Paris Paloma viralizou em 2023 nas redes sociais — em especial, no TikTok — com a sua composição “labour”, que critica os efeitos do patriarcado sobre as mulheres, destacando como as expectativas elevadas e os papéis complexos que elas são obrigadas a assumir para satisfazer parceiros afetam suas vidas. Em agosto, a artista inglesa lançou seu audacioso álbum de estreia, Cacophony, que continua a explorar a experiência feminina.

Ao longo de 15 faixas, a artista vai alternando em sonoridades grandiosas e íntimas que passam pelo dark pop e neofolk. Apesar de agradável, a sonoridade do disco não é revolucionária e fica de segundo plano, sem grandes momentos de destaque. 

Porém, nas letras, a artista está seguindo um bom caminho e demonstra ser uma grande storyteller. Além da opressão patriarcal, Paris não hesita em mergulhar em temas sombrios e emocionais em suas composições, como: morte, exaustão e relações tóxicas. Essas histórias, por vezes, são contadas por meio de alusões à literatura romântica e mitologia grega — assim como fazem Hozier, Fleet Foxes e Florence and the Machine.

Um dos pontos altos do álbum é “last woman on earth”, canção que mergulha em uma atmosfera sombria e vulnerável, explorando a ideia do apocalipse como uma metáfora poderosa para o momento mais sombrio na jornada de Paloma como sobrevivente de violência sexual. 

A música revela a exploração e sexualização incessante que as mulheres enfrentam ao longo de suas vidas. Uma referência a Hugh Hefner, que adquiriu a cripta vizinha à de Marilyn Monroe — para poder passar uma eternidade ao lado da atriz, segundo entrevista ao Los Angeles Times — simbolizando a contínua invasão e apropriação da vida das mulheres, mesmo após sua morte.

O potencial de Paris Paloma para se tornar uma grande artista é evidente não apenas pela profundidade e originalidade de seu primeiro trabalho, mas também pela maneira como ela conecta temas pessoais e universais com uma sensibilidade única. Cacophony demonstra a sua incrível habilidade de explorar questões complexas — e dolorosas — apresentando-as de forma poética, inteligente, e, sobretudo, genuína.

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