Antes de tudo, não se pode esquecer que a Copa do Mundo é um evento que realça as características problemáticas da sociedade. O torneio começou há menos de uma semana, mas já é possível observar rastros de racismo, machismo e homofobia nas manchetes focadas no campeonato, que sem dúvidas é um dos mais importantes do calendário esportivo.

Exemplos? Aliou Cissé, que comanda a seleção do Senegal, além de ser o único treinador negro da Copa, é o que recebe o menor salário. Um grupo de brasileiros achou engraçado assediar estrangeiras, gravar e colocar o vídeo na Internet — e agora um dos agressores está reclamando da repercussão negativa, alegando não merecer tal julgamento por ser um “pai de família”. A Copa está acontecendo em um país que tem uma lei anti “propaganda gay”, e que, sob a justificativa de “proteger os menores de idade”, proíbe a promoção de “relações não-tradicionais”. Nesse cenário, um casal de dois homens franceses foi agredido no primeiro dia do campeonato.

É importante ressaltar cada uma dessas situações, porque o clima geral é de festa. E devia ser mesmo. A Copa, assim como as Olímpiadas, representa a união dos povos, e celebra a tradição milenar do futebol, que faz milhões de pessoas cantarem e se encantarem nos mais diferentes países do mundo. E, mesmo se você não se importa nenhum pouco com os 22 jogadores em campo em cada jogo, pode aproveitar dessa efervescência cultural e multilinguística propiciada pelo evento.

OK, mas e a música?

Bom, com o gancho desse especial encontro de países, nós do Mad Sound decidimos explorar um pouco mais sobre a atual cena musical gringa. Mas, como não queríamos trazer os mesmos nomes de sempre, decidimos convidar jornalistas culturais para nos ajudar nesta missão. A proposta é simples: pedimos a indicação de cinco bandas/artistas contemporâneos locais, com uma pequena explicação do porquê da escolha e uma música que represente bem o trabalho da pessoa.

E, hoje, trazemos os frutos da nossa primeira parceria, que explora a fervorosa França. Azzedine Fall é editor-assistente da principal revista de cultura pop do país, a Les Inrockuptibles, que começou em 1986 como uma publicação mensal — que falava apenas de música — e hoje se divide em revista de cultura semanal e site de notícias. Além dos canais jornalísticos, a Inrocks (como é chamada popularmente) organiza um dos principais festivais do país, que acontece anualmente há 30 anos em Paris.

Abaixo, conheça os 5 artistas franceses recomendados por Fall — e atualize as playlists!

1- Flavien Berger

Flavien Berger. Crédito: Reprodução/Facebook

Flavien Berger estreou em 2015 com o experimental Léviathan. Um disco que, como dito pela crítica da Inrocks, “não tem medo do desconhecido e dá uma lição de loucura em seus contemporâneos”. E o experimentalismo citado não engloba apenas testes com gêneros musicais, mas com os materiais para produção sonora. Berger estudou design sonoro na Escola Superior Nacional de Criação Industrial da França (l’École nationale supérieure de création industrielle), o que o permite, por exemplo, utilizar um sistema montado com papel e tinta corrente para captar ondas sonoras para as músicas. O artista está preparando um segundo álbum para 2018, mas, por enquanto você pode ouvir Léviathan, e assistir aos clipes de “Gravité” e “Ocean Rouge” — do EP Mars balnéaire (2014).

2- Agar Agar

Agar Agar. Crédito: Reprodução/YouTube

“Eles têm uma pegada que pode se tornar facilmente internacional, bem eletrônica”, comenta Fall, sobre o Agar Agar, duo formado por Clara e Armand. Foram eleitos pela revista “o grupo francês mais moderno” de 2016, ano em que lançaram o EP Cardan, encabeçado pelo single “Prettiest Virgin”. Eles trazem uma configuração parecida com os norte-americanos do Sofi Tukker, e inclusive têm uma música com um título estrangeiro — “Cuidado, Peligro, Eclipse” –, só que se mostram mais ousados com o uso de sintetizadores e texturas vocais (interessantemente rasgadas em “Symbiose”). Assim como Berger, o Agar Agar está trabalhando em um novo disco para 2018, já adiantado pela recente “Sorry About the Carpet”. Ouça Cardan, “Prettiest Virgin” e assista ao novíssimo clipe de “Sorry About the Carpet”, divulgado nesta quarta, 20.

3- Johan Papaconstantino

Johan Papaconstantino. Crédito: Reprodução/Instagram

Ele é francês, mas a origem grega fica muito clara nas canções. Ele é cantautor, mas tem uma veia artística forte na pintura. “É uma mistura um tanto quanto estranha”, ressalta Fall, da forma mais positiva possível. Papaconstantino publicou o primeiro single solo em 2017, “Pourquoi tu cries??”, mas já está fazendo um bom barulho na França. Nas palavras do jornalista, Papaconstantino lhe apresentou pela primeira vez “uma música de casamento francesa que poderia ser escutada fora de casamentos”. E cabe a você fazer o próprio julgamento. Assista abaixo aos clipes de “J’Aimerai” e “J’sais pas”.

4- Vald

Vald. Crédito: Reprodução/Facebook

E chegamos ao rap! Assim como no Brasil, o gênero é o que tem maior relevância atualmente na França, de acordo com Fall. “Para mim, Agartha foi o disco mais importante na França em 2017”, opina, sobre o primeiro álbum do rapper, que “carrega referências aos Illuminati, um humor duvidoso e absurdo e rimas multi silábicas que passeiam pela euforia e pela depressão”. Em janeiro, Vald soltou XEU, o mais recente disco, que “serve tanto para chorar quanto para dançar”, segundo o jornalista. Ouça XEU, e assista abaixo ao clipe de “Désaccordé” e de “Ma meilleure amie”.

5- Lolo Zouaï

Lolo Zouaï. Crédito: Reprodução/Facebook

Uma jovem promessa do R&B francês. Lolo Zouaï é francesa, mas mora em Nova York, e usa de influências dos dois países para construir seu sensual som que varia entre o rhythm and blues moderno e o pop. Gosta de SZA? Kali Uchis? Então espere ansiosamente pelo primeiro EP de Lolo, que deve sair ainda em 2018. Assista aos clipes de “High High to Low Lows” — no maior estilo cool DIY — e de “Austin Power”, com Myth Sizer, abaixo.

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