The Clearing já começa com vocais impressionantes de Ellie Roswell questionando seu próprio comportamento em “Thorns”, afinal, seria ela uma narcisista por transformar qualquer experiência pessoal, até mesmo as ruins, em música?

Em seguida, é a vez do primeiro single lançado de The Clearing, “Bloom, Baby, Bloom”. A canção trouxe uma sonoridade explosiva e aumentou as expectativas para o que Wolf Alice apresentaria depois do aclamado álbum Blue Weekend (2021).

A faixa foi uma ótima escolha, afinal, é realmente uma das melhores do álbum, ao tratar da experiência cansativa de ser uma mulher, ao mesmo tempo em que as dificuldades são contornadas, como o desabrochar de uma flor em meio à sujeira. O resultado é uma mistura de ferocidade e delicadeza hipnotizante.

A expectativa de que as próximas canções seguem nessa intensidade não é correspondida, quando a energia diminui nas faixas seguintes, “Just Two Girls” e “Leaning Against The Wall”.

Passenger Seat soa exatamente como a trilha sonora de uma cena de viagem de carro em um filme independente. Apesar de ser divertida de ouvir, é um momento de dúvida se o rock’n’roll mais potente ficou apenas no início.

Marcando a metade de The Clearing, “Play It Out” afunda na melancolia. Acompanhada do piano, a letra reflete sobre os efeitos da passagem do tempo, o desejo de envelhecer bem e continuar com curiosidade sobre a vida. A canção é bonita, mas não traz tanta novidade e poderia facilmente estar no álbum anterior Blue Weekend.

Finalmente em “Bread Butter Tea Sugar” a banda volta a se divertir com uma letra sarcástica sobre um relacionamento que não é saudável, mas satisfaz superficialmente. O deboche abre espaço para um dos momentos instrumentais mais legais do álbum.

“Safe in The World” tem um dos refrões mais cativantes, porém fica ironicamente numa zona segura e deixa a sensação de que poderia ter um crescimento apoteótico, que não acontece.

A fantasmagórica “Midnight” antecede o terceiro single, “White Horses” que traz de volta a força do início do álbum com ares de Fleetwood Mac e vocais que lembram Dolores O’Riordan. O refrão com sonoridade mais contemporânea é uma grata virada e coloca ainda mais personalidade na música, que repete os temas de auto aceitação e auto suficiência que permeiam o álbum.

O encerramento fica por conta de “The Sofa”, com Roswell cheia de esperança de aceitar as partes mais selvagens da sua personalidade, reconhecendo que deseja conexão, mas às vezes só quer uma distração rasa e literalmente apenas ficar deitada no sofá. A reflexão é um bom fechamento que responde com sinceridade a questionamentos feitos em canções anteriores como “Thorns”, “Play It Out”, “Bread Butter Tea Sugar” e “Just Two Girls”.

The Clearing mantém a qualidade dos trabalhos anteriores de Wolf Alice e cativa nos momentos em que a banda não tem receio de ousar e ir além, exagerar nos vocais, colocar mais elementos e oscilações na melodia e na produção.

Com um início muito bom, o meio do álbum apesar de agradável, não tem tanto impacto, deixando o disco como um todo mais tímido do que o esperado. Porém, volta a surpreender na metade final, o que dá vontade de ouvir o álbum mais vezes e aumenta a curiosidade e expectativa sobre futuros trabalhos da banda. 

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