Texto por: Thiago Vidal

Festivais têm sido um assunto complicado atualmente. Muitos nomes, poucas novidades e um certo sequestro publicitário tiram o foco do assunto sobre o qual os eventos deveriam ser: a música.

Fica a cargo da cena independente movimentar o cenário, trazer nomes novos e buscar uma forma de entregar uma experiência agradável de fato para as pessoas. Acho que essa é a proposta real do Ale Giglio, mente por trás do canal Minuto Indie, idealizador e produtor do 5 bandas. O festival cumpriu tudo o que se propôs a entregar: apresentar novas bandas, dar espaço para criações independentes e se consolidar como um espaço importante para a cena.

Apresentações da noite

Paira subiu ao palco às 20h em ponto e desde a intro a ideia do duo mineiro deu indícios de como seriam os próximos 30 minutos. Intenso e onírico, a mistura de gêneros que abrange uma ampla gama de elementos que vão do Emotional Hardcore ao Drum n’ Bass, colocou o público da casa que ainda não estava totalmente lotada num transe eufórico. A voz suave de Clara Borges dava contraste aos beats em alto bpm que eram base pras camadas de guitarras distorcidas.

Segunda apresentação da noite, Besouro Mulher entrou no palco como quem joga em casa. À vontade desde o primeiro momento, Sophia Chablau brinca, tanto com os membros da própria banda quanto com o público. “Seus Vazios” chama atenção com suas camadas de reverb, “Pão Francês” por suas frases rápidas, ditas de forma ritmada. As letras simples de situações cotidianas e fáceis de se relacionar é o que envolve os presentes que devolvem os refrões aos gritos a pedidos da vocalista. “Torresmo”, releitura da canção de Juliana Perdigão e Arnaldo Antunes é tocada e ao final Sophia instiga “procurem sobre Juliana, busquem porque ela é uma artista foda”. 

“Dá tempo de mais uma?” o questionamento acontece antes dos primeiros acordes num passo lento introduzirem “Madalena”, faixa mais famosa da banda, cantada pela casa inteira do início ao fim. Ao vivo, a banda utiliza essa amálgama de referências que resultam num trabalho autoral energético, por vezes caótico, que deságua em refrões hipnotizantes com toques progressivos.

Surpreendente, arrebatador e expressivo, a surpresa da noite ficou por conta do Hoovaranas.

O trio de Math-Rock foi abrasador do ínicio ao fim, apresentando as músicas do último lançamento, Três, o grupo colocou a Casa Rockambole abaixo. 30 minutos de energia que beirava a desordem, ninguém parado na pista em resposta a execução perfeita dos pontagrossenses. “Fuga” fechou o set enquanto chegava também ao ápice da apresentação, com o power trio entregue e mostrando toda a versatilidade do seu math-jazz-psicodélico. Um set curto, conciso e bem executado, infelizmente sem bis, mesmo que a única coisa audível quando os instrumentos pararam fosse “mais um, mais um” e “é Hoovaranas!” na casa.

Não é exagero dizer que o quarteto do Pluma era a apresentação mais esperada da noite. Com um pequeno atraso que era traduzido entre uma mistura de antecipação e ansiedade no salão, o grupo surge tocando os primeiros acordes com ares de uma jam session entre amigos que se conhecem há muito tempo. Com “Quando Eu Tô Perto” abrindo o set, faixa que inicia o álbum de estreia da banda, Não Leve a Mal, lançado no final de Julho, era possível sentir um pouco de nervosismo e excitação no rosto dos músicos em ver o trabalho ganhando vida ao vivo. “Corrida!” single de lançamento, vem em seguida com uma recepção calorosa, entre pessoas dançando e casais cantando juntos o refrão. “Se Você Quiser” mostrou o equilíbrio entre synthpop e uma psicodelia progressiva que escala ao fim da faixa.

Durante uma pausa técnica (problemas técnicos que perseguiram, mas não prejudicaram de fato a apresentação) a vocalista Marina Reis utilizou o tempo pra perguntar pra galera quais eram as faixas favoritas do disco recém lançado. “Doce/Amargo” e “Plano Z” vieram em sequência e, para encerrar a noite. “Sem Você”, faixa colaborativa com o duo Deekapz que transformou a Rockambole numa grande pista de dança com a fusão jazz-house presente na composição. Pluma entregou uma apresentação dançante, enérgica e contagiante.

Ale Sater foi o responsável por encerrar a noite. Nome já consolidado na cena independente fez um set intimista, abrindo com “Nós” uma faixa calma e melancólica, sensações que estariam presentes até o fim da apresentação. “Nunca mais”, cantada com voz carregada de emoção e “Ontem” acompanhado pela banda que se uniam entre harmonias do folk com a voz grave e soturna do vocalista. Apesar da casa não estar mais lotada, talvez por conta do horário que já avançava na madrugada, Ale e banda fizeram uma apresentação segura, passando também por algumas faixas do Terno Rei: “Brutal” e “Olha Só”.

O festival 5 bandas retornou para ocupar um espaço que estava vazio desde que a pandemia (é impressionante e cansativo como esse ainda é um assunto que pauta a indústria cultural atual) atingiu o país. Espaço importante pro cenário alternativo como um todo, produzido de forma independente, com valores acessíveis e artistas preocupados em entregar um trabalho autêntico. A sensação final é de um rolê que fomenta a cena e apresenta coisas novas sem que um algoritmo por trás tenha dito o que deve tocar ou o que tem que ser feito, um evento feito por pessoas de verdade, que gostam do que fazem e querem entregar o que de melhor um festival realmente tem a oferecer: música. 

Confira as fotos do nosso colaborador John Alves e alguns cliques também de Marcela Lorenzetti:

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