido através de um celular ruidoso. O novo álbum, como o próprio nome diz, aventura-se sobre as falhas relações interpessoais pós-modernas. Não sem antes passar por doenças sexualmente transmissíveis, Trump e Kanye West, suicídio e violência policial. Afinal, todas essas coisas podem realmente estar relacionadas.

Na verdade, toda essa temática surgiu por causa dos vícios de Matty Healy. O vocalista assumiu no ano passado ser viciado em heroína e passou sete semanas em uma clínica de reabilitação em Barbados. Mas, mesmo na reabilitação, Matty não largava o celular. “Eu percebi que todas as minhas relações começaram a se resumir às redes sociais. E, quero dizer, você não pode escrever sobre algo se não passou por aquilo. Foi a minha experiência”, afirmou.

“Para mim, parece muito óbvio como a internet pode ser prejudicial. Imagine uma jovem menina no Facebook. quantas relações prejudiciais ela pode ter ali? E hoje parece que as pessoas não sabem mais conviver pessoalmente. Você sai de casa e conversa com as pessoas sobre as coisas que aconteceram na internet. Acho tudo isso muito chato”, confessou Healy.

A internet se tornou mais um vício para a sociedade. Vício que o vocalista, com propriedade, relaciona ao próprio problema com heroína. “É exatamente a mesma coisa. Você se torna uma pessoa chata, afeta seus amigos mas não percebe. A relação com a droga é a mesma relação que se tem com o celular”.

Na música “Its Not Living If Its Not With You”, um certo personagem chamado Danny fala sobre algo sem o qual não consegue viver. Algo que “colapsa suas veias”. “A música é sobre mim. Às vezes eu acabo me escondendo atrás de alguma coisa para não ter que me mostrar para o mundo. Mas eu tento não mentir. Eu escrevo sempre sobre o que eu sinto exatamente no meu dia a dia”. Matty assume que não teria escrito sobre a heroína se não estivesse limpo há tanto tempo.

Mas o cantor parece achar que a sociedade usa esses subterfúgios para fugir da realidade mundana. Seja as drogas ou as redes sociais. “Nós precisamos de algo que pare o nosso medo de morrer. O sexo, a internet, as drogas são os meios que as pessoas acham para esquecer um pouco das responsabilidades”.

Antes de julgar a deterioração das relações pessoais, o The 1975 está mais interessado em discutir propondo uma nova abordagem. É como se o single, e o clipe, de “Sincerity Is Scary” fosse a chave para entender o novo momento da banda. Eles denunciam o “medo pós-moderno de ser real” justamente com um álbum que tenta ser o mais real possível. “Eu penso nesse disco como mais aberto, mais fácil e genuinamente sincero”, avalia o cantor.

Enquanto A Brief Inquiry Into Online Relationships é lançado, a banda já trabalha no sucessor Notes On A Conditional Form. Se o disco atual parece tão pessoal que foge do estereótipo de álbum de pop-rock, e Matty do estereótipo de rockstar que já perseguiu antes, o que esperar do próximo? “Eu sei tanto sobre ele quanto você”, brincou o músico. “Eu nunca poderia te afirmar sobre como seria o Inquiry nesse mesmo período do ano passado. A única coisa que eu tento fazer é colocar todas essas ideias e conceitos malucos que estão na minha cabeça.”

Entre os dois lançamentos, os fãs brasileiros terão a chance de ver o The 1975 no Lollapalooza de 2019. No show, Matty promete novidades. “As pessoas gostam de ouvir coisas antigas e cantar, mas também gostam de ouvir coisas novas. Daremos ambos no Lollapalooza”. Ele ainda disse que estão muito ansiosos para reencontrar os fãs no Brasil. Que esse encontro seja o mais sincero possível, sem o medo pós-moderno de ser real.

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