Matt Kivel começou a carreira como membro da banda indie Princeton mas, em 2013, resolveu focar em material próprio. Desde então, lançou quatro álbuns solo, sendo o mais recente Last Night In America.

Aqui, ele continua explorando sons e letras intimistas. O cantor começou a escrever o disco em Los Angeles, onde morava, e foi achar inspiração em Austin, no Texas. Segundo ele, foram as paisagens que o auxiliaram nesse processo.

Essa afirmação fica clara na audição, uma vez que Kivel é um ótimo criador de imagens. Um cigarro pressionado entre os dentes, uma risada nervosa que cheira à vodca, pés molhados na beira do riacho, um céu cheio de pássaros. Todo o ambiente sonoro é construído em torno de pequenos “closes” que formam horizontes de sensações.

Em “L.A. Coliseum”, por exemplo, o primeiro single do álbum, Kivel descreve um amor platônico que se descobre durante uma luta de boxe. O eu-lírico narra o sangue pulverizado que espirrava na primeira fileira, mas conta que ele e a companheira estavam no topo do estádio. “Rindo e bebendo cerveja/ você sentou ao meu lado / colocou sua mão ocasionalmente nas minhas costas / e então você me contou sobre sua vida / e garotos com quem você esteve”.

A narrativa segue enquanto a imagética se constrói na mente do ouvinte. Em uma quebra de expectativa, comum durante a extensão do disco, a música se completa. “Eu fico me perguntando/ como é dormir ao seu lado/ como é te ver morrer/ como é sentir amor vindo de você/ como seria sentir seu toque/ ou apenas ter tentado”.

Para seguir essa atmosfera, o som de Last Night In America é uma volta ao Matt Kivel primordial. A guitarra, a voz e as texturas são sutis. Tentando colocar as músicas numa padronização de gêneros, é quase uma mistura de folk, lo-fi e indie-pop. O clima é envolvente, as guitarras são quentes. Mas sempre há algo para tirar o ouvinte de seu lugar de conforto.

Quanto ao título do álbum, o artista diz que pode ter muitas interpretações. Talvez se refira à última noite de alguém vivendo na América, que recorda todas as histórias vividas lá. Talvez conte todos os acontecimentos da noite anterior. É um disco emotivo, cheio de pequenos momentos que carregam verdades enormes. O tipo de registro que se desenrola lentamente, recompensando os mais pacientes.

O site norte-americano especializado em música Adhoc detalha bem os vales sentimentais que o disco alcança. “Radiance”, por exemplo, foi descrita como etérea. “Uma sensação de luto e perda”.

Last Night In America se desenrola, então, como um álbum imagético, leve em sua sonoridade, mas pesado no sentimentalismo. Ele pode conceder dois tipos de audição: um lo-fi ambiente para quem não se aprofundar em sua liricidade ou um pesado registro de memórias doloridas, para os que o fizerem.

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