Texto por Joana Söt 

Belo Horizonte, 17 de março de 2022. Há quase três semanas não chove, e o primeiro carnaval com sol em muito tempo é registrado por aqui. Sentado comigo na região central desta cidade rodeada por montanhas encontra-se Gabriel – conhecido pelos amigos como Gabras, ou Laso. Desde que ouvi Magenta – o primeiro álbum do artista – pela primeira vez, um enorme interesse em saber mais sobre a história de Laso tomou conta de mim. Fiz então essa entrevista, na intenção de não só explorar o universo visceral de Magenta e os novos caminhos que a cena musical independente vem tomando, mas também de compartilhar com o mundo as maravilhas do mesmo.

Laso começou sua jornada na música cedo, com influências de um pai metaleiro e interesse por música desde que nasceu. Ainda aos 6 anos, a banda Carcass era uma das suas bandas favoritas. Aos 11, imerso no universo do metal ouvindo bandas como Children of Bodom e jogando Guitar Hero, Laso já sabia que a música o acompanharia pela vida toda. Sua relação com o metal sempre foi muito bem colocada: desde cedo entendia que a cena tinha muito machismo e elitismo em sua base, e daí começou a pesquisa por expandir e mesclar gêneros que saíssem da caixinha do metal, mantendo a mesma linguagem musical. O djent (derivado do metal progressivo) mostrou esse caminho para Laso.

Quando perguntei à ele sobre suas principais influências, o rico leque de referências se revelou: de Bring Me The Horizon a Nine Inch Nails, Bon Iver, passando pelo notório guitarrista Tosin Abasi, da banda Animals as Leaders, a banda de djent Periphery, e terminando em diversos sons brasileiros. Os motivos são plurais: referências de produção, uso de sintetizadores, influências musicais com guitarras de 8 cordas, e por aí vai. Tudo isso e muito mais ajudou Laso na produção de Magenta, lançado em 2019.

A profundidade do trabalho de Laso começa já no nome do álbum: Magenta. ‘’É uma das minhas palavras favoritas’’ – disse Laso. ‘’Magenta é uma cor ilusória, cada um vê de um jeito. O que algumas pessoas chamam de rosa, outras veem como roxo, enquanto outras entendem como magenta. É plural; um espectro, livre para infinitas leituras’’. A capa do álbum é uma ágata rosa, também conhecida como a pedra do amor. Um dos vários objetos que fazem parte da vida de Laso, que apenas escaneou a pedra e a tornou a capa do ilustre primeiro álbum, convidando as pessoas a mergulharem na própria leitura do mundo de fractais que as cercam. ‘’Magenta vem de um lugar de ruptura, interno, feito a partir das coisas que me cercam’’ – diz Laso. ‘’É importante que as pessoas se sintam abertas a criarem seus próprios significados a partir das músicas, mas posso dizer que o álbum é embebido das minhas experiências e vivências, de uma forma abstrata que chegue em todo mundo’’.

‘’O que o Magenta significa pra você?’’ perguntei. ‘’Significa o começo do que eu quero fazer no resto da minha vida. Todo o processo – da criação dos universos das músicas até a produção e lançamento me ensinaram e expandiram muito meu mundo’’. E de fato expandiram. O universo Laso vai além do som. Durante nossa entrevista, falamos muito sobre produzir arte com a preocupação de entregar experiência estética para quem a consome. Laso expande a experiência da sua arte para além da música: é também videomaker e estilista, fazendo a produção de seus próprios clipes e merch. No que diz respeito às roupas, a preocupação de tornar acessível a todes tudo aquilo que produz é palpável: ‘Nas roupas encontrei um lugar para falar sobre questões como a gordofobia e a não-binariedade. Procuro fazer roupas que quebrem essas barreiras de padrões de corpo, peças unissex, com novas medidas’’. Laso é um projeto-mundo, que procura acima de tudo um senso de inclusão e chegada das pessoas não só a partir da mistura de vários estímulos,  pela direção visual, pela moda, e claro, muita música. 

Para 2022, os planos de Laso não deixam nada disso de lado: O artista expressou entusiasmo ao falar sobre os lançamentos dos clipes restantes de Magenta, completando assim o universo visual do álbum. ‘’Além disso, planejo lançar ainda esse ano um álbum de experimentações com as músicas do Magenta e outras demos, feitas com a presença de alguns convidados especiais. A ideia é dar outra roupagem pras músicas’’. Laso também falou sobre fazer shows em novos ambientes, que completem a ideia de tudo que o projeto propõe. Trabalhar nos visuais dos shows, na experiência completa de quem vai, do som ao lugar em que tudo isso acontece definitivamente é um dos planos pós-pandemia para Laso. Aguardamos ansiosamente o retorno aos palcos e novidades deste universo que o artista criou. Magenta está disponível agora em todas as plataformas de streaming.

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