O festival GRLS! teve seu primeiro dia (e primeira edição!) no último sábado, 7, no Memorial da América Latina em São Paulo. As atrações da noite eram compostas de incríveis artistas como Linn da Quebrada, Gaby Amarantos, Ludmilla (que substituiu a rapper americana Tierra Whack de última hora), e por fim, a diva australiana Kylie Minogue.
A cantora Linn da Quebrada foi a primeira a subir no palco do GRLS! Iniciando a performance com a faixa “Submissa”, a artista entregou uma apresentação dedicada à mulheres travestis e transexuais, falando sobre suas lutas e, principalmente, sua sexualidade. Em um dos momentos da apresentação ela e a companheira de palco, a incrível Jup do Bairro, simularam sexo oral utilizando pênis de borracha, cantaram sobre os prazeres do sexo anal em “Dedo Nocué”, parecendo chocar boa parte do público, composta, majoritariamente no momento, por homens gays brancos.
A drag queen Natacha Princess trouxe o sonho dos fãs de RuPaul’s Drag Race com uma performance de bate cabelo frenética ao som de “Coytada”, animando um público ainda chocado. Complementando a performance, dois dançarinos compunham algumas faixas da apresentação, trazendo presença e movimento sobre a magia, auto confiança e imponência das mulheres travestis.
Além do mais, em alguns momentos, o telão apresentava frases que expunham o desafio constante da vida como uma mulher marginalizada, como “Pare De Nos Matar” e “Bem Vindo à SP – Um Estado Policial”, falando sobre o assassinato frequente de minorias no estado.
Linn, como maior representante de um grupo totalmente marginalizado, celebra, choca, vibra e inspira, batizando o primeiro ato do GRLS! do seu jeito.
À paraense Gaby Amarantos foi a segunda atração do primeiro dia do GRLS! Iniciando à festa com “Xanalá”, com direito à chuva de confetes amarelos e, acompanhada de imponentes dançarinas e lindo figurino (o de Gaby, inclusive, composto por uma estampa de frutas).
Um de seus maiores hits, “Xirley”, veio em seguida, inflamando o público já animado. Em “Ilha de Marajó”, uma surpresa: índias de Marajó com suas saias rodadas trazem à homenagem de Gaby para às mulheres indígenas, emocionando e colocando sorrisos na plateia.
Em seguida, um medley de brega funk, tesouro do Recife, com um feminist-twist: Em “SENTADÃO”, hit do cantor Pedro Sampaio, virou “Sem padrão”, e “Tudo Ok” do Thiaguinho MT, “Mulher poderosa não liga pro seu ex”. O padrão seguiu em músicas antigas, como do Bonde do Tigrão, mas Gaby avisa “Não vou ficar brava com o pessoal dos anos 70!”, ressaltando à questão de época antes do discurso feminista estar mais difundido.
Na última parte da apresentação, o público se rende a Gaby. Dezenas de dançarinas negras estão no palco junto a Gaby, performando como em uma apresentação de arte contemporânea, com gestos de carinho e sororidade entre elas. Gaby declara: “As mulheres negras estão em falta em festivais, pois estão na base de sociedade. Hoje, elas estão aqui em cima do palco.” O delicado momento foi embalado por “Chuva”, cover de Jaloo, artista que Gaby revelou ser o produtor de seu segundo disco, e o clássico “Como Nossos Pais”, de Elis Regina.
À cantora, por fim, encerra sua festa com agradecimentos e pedidos: Obrigada por à apoiarem, e continuem à apoiando, pois ela é independente, negra, do Norte, ou seja, em uma indústria em que todos os obstáculos estão posto para Gaby. Mas nada a deixa parar, e a maior prova disso foi a festa e celebração à mulher negra que a artista apresentou, dançou e encantou na tarde de sol do GRLS!
A terceira artista a ocupar o palco do festival foi ninguém menos que a carioca Ludmilla. Uma das maiores vozes do Brasil, a cantora abriu o espetáculo com “Cheguei”… duas vezes, ao reiniciar o show quando notou um rapaz passando mal na platéia.
A energia já estava sem igual quando seu primeiro hit, ainda como Mc Beyoncé, “Fala Mal de Mim”, ecoou como à segunda faixa da noite. Ludmilla se mostrava admirada com o público, sua animação e compaixão com o rapaz passando mal, no começo do show, e afirma: “Vocês estão em um ambiente bem seguro.”
Um dos maiores hits do Carnaval, “Verdinha” tornou o palco verde e com o telão tomado por fumaças, mas antes, Ludmilla aconselha: “Quando te perguntaram como foi o festival, você só fala à letra da música: “Fiquei loucona / Chapadona / Só com a marola da Ruhama”.
Antes de “Bom”, um de seus clássicos, ocorreu um dos momentos mais esperados pelo público: interações entre Ludmilla e sua esposa, à dançarina Brunna Gonçalves, levando a plateia ao êxtase.
À carioca apresentou seu mais recente hit, a parceria com Ivete Sangalo, “Pulando na Pipoca”, e conta sobre certa lenda envolvendo a faixa: “Quem não pular na pipoca, vai ficar sete anos sem aquele amor gostoso!”, ameaça certeira para um público que decidiu não arriscar, transformando o Memorial, praticamente, em um grande brinquedo de pula-pula.
Após uma série de baladas, finalizada com “À Boba fui Eu”, a cantora anuncia o começo do “Festival da putaria”, com medley de diversos funks hits do momento, basicamente com a mesma setlist do gênero adotada por Gaby, e, entre às faixas, o sample de “Money” da rapper americana (e colega de feat!) Cardi B, é acrescentado ao fervo.
O show foi finalizado com “Favela Chegou”, parceria com a ex-amiga Anitta, completando uma grande festa que consagra Ludmilla como uma das popstars mais autênticas e capazes de fazer um espetáculo no Brasil.
Finalmente, dez minutos antes do horário previsto, o momento mais esperado da noite chega: a australiana Kylie Minogue, por muitos, considerada uma das divindades da música pop, aparece radiante no palco. Com “Love at First Sight” e uma jaqueta com “Brasil” bordada em brilhantes nas costas, ela inicia, o que viria à ser, um dos melhores shows pops dos últimos tempos.
O palco, totalmente maleável, sendo mudado a cada “era” do tempo apresentada no espetáculo, com grandes blocos de espelhos, leds movidas pelos talentosíssimos dançarinos que acompanhavam Minogue. Interludes, uma bola de espelhos e trocas de roupas complementavam à incrível produção de um show digno de um sonho pop.
A plateia se tornou uma atração a parte. Devoção pode ser um adjetivo correto para descrevê-la. O público sabia cada vírgula dos hinos de Kylie, a impressionando e a emocionando em diversos momentos. Um desses momentos foi quando a australiana cantou “In My Arms” pela primeira vez, e realizou uma versão acapella de “Your Disco Needs You”, realizando o sonho de muitos fãs presentes.
Com o maior hit da carreira, e um palco, dessa vez, só com Kylie, “Can’t Get You Out of My Head” impressionou a cantora com o volume dos “Lalala” gritados pela plateia, em chamas.
O show também teve a bênção disco de dois grandes mestres: David Bowie, com sample da icônica “Fashion”, e Donna Summer, com “Bad Girls”. Além do cover de “Kids”, do britânico Robbie Williams.
A cantora dividiu momentos de intimidade ao lembrar momenos da carreira como seu primeiro single, a última vez que veio no Brasil, há dez anos, e ao gravar o clipe de “Celebration” no Rio, há bastante tempo atrás. Kylie se mostrava genuinamente agradecida e se divertia junto à todos.
Com a fantástica “All the Lovers”, o espetáculo foi se encerrando, com direito a chuva de confetes coloridos e seu vestido de paetê azul, se tornando um dos auges da noite.
O sonho oficialmente chegou ao fim com “Spinning Around”, com uma Kylie relutando para deixar o palco, se consolidando como, sim, um verdadeiro ícone pop, e muito mais que isso, uma grande mulher apaixonada pela sua carreira e sua arte, um perfeito e brilhante meio de encerrar a primeira noite do Festival GRLS!