É em um lugar como o Fabrique Club – uma antiga fábrica recuperada, de tijolos aparentes e lustres de ferro – que o coração da cena hardcore paulistana se faz bater com mais força. 

Na noite fria de sábado, 21, o Bullet Bane encheu a pequena casa noturna em São Paulo para o show de lançamento de seu álbum mais recente, BLLT. O disco é um projeto de 8 faixas e 28 minutos que explode em tantas emoções e sentimentos que talvez fosse difícil sobreviver à jornada se a duração fosse muito maior. E a experiência ao vivo não foi diferente.

Mesmo enfrentando alguns problemas técnicos com o som e o telão no início do show, o quinteto não se deixou abalar e não perdeu a sintonia com a plateia e nem um com o outro em nenhum momento. A abertura explosiva com “Pra Não Ter Que Enxergar Onde Errei” e “Esse Vazio Ocupa Tanto Espaço” eletrizou a galera com as novas músicas, seguidas de “Cancela o Replay” e “Deja Vu”, onde o público abriu o primeiro mosh pit da noite – incontáveis outros ainda estariam por vir.

A dedicação e o peso que os integrantes Fernando Uehara (guitarra), Rafael Goldin (baixo), Danilo de Souza (guitarra) e Renan Garcia (bateria) trazem para o ao vivo é a verdadeira responsável pela dinâmica viva e ativa da plateia, que também é habilidosamente guiada pela forte presença de palco do vocalista Arthur Mutanen. Nos vocais e na performance, Arthur entrega tudo de si, seja nos momentos mais explosivos e cheios de screamo ou nos mais vulneráveis, quando para o ato performático para conversar com a plateia ou vai cantar ao piano.

O modo como o público do Bullet Bane reage a eles é a verdadeira prova de que a cena hardcore brasileira segue muito viva e com muito sangue nas veias e nos olhos. Ao contrário do que dizem os mais conservadores, não há nada de morto no rock hoje em dia, muito menos no rock nacional. Em espaços como o Fabrique Club, ele não só resiste, mas também respira, inspira e injeta uma dose extra de vida e adrenalina nos artistas e na plateia.

Na noite de sábado, o público do Bullet Bane era composto por homens e mulheres na casa dos 20 e 30 anos, atestando também que a cena não só existe, mas ainda é jovem – tem muita energia para dedicar à música pesada brasileira e muitas novas perspectivas a oferecerem para esse meio. Durante a apresentação, alguém soltou um grito de “Fora Bolsonaro” e foi aclamado pela multidão e pelo vocalista. Um cenário que seria muito diferente em um público mais velho e conservador.

Em São Paulo, o Bullet Bane se mostrou mais do que capaz de conduzir um show completo, eletrizante e dinâmico, mesmo com os empecilhos técnicos. A vontade de fazer dar certo gritou mais alto, tanto da parte dos músicos quanto dos fãs, que se dedicaram completamente à performance, fosse fazendo rodas de bate-cabeça ou subindo no palco para se jogar na plateia. Rolou até um bis da música de abertura no final para compensar os imprevistos do início da noite.

São nesses espaços alternativos e underground que se encontra a fonte de energia vital do hardcore nacional – e com o Bullet Bane, ele está em boas mãos.

LEIA TAMBÉM: Molchat Doma faz show elétrico e revive cena de dark wave e pós punk na Audio SP

Categorias: Resenhas