Este último sábado, 21, aconteceu o penúltimo dia de um total de 7 dias, da edição de 40 anos do Rock in Rio. Foi também o dia em que o nosso destemido duo encarregado da cobertura do megafestival voltou à Cidade do Rock para uma segunda incursão neste mundo colorido, luminoso e cheio de contradições.
Foi um dia como nunca houve outro na história do Rock in Rio, é verdade. Se isso é algo bom, aí são outros quinhentos. No intuito de reforçar uma identidade cada vez mais plural em relação aos estilos musicais e de público, mas se valendo da ocasião do aniversário de 40 anos para vender a idéia de uma grande festa da música brasileira com “todos os estilos” presentes, o line up foi um tanto quanto… diferenciado. Ao invés de contar com shows completos, a programação, na sua grande maioria, foi composta por agrupamentos de artistas por estilos, em shows denominados, por exemplo, Para sempre MPB, Para sempre Samba, Para sempre Sertanejo e por aí vai.
Sem entrar no mérito de que deve ter rolado uma economia de recursos nesse Dia Brasil, com esse sistema de manter uma mesma banda base e só trocar o artista à sua frente a cada 3 músicas, achei a idéia toda uma atrocidade contra a música em geral e à boa apreciação de um show. Se uma das críticas que os festivais costumam sofrer, quando comparados aos shows solo, é que você acaba vendo uma versão reduzida do trabalho de cada artista, imagina então, quando, ao invés de vários shows de 1 hora ou, vá lá, 40 minutos, o que você ganha é um grande punhado de participações especiais.
O Dia Brasil do Rock in Rio, começou com Autoramas
O primeiro show que acompanhamos no dia, no entanto, foi uma das poucas exceções à esse sistema cruel de show de calouros. Os Autoramas abriram a programação do dia, em um dos palcos secundários, o Palco Supernova. Desprivilegiados pelo horário, se apresentaram para algumas poucas dezenas de fãs e curiosos com a mesma (boa) energia que teriam no Palco Mundo, se fossem a atração principal do Festival. Ponto pra eles, que foram a pitada de rock and roll que deu pra apreciar nesse Dia Brasil.
Não sei se é culpa da minha mente um pouco receptiva demais à teorias de conspiração e mensagens subliminares, mas achei digno de nota que a música que a banda escolheu para abrir o show começava com “eu não sei o que foi que eu fiz, pra você vir e me tratar tão mal … acho que não tenho nada a ver com isso não… isso não tem nada a ver”.
Alguns bons momentos aconteceram ao longo do Dia Brasil
É claro que houve outros momentos bons ao longo do dia. A artista indígena Kaê Guajajara, se apresentando no Palco Favela e misturando elementos de sua cultura com uma roupagem pop moderna foi uma bela surpresa. Mas via de regra, o dia não foi marcado por boas surpresas e sim pela confirmação do que eu já esperava, que era perder de ver várias coisas e reclamar das que eu estava vendo. Seja por conta da já mencionada dinâmica de show de calouros, seja pelos duetos que não funcionaram muito bem ou por simples e grandes falhas logísticas mesmo, como o atraso de mais de uma hora do show Pra sempre Trap no Palco Mundo, que acabou atrasando também toda a programação do resto do dia e causando uma série de outros pequenos problemas.
O show Pra sempre Rock foi o responsável por unir o maior time de “roqueiros” brasileiros que por um motivo ou outro não descem na garganta dos fãs mais ardorosos do estilo, e ainda se completou a escalação com o Toni Garrido, já que não tinha um show Pra Sempre Reggae no tal do dia que era pra ter todos os ritmos brasileiros. Sei lá, talvez dê pra salvar Detonautas aí dessa turma mas aí já era mais de 3h da madrugada e depois de umas dezesseis horas zanzando pela Cidade do Rock acho natural que meu mau-humor cometa algumas generalizações.
Pra sempre Rap foi o mais fluído e natural
Uma última e muito necessária nota: o show Pra sempre Rap foi a junção de artistas que me pareceu mais fluída e natural, rendendo bons momentos de todos juntos no palco, especialmente nos sets de Criolo e Marcelo D2. Foi também nesse show que o momento mais rock and roll do dia aconteceu com a “Roda Punk” convocada por Djonga, que se jogou no meio do povo ao som do coro “fogo nos racistas”. O Resenhista que vos fala teve faro jornalístico suficiente para cavar um lugar no que viria a ser o meio do olho do furacão e participar desse episódio ativamente, por assim dizer.
Bom, já me estendi demais por aqui. Sei que infelizmente uma bela fatia de leitores se extravia quando o texto passa de três parágrafos e é meio que uma batalha perdida querer fazer diferente. Em uma reviravolta metalinguística aqui da nossa história, esse é o momento em que eu reconheço que talvez o grande público goste mesmo é do texto e do show curto, só com os highlights e os hits que todo mundo canta junto. E realmente vi muita gente cantando junto por lá. Sertanejo, samba, rock, pop e um monte de outras coisas. Mas se você leu até aqui sem ser obrigado a isso, talvez você esteja entre aqueles que preferem ver um show inteiro de uma coisa só.
Se esse é o caso, tamo junto!
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