Texto por: Tatiana Cesso
Eles viajam milhares de quilômetros, compram todos os produtos oficiais (e alguns não oficiais também), assistem aos mesmos shows várias vezes e compartilham cada momento nas redes sociais. Os superfãs não são novidade, mas nunca foram tão valorizados pela indústria musical como agora.
Segundo relatório publicado pela Vinyl Me Please, os superfãs representam menos de 2% da base de ouvintes, mas respondem por mais de 80% do engajamento com conteúdo musical online. São eles que impulsionam lançamentos, lotam shows, viralizam tendências e alimentam comunidades digitais em torno dos artistas. A aposta nesse nicho é tão estratégica que o Spotify lançou em 2024 uma categoria exclusiva, o Superfan Tier, com faixas antecipadas, produtos colecionáveis e acesso a experiências VIP.
Quem acompanha de perto essa transformação é Mabel Radel, brasileira radicada em Los Angeles, com mais de 500 shows no currículo como produtora de eventos ao vivo. Ela já trabalhou com nomes como Slipknot, Rosalía, Demi Lovato, Måneskin, Caetano Veloso e Avril Lavigne, além de ter integrado equipes de produção de grandes festas do circuito alternativo, como a Emo Nite, Endless Night Vampire Ball, Gritty in Pink e Vans Warped Tour 2025.
“É impossível ignorar o impacto que os superfãs têm na performance de uma turnê ou campanha. Eles não apenas compram o ingresso — eles transformam o show em uma experiência cultural, geram conteúdo, movimentam comunidades e dão longevidade ao projeto”, afirma Mabel.
Formada em Comunicação e Marketing pela FAAP, Mabel especializou-se em Music Business pelo Musicians Institute Hollywood, onde se formou com honras e recebeu bolsa de mérito. Também concluiu estudos em Negócios com concentração em Marketing pela UCLA Extension. Sua trajetória combina sensibilidade artística com domínio técnico: além de atuar na produção de eventos ao vivo, também liderou estratégias de engajamento digital e reposicionamento de marca, como no caso da ONG Rock Against Racism.
Para ela, a valorização dos superfãs mudou a forma como se planejam os eventos e as campanhas. “Hoje, o produtor que ignora esse público está perdendo a alma do projeto. Tudo precisa ser pensado para gerar identificação, desde o conteúdo nas redes até as ativações presenciais. Um bom evento começa muito antes do show — e continua depois.”
O novo desafio, segundo Mabel, é entender que o engajamento não se limita ao universo pop. “Durante muito tempo se falou de superfãs pensando apenas em artistas como Taylor Swift ou BTS, mas a verdade é que o rock alternativo, o metal, o emo — todos esses gêneros têm comunidades superengajadas que estão prontas para consumir, participar e promover. É aí que entra o trabalho cuidadoso de produção e relacionamento.”
Ao longo da carreira, Mabel desenvolveu campanhas e experiências que conversam diretamente com essas bases. Nos bastidores, ela é conhecida por sua capacidade de organizar operações complexas com olhar emocional — algo que, para ela, faz toda a diferença.
“Sou fã. Meu primeiro show foi do My Chemical Romance em 2008. E é justamente por ter estado do outro lado que hoje sei o valor de tratar o fã com respeito, com atenção. Se você quer que ele invista tempo, dinheiro e energia, precisa entregar algo genuíno.”
Para Mabel, o futuro da música está nas comunidades. “Plataformas e algoritmos mudam. Mas a conexão emocional entre artista e fã é o que sustenta uma carreira. E os superfãs são os guardiões dessa conexão.”
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