Normani percorreu um longo caminho até finalizar seu primeiro álbum solo, Dopamine, que representa os altos e baixos de sua vida pessoal. Lançado em junho de 2024, o disco é fortemente influenciado pelo R&B, pop sofisticado e o hip-hop. 

Em 2019, a ex-integrante do Fifth Harmony enfrentou atritos com a gravadora, que a pressionava a lançar o single “Motivation”, alegando que ela precisava de uma música para apresentar no VMA daquele ano. No entanto, a artista não gostava da sonoridade da canção, especialmente porque já havia passado por um processo árduo em seu antigo grupo, onde suas vontades como artista não eram consideradas.

O single foi lançado mesmo assim, com o acordo de que o clipe teria uma direção criativa alinhada com suas influências, destacando suas raízes e negritude.

Normani escolheu o nome Dopamine para seu álbum de estreia, após quase chamá-lo de 1906, em homenagem ao número da casa em que sua avó morava – onde viveu grande parte de sua infância. Tempo depois ela considerou Butterfly Effect, pois acreditava que a metamorfose da borboleta significava sua trajetória profissional até então. Finalmente a artista decidiu por Dopamine, acreditando que o título refletia os altos e baixos dos anos de trabalho que a moldaram como artista.

A primeira faixa do álbum é uma parceria com a rapper Starrah. Em “Big Boy”, Normani rima sobre sua ascensão social e sucesso sobre uma linha contínua de baixo e viradas de bateria. Natural de Atlanta, ela explora a importância de sua cidade natal na história do hip-hop, um local descentralizado que consagrou diversos rappers.

Em “Still”, Normani mantém o mesmo ritmo, samplea “Still Tippin” do rapper Mike Jones e dá vida à uma faixa pop rap, encontrando seu equilíbrio. Vale ressaltar que o single que fez a artista perceber seu destino artístico foi “Wild Side” – última música do álbum – em parceria com a rapper Cardi B. “Wild Side”, na verdade, foi lançado em 2021, enquanto ela encontrava a sua sonoridade. 

Em 2022, Normani lançou “Fair”, sua segunda música solo e uma promessa como um single do seu primeiro álbum. Porém, ela paralisou a produção do disco depois que sua mãe recebeu o segundo diagnóstico de câncer de mama – após ter sido curada de um tumor há 19 anos. No ano seguinte, após a conclusão da quimioterapia de sua mãe, seu pai também descobre um câncer de próstata, o que a levou a suspender o lançamento do álbum e focar no tratamento de seus pais. 

Normani canta sobre autoestima, conquistas, empoderamento e sensualidade feminina em suas músicas. “All Yours”, “Lights On” e “Insomnia” exploram esses temas e apresentam uma sonoridade mais sensual. Em “Lights On”, a artista faz uma interpolação de um trecho da música “ELEMENT.”, de Kendrick Lamar, que aparece no tempo 0:32 da faixa de Normani e no tempo 1:05 da faixa do rapper.

Já em “Insomnia”, os vocais de uma de suas maiores inspirações femininas na indústria estão presentes. Brandy gostou tanto do som inspirado em “A Capella (Something’s Missing)” que decidiu participar dos vocais para Normani. Um solo de guitarra entra no finalzinho, nos fazendo experimentar a ideia de que essa música seria uma performance de alto nível ao vivo.

Como cantar sobre se sentir bem, quando não se está bem?

A ex-Fifth Harmony revelou em diversas entrevistas que se considera perfeccionista, devido ao fato de ter começado a fazer aulas de dança muito cedo e de ter vivido em um ambiente competitivo que exigia perfeição a cada passo. Sua experiência no girl group também a expôs a altos níveis de cobrança. Já na infância, a cantora e dançarina foi forçada a se mudar de Nova Orleans para Houston devido à devastação causada pelo furacão Katrina. 

Sem contar os ataques racistas velados e não velados que sofreu durante sua permanência no grupo, Normani recebeu uma sequência de ataques racistas em 2016 dos fãs de sua ex-colega de banda, Camila Cabello. Os fãs alegaram que sentiram uma tensão entre as duas cantoras devido a Normani ter descrito Cabello como “peculiar” e “fofa” em uma entrevista publicada poucos dias antes dos ataques online.

O discurso de ódio dirigido à única mulher negra do grupo quase a fez desistir da turnê, causando danos irreparáveis em sua vida. Ela se afastou das redes sociais, onde hoje em dia também não é ativa, deixando a gestão dessas plataformas por conta de sua equipe. 

Dopamine revisita os desejos de Normani

“Take My Time” e “Grip” celebram o pop, com batidas eletrônicas e refrões viciantes, sempre narrando emoções e inquietações sobre relacionamentos amorosos. “1:59” (feat. Gunna) é uma deliciosa viagem no R&B. O som de Dopamine caracteriza a marca de Normani, embora as composições não se aprofundem muito.

Por fim, destaco a faixa mais forte do álbum, “Tantrums”. Nessa música, Normani colabora com o cantor James Blake, que já trabalhou com Travis Scott, ROSALÍA, SZA, Beyoncé e muitos outros artistas. O duo canta sobre frustração e desilusão amorosa após um término, em um beat envolvente cheio de texturas feitas com os vocais dos dois.

A força e o poder de transformação levaram ao nascimento deste disco. Aos 28 anos, Normani lançou seu primeiro álbum solo, com uma sonoridade assertiva que reflete seu desejo. Dopamine é o atual pop noturno pós 2020.

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