No último sábado, 20, Jão deu início à SUPERTURNÊ, sua primeira turnê em estádios, com um show arrebatador em São Paulo, no Allianz Parque.

A nova tour é a mais ambiciosa da carreira do cantor pop, que desde espetáculos anteriores chama a atenção pelo nível das produções cinematográficas no palco. Atualmente, Jão celebra a chegada de seu quarto álbum de estúdio, SUPER (2023), completando o ciclo iniciado por seus discos anteriores, LOBOS (2018), ANTI-HERÓI (2019) e PIRATA (2021).

Na narrativa criada pelo cantor, cada álbum representa um dos quatros elementos: terra, ar, água e fogo, respectivamente. A montagem da SUPERTURNÊ é toda pensada para finalmente contar essa história completa, do começo ao fim, dividida em 4 atos separados por cada elemento, com troca de figurino e músicas que conversam entre si em ordem cronológica – um toque familiar pra quem já esteve em turnês passadas e que faz toda a diferença na hora de ouvir a setlist ao vivo.

No maior momento de sua carreira, Jão entrega um espetáculo completo a nível internacional como se vê atualmente com poucos artistas nacionais em termos de infraestrutura e superprodução. O palco, que em turnês anteriores já recebeu cabeças infláveis gigantes, enormes navios e criaturas do mar – mesmo em casas de show pequenas – tem agora em estádios uma proporção colossal, com um enorme telão retangular na vertical que durante um dos atos se transforma em uma surpresa que vai tirar o fôlego dos fãs de longa data.

Dando sempre bastante espaço para sua banda de metais, backing vocals e outros instrumentos (que cresce em quantidade e qualidade a cada ano), Jão cria uma verdadeira experiência única de música ao vivo, com um sentimento de comunidade sempre presente, descentralizando o show da figura de si mesmo e transformando-o também em uma noite que é da banda e do público. E quem tiver o prazer de visitar a SUPERTURNÊ não vai conseguir negar: Jão é indiscutivelmente o maior performer masculino que temos na música brasileira atual.

‘SUPERTURNÊ’: Introdução

O show se inicia oficialmente com uma contagem regressiva de 60 segundos no relógio seguida prontamente pela entrada de Jão e sua banda no palco para cantar “Escorpião”, faixa de abertura do álbum mais recente. 

Agora com os cabelos platinados, o cantor usou um colete preto cintilante nesse momento inicial, que se completou com as músicas “A Rua”, “Essa Eu Fiz Pro Nosso Amor” e “Doce”, que encheu o estádio de luzes psicodélicas de várias cores devido às pulseiras de LED que os fãs recebem na entrada e que vão mudando de cor para interagir com o show e iluminar o Allianz.

Ato I: Terra

O primeiro ato da SUPERTURNÊ é comandado pelo elemento terra, o mesmo do álbum de estreia de Jão, LOBOS (2018). Ao contrário do que muitos podem pensar, o espetáculo não é dividido por Eras, como acontece no show de Taylor Swift, por exemplo. Ao invés de blocar os atos por álbuns, Jão mescla músicas de toda a sua carreira para contar uma história que melhor serve ao público e às 2h de show.

Vestindo um conjunto jeans com bordados, o cantor deu início a essa parte da noite com “Imaturo”, “Gameboy” e “Rádio”, fazendo uma surpresa logo em seguida ao cantar “Monstros” pela primeira vez em 6 anos. “Eu jurei pra mim mesmo que só ia cantar [essa música] quando esse dia chegasse, porque eu sabia que ele ia chegar”, explicou em discurso antes da canção. 

Com sua letra completamente vulnerável e que tocam em tópicos sensíveis como a solidão e o sonho de “querer ser mais um pouco”, a execução de “Monstros” ao vivo emocionou não só o público, mas também o cantor, que não conseguiu segurar as lágrimas em um misto de choro e sorrisos ao final da performance.

O momento de emoção é seguido por um instante de festa com “Vou Morrer Sozinho” e se encerra em “Sinais”, onde Jão é içado ao ares por cabos como se estivesse sendo “abduzido”, seguindo a temática alienígena da música, até que as luzes se apagam.

Ato II: Ar

A surpresa arrebatadora vem quando as luzes se acendem e Jão está sentado no alto do telão vertical, que se transformou em um enorme prédio. O cantor inicia o novo ato cantando “A Última Noite”, que em seus versos faz menção à “uma noite no alto de um prédio”, inserindo os fãs completamente naquela narrativa.

Devido ao tempo levado para fazer Jão subir até o alto do “prédio” e descer em segurança, o segundo ato é o menor da noite, se encerrando com “Acontece” e “Julho”, tocadas no violão.

Ato III: Água

Indo na contramão do que é comum em shows ao vivo, é bem aqui, na metade do espetáculo, que Jão apresenta suas músicas de maior sucesso comercial, “Santo” e “Idiota”. As duas são seguidas por “Lábia” e várias fileiras de cadeiras são adicionadas a um canto do palco, fazendo referência a um cinema, para a apresentação de “Locadora”. Jão faz um trocadilho bem-humorado dizendo “bem-vindos ao Supercine”, o programa de filmes da TV Globo que passa aos sábados à noite, depois de um de seus músicos tocar a música de abertura no saxofone.

Depois dessa performance mais sensual e intimista, Jão apresenta a música surpresa da noite, escolhida pelos fãs dentro do estádio, pouco antes do chão, de maneira interativa. Um vídeo foi exibido alguns minutos antes do show com duas opções de música: “Triste Pra Sempre” e “Aqui”. A maneira dos fãs escolherem era gritando mais alto para a sua favorita. A escolhida da noite de sábado foi “Triste Pra Sempre”.

O terceiro ato se encerra com “Meninos e Meninas” e “Olhos Vermelhos”, onde Jão canta “eu quero me perder, incendiar”, fazendo a conexão com o ato seguinte enquanto desaparece embaixo do palco envolto por uma nuvem de fumaça vermelha.

Ato IV: Fogo

Com muitas luzes vermelhas e pirotecnia, o último ato da noite é iniciado com “Eu Posso Ser Como Você” e “Se O Problema Era Você, Por Que Doeu Em Mim?”. No momento seguinte, Jão pausa o show explicando algo especial que preparou para essa turnê.

Seguindo a já conhecida tradição de escrever cartas online para apresentar cada um de seus álbuns, o cantor revela que escreveu uma carta para cada noite da SUPERTURNÊ e que escolherá um fã sortudo todas as noites para recebê-la. Em seguida ele entrega a primeira carta para uma fã perto do palco. A apresentação da carta faz referência à letra da emocionante “Maria”, que é cantada ao piano logo em seguida: “Naquele novembro eu corri até a sua casa / Mas só encontrei sua carta”. 

O show segue de maneira mais “quente” com uma apresentação encurtada de “São Paulo, 2015”, seguida por “Pilantra” e “Me Lambe”. A noite se encerra com “Super” e um show de fogos de artifício em “Alinhamento Milenar”, terminando de deixar o público em êxtase com a soma de todos os momentos vividos.

É incrivelmente satisfatório poder acompanhar a trajetória de Jão e ouvir a história de sua vida cantada e contada da maneira como ele quer que seja feito. Do menino que levava uma vida cheia de sonhos no interior até a superestrela que hoje queima com fervor fazendo shows em estádios, é bonito que todos os acontecimentos entre uma coisa e outra estejam registrados nas letras do cantor conforme eles iam acontecendo, assim como é admirável a dedicação de Jão para realizar cada um de seus sonhos mais ambiciosos. 

Atualmente, ele preenche uma lacuna no pop brasileiro carente de cantores masculinos que sejam grandes performers, investindo em álbuns com narrativas cinematográficas e shows com superproduções, e cumprindo com maestria o desejo expressado em “Maria”: “Baby, I wanna be a star”.