Mesclando a sonoridade do punk antigo, com a atitude e postura do garage rock e refrões do power pop, em 2021, a banda punk The Linda Lindas viralizou na internet com o som ácido de sua música “Racist, Sexist Boy”. Três anos depois, o grupo arrebata cada vez mais fãs, demonstra um rápido amadurecimento musical e conquista seu espaço, já não mais como uma promessa, mas como uma realidade.

O quarteto é formado pelas irmãs Lucia e Mila de la Garza (respectivamente guitarra/vocal, 17 anos, e bateria/vocal, 13 anos), a prima das duas, Eloise Wong (baixo/vocal, 16) e a amiga Bela Salazar (guitarra/vocal, 19).

O nome da banda foi inspirado no filme japonês Linda Linda Linda (2005) e na música “Linda Linda”, da cultuada banda japonesa de punk-rock, The Blue Hearts.

“Um pouco antes do lockdown, um garoto da minha classe veio até mim e disse que seu pai o pediu para ficar longe dos chineses. Depois que eu disse a ele que sou chinesa, ele se afastou de mim. Eloise e eu escrevemos essa música com base nessa experiência.” 

Com essa declaração, a baterista Mila de la Garza, na ocasião com 10 anos, deu início a apresentação na biblioteca pública de Los Angeles que rendeu o vídeo viral responsável pelos holofotes em 2021.

Rapidamente a banda chamou a atenção de grandes nomes como Tom Morello, do Rage Against The Machine, Flea, do Red Hot Chili Peppers, Hayley Williams, do Paramore, Kathleen Hanna, do Bikini Kill, Thurston Moore, do Sonic Youth e muitos outros. 

Idade não é documento

Apesar da pouca idade, é notável a capacidade de comunicação das músicas da banda, todas autorais, com questões relevantes da sociedade, sem deixar de lado composições mais intimistas que transparecem a leveza, desafios e inquietações próprias do momento de vida das integrantes. 

Em reportagem para Vogue, o quarteto concordou estar crescendo em um mundo estranho, tomando conhecimento das questões políticas e sociais ao seu redor. As canções surgem então como uma forma de extravasar uma miríade de  sentimentos.

“Muitas vezes há um senso de desamparo e é muito difícil atravessar esses momentos, especialmente na nossa idade. A música consegue ir direto ao seu coração e é algo com o qual todos podem se conectar, se identificar”, diz Lucia.

Muitas composições da banda demonstram esse potencial de conexão. A habilidade do quarteto em transportar as palavras em sentimentos, através de suas músicas que ecoam em toda uma nova geração. No single “Vote”, lançado no ano eleitoral norte-americano de 2020, a banda compartilha a angústia de querer fazer a diferença, mas depender da escolha de terceiros para definir seu destino nas urnas. Não tínhamos idade suficiente para votar, ainda não temos! Queríamos, então, encorajar as pessoas que já tinham idade suficiente a votar”, compartilhou Eloise.

No álbum Growing Up (2022), a banda captura as complexidades da adolescência e da descoberta da própria identidade, ao longo das 10 faixas que compõem o disco. 

Em entrevista a Brooklyn Vegan, Hayley Williams, do Paramore, exaltou a maturidade de suas pupilas. “E temos também uma banda como The Linda Lindas, com tanta voracidade e entusiasmo que nos lembra de nós mesmos de muitas maneiras diferentes. Elas são muito mais espertas do que nós, são muito mais punks do que nós. Elas vão terminar os estudos indo para a escola, enquanto nós apenas fazíamos besteiras em uma van.

“Para mim, elas são muito promissoras para a forma como o cenário musical pode ser daqui para frente. Os jovens deveriam ser levados a sério nas bandas, nós sabemos como é ter pessoas nos questionando por causa da nossa idade, ou por eu ser uma garota tão nova liderando uma banda. É muito importante para nós tentarmos o nosso melhor para contribuir com uma banda como a delas e realmente impulsionar as pessoas que amamos e em quem acreditamos.”

Muito mais do que uma moda passageira

Antes mesmo do vídeo que alçou a banda a novos patamares de popularidade, o quarteto já chamava atenção de importantes nomes e vinha conquistando seu espaço na cena musical. O que rendeu à banda um contrato com a lendária Epitaph Records, dirigida por Brett Gurewitz, do Bad Religion, outra estrela que já reconhecia o talento das adolescentes, mesmo antes da performance viral.

Em 2019, após um cover do clássico “Rebel Girl” que chamou a atenção do Bikini Kill, as meninas do The Linda Lindas abriram um show da banda ícone do movimento Riot Grrrl.

No ano seguinte, um convite para compor uma canção original para o documentário da Netflix, The Claudia Kishi Club (2020). A parceria com a plataforma de streaming continuaria, escolhidas a dedo pela diretora Amy Poehler, a banda compôs a trilha sonora do filme Moxie (2021), que retrata o movimento punk rock feminista dos anos 1990. Já tendo conquistado a graça do mainstream, foi a vez da Amazon Prime solicitar a presença do grupo no filme Dezesseis Facadas (2023), com um cover da atemporal “Little Bit O’ Soul”, popularizada pela The Music Explosion.

Após o sucesso de “Racist, Sexist Boy”, The Linda Lindas lançou seu álbum de estreia, Growing up, em 2022. Com os singles “Oh”, “Talking to Myself” e o homónimo “Growing Up”, sendo os destaques do disco.

O amadurecimento em tão pouco tempo foi ainda mais perceptível com os lançamentos de 2023, “Too Many Things” e “Resolution/Revolution”. No mesmo ano, a banda participou do projeto Re:This is Why, do Paramore, ficando encarregadas da nova interpretação da faixa “The News”. Ainda falando em regravações, o grupo está confirmado no álbum tributo ao disco Stop Making Sense, do Talking Heads, intitulado de Everyone ‘s Getting Involved. O trabalho será lançado no dia 17 de maio.

O rápido crescimento, logo refletiu na presença da banda em palcos do mundo todo.

Da sala de aula para o mundo

O crescimento acelerado não foi exclusividade do ambiente virtual, tendência e desafio de muitos artistas que cresceram na era digital e não conseguem converter os plays em público pagante. Ainda conciliando as atividades escolares com a carreira na música, The Linda Lindas tocou em importantes palcos, festivais e abriu para grandes artistas.

Tocaram em festivais como o Coachella, Lollapalooza, Riot Fest, Head in The Clouds Festival, Punkspring e abriram para bandas do calibre do Best Coast, Bikini Kill, Japanese Breakfast, Yeah Yeah Yeahs, Paramore, se juntarão ainda ao The Smashing Pumpkins e ao Rancid, na perna americana da próxima turnê mundial do Green Day e serão o ato de abertura de um dos shows da Hackney Diamonds Tour do The Rolling Stones, nos Estados Unidos.

A banda percorreu um longo caminho até aqui. Em 2018, elas começaram a tocar juntas, através de uma iniciativa que buscava fornecer meios de empoderamento e incentivo para jovens mulheres na música. 

Hoje, com o seu lema “kids to the front” (crianças para frente), inspirado no icônico “girls to the front”, do Bikini Kill. São as meninas do The Linda Lindas que, cada vez mais, servem de espelho para uma nova geração de garotas. Jovens que buscam se expressar, que almejam conquistar seu espaço, em uma cena, que faz parte de uma sociedade, ainda muito machista. Talvez, sem perceber, elas estejam dando continuidade ao legado de tantas bandas que vieram antes e pavimentado o caminho para as futuras gerações.

Não há forma melhor de encerrar do que citando as impressões finais da cobertura de um show do grupo no The Showbox, em Seattle, pela Razorcake. “Enquanto eu observava as centenas de crianças presentes, me perguntava quantas delas ficariam apaixonadas por esse estilo de música e começariam suas próprias bandas. Eu, desesperadamente espero que isso aconteça. Em um mundo ideal, The Linda Lindas são uma força que inspira toda uma nova geração de bandas punk.”

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