A produtora e DJ SOPHIE recebeu um álbum póstumo em sua homenagem. Lançado nesta quinta-feira, 26, o disco autointitulado SOPHIE marca o segundo álbum de estúdio da artista escocesa.
O disco estava sendo produzido em parceria com o irmão da cantora e compositora, Ben Long, que decidiu finalizar e lançar o projeto. Ben esteve presente em grande parte do processo criativo e sabia que, para SOPHIE, seria um desserviço não compartilhar o trabalho com o mundo. Embora alguns vocais ainda precisassem de ajustes, o disco já carregava a expectativa de ser algo mais longo e repleto de colaborações.
Essa decisão de Ben reflete a intenção de honrar o legado da irmã, mesmo que o resultado final não tenha alcançado o nível de polimento esperado caso SOPHIE tivesse concluído o álbum por conta própria. A produtora e DJ, faleceu aos 34 anos em 2021, após uma queda acidental de um prédio de três andares em Atenas, na Grécia.
Reconhecida como precursora do hyperpop — um gênero que explora os limites da música pop ao combinar autotune, sintetizadores e texturas musicais intensas — SOPHIE conquistou um reconhecimento artístico que ajudou a moldar uma nova era da música pop. Apesar de apresentar traços da genialidade musical da artista, o novo álbum transmite a sensação de que algo está faltando. Em diversos momentos, a obra parece carecer de coesão, dando a impressão de que não foi planejada para ser completamente integrada. Isso provavelmente se deve ao fato de que o projeto não foi finalizado pela própria SOPHIE, interrompido tragicamente por sua morte.
O disco possui 16 faixas e é composto por algumas vozes da música pop alternativa, como Kim Petras, Nina Kravis, LIZ e outros. O projeto também leva uma faixa trap, na música “Rawwwwww (feat. Jozzy)”.
A colaboração com Jozzy aparece como a segunda faixa, logo após uma intro de pouco mais de quatro minutos. No entanto, a escolha dessa música para praticamente abrir o projeto não parece das mais assertivas. Embora no universo criativo de SOPHIE não existam escolhas “certas” ou “erradas”, essa faixa falha em transmitir a atmosfera das músicas que vêm em seguida.
Em “Plunging Asymptote (feat. Juliana Huxtable)”, a sonoridade finalmente ganha sentido — definitivamente, essa poderia ter sido uma excelente segunda faixa. O som é sintético e autêntico, e dá sequência a uma faixa extremamente emocionante.
“The Dome’s Protection (feat. Nina Kraviz)” se destaca como uma das grandes faixas do álbum. A música flui em um beat atmosférico, enquanto a sequência de palavras de Nina ascende em harmonia com o ritmo, levando você a uma viagem dimensional pelo universo. “Afinal, “deixar a realidade” é sempre uma construção da imaginação”. Esse trecho é especialmente tocante, pois a música se revela uma profunda homenagem à passagem de SOPHIE por este mundo, transcendente e infinita.
O pop comercial
“Reason Why (feat. Kim Petras & BC Kingdom)” foi um dos singles lançados antes do álbum, gerando estranhamento entre os fãs, já que não parece se encaixar em um disco solo da produtora. Embora seja uma faixa divertida e envolvente, poderia facilmente ser trabalhada para outra artista, afastando-se do escopo pessoal de SOPHIE. O mesmo se aplica a “Live In My Truth (feat. BC Kingdom & LIZ)”.
SOPHIE costumava levar suas músicas ao extremo, explorando tanto o maximalismo de elementos sonoros quanto o minimalismo, onde o silêncio se tornava tão marcante quanto os sons. O meio do álbum explora um lado do pop noturno e mais “consumível”, semelhante ao que foi feito em BRAT, da Charli XCX.
A partir da nona faixa, “Elegance (feat. Popstar)”, a personalidade de SOPHIE volta a brilhar, mas ainda assim há a sensação de que o trabalho não foi totalmente concluído. Os beats parecem faltar mais camadas de estímulos sensoriais. “My Forever (feat. Cecile Believe)” também foi um dos singles lançados anteriormente. A faixa é assertiva, sentimental e vanguardista, sem dúvida se destaca e vale a pena ouvir repetidamente. Por outro lado, “Love Me Off Earth (feat. Doss)”, a última música, foge um pouco do que foi apresentado anteriormente, trazendo muito mais elementos e dimensão. É uma daquelas faixas que você deseja ouvir em uma festa com os amigos.
O legado de SOPHIE
É inegável o impacto de SOPHIE na história da música pop que conhecemos hoje. Artistas como Katy Perry e Camila Cabello dominam a indústria pop há anos — em termos de números — e continuam buscando as mudanças que SOPHIE, A.G. Cook, Slayyyter e Charli XCX apresentaram.
Esses artistas também estão na cena há mais de uma década, mas não receberam o mesmo reconhecimento que as divas pop de “Señorita” e “Firework”. Seus muitos experimentos e foco na base de seu trabalho foram fundamentais para que o hyperpop alcançasse a ascensão que vemos hoje.
Além disso, SOPHIE é a primeira artista trans a ser indicada ao Grammy na categoria de Melhor Álbum de Dance/Eletrônica, com Oil Of Every Pearl’s Un-Insides.
O lançamento de SOPHIE traz memórias, mas escasseia o poder da genialidade da produtora. Seu legado se estende muito mais na influência que exerce sobre seus colegas de trabalho do que no álbum em si.