Jamille Guedes, ou apenas Jamille, é uma compositora e cantora brasiliense de 28 anos. É em São Paulo que ela estabelece a cidade como seu plano de fundo para cantar seus versos por meio de suas vivências. Entre os anos de 2023 e 2025, as composições são escritas e arranjos criados em colaboração com os músicos Digão (baixo e direção musical), Lili Jorge (guitarra), Jhow Produz (bateria) e Oscar Junior (teclados).
É em menos de 40 minutos e 12 novas composições que a artista canta sobre o olhar de ser uma mulher neuroatípica: Jamille é diagnosticada com transtorno bipolar tipo 1. Ainda assim, Flores Vermelhas, primeiro álbum de estúdio da cantora, carrega em suas composições e melodias um olhar sólido e criativo da MPB, do neo soul e certamente uma mesclagem da música disco e pop. O álbum foi gravado, produzido e mixado pelo selo Yellowtone e foi disponibilizado nas plataformas de áudio no dia 05 de novembro.
Em Flores Vermelhas, Jamille mergulha de braços abertos em versos que falam sobre amor, afeto, autoconhecimento e desejo. O nome do álbum é inspirado no poema “A Flor e a Náusea” de Carlos Drummond de Andrade, no qual entre tantas analogias, ele relata sobre uma flor que nasceu no asfalto. Esse trabalho sucede o encantador EP INTENSA, lançado em abril de 2024, com destaque para a faixa “Tudo me lembra você”, um groove inconfundível e viciante.
“A ideia veio ao pensar nas adversidades de ser uma pessoa neuroatípica, puxando referências das flores do cerrado, que passam pelo processo de queimada durante a seca em Brasília e, ainda assim, sobrevivem apesar das dificuldades. O vermelho vem disso, sempre foi a cor que estava na minha mente, e Flores Vermelhas traz essa reflexão do poema”, explica a cantora.
A faixa “Foto” conta com vocais sublimes e arranjos suaves, amplificados na versão ao vivo, também existe uma Jamille totalmente vulnerável, como se estivéssemos ouvindo direto de uma gravação de voz, de tão íntimo. Entretanto é em “Zero a Zero”, que surgem desilusões amorosas, num verdadeiro encontro e passeio pela grande metrópole. A faixa conta com quase 2 minutos de instrumentais, espaço para os músicos que a acompanham brilharem.
Já em “Agonia”, “Magnólias” e “Dança Colado” se destacam as inspirações de Jamille, que vão de Fernanda Abreu a Sade. “Não Vai Dar, Meu Bem”, “Coisas Escondidas” e “Instrumental” são marcadas por energias de filmes de paisagens indescritíveis. Em “Como se Amanhã Fosse o Último Dia”, a cantora brasiliense recebe o artista Férre, onde duetam numa melódica progressão de acordes acompanhada pelo teclado, muito bem executado.
Se para além de furar o asfalto, o tédio, ou qualquer outra adversidade, conviver numa cidade caótica e turbulenta como São Paulo e ainda assim conseguir cantar suas dificuldades de forma tão sentimental, que a carreira de Jamille não seja nunca considerada sem ênfase quando 12 faixas nos lembram que a vida também pode ser vivida intensamente e lembrada, como cartões postais.
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