Na última terça-feira, 08, o Simple Plan lançou o documentário The Kids in The Crowd no Prime Video. Uma das primeiras impressões que o filme deixa, já percebida na sessão antecipada super exclusiva realizada na semana passada em São Paulo para fãs da banda, é o senso de proximidade e intimidade que ele cria com quem já conhece a trajetória do grupo.
Pode parecer óbvio, mas não é tão simples assim. Vale ressaltar que o que você está prestes a ler não foi escrito por uma fã de carteirinha, como muitas das que estiveram presentes na exibição exclusiva. Sou alguém que cresceu ouvindo bandas como My Chemical Romance, Blink-182, Avril Lavigne, Panic! At The Disco e All Time Low. Ou seja, o Simple Plan jamais foi um nome distante. Aliás, é até difícil encontrar alguém na faixa dos 30 e poucos anos que não conheça ao menos três grandes hits da banda. Ainda assim, ao assistir ao documentário, o sentimento de proximidade e conexão prevaleceu.
Indo direto ao ponto: o documentário começa literalmente do começo, contando a história de cada membro e como o Simple Plan se formou. A banda manteve sua formação original até 2020, quando o baixista David Desrosiers foi expulso após acusações de assédio — tema que, sim, é abordado ao longo do filme. O Simple Plan apresenta ao espectador a história de cinco jovens que persistiram, contra todas as adversidades, em seu “plano simples”: tornar-se uma das maiores bandas de um gênero que, à época, ficou conhecido como “pop punk”, mas que também é chamado de punk rock ou simplesmente rock. E, spoiler: não foi nada fácil.
Esse, na minha opinião, é um dos motivos que tornam o documentário tão relevante nos dias de hoje. Assistimos à trajetória de uma banda mundialmente conhecida, com mais de duas décadas de estrada, que jamais desistiu de seus sonhos. É, de fato, inspirador ver o sonho aparentemente “impossível” de se tornar um rockstar se concretizar — sair do porão da casa dos pais em Quebec, no Canadá, para lotar o Allianz Parque em São Paulo, reunindo mais de 40 mil pessoas.
Com uma mensagem clara — quem persiste, alcança — os integrantes mostram, ao longo de pouco mais de uma hora e meia, que conquistar seu espaço tanto na cena quanto no mainstream não foi nada simples. Foi-se mais de um ano e meio batalhando, enfrentando coleções de cartas de recusa e um árduo processo de gravação do primeiro álbum. Duas coisas se destacam nesse percurso: a importância do apoio da comunidade e de outros artistas da cena, e o espírito DIY (faça você mesmo), presente desde o início da história do Simple Plan e ainda vivo até hoje.
Outro ponto que me fez gostar bastante do documentário foi a sinceridade com que a banda fala sobre o ódio que enfrentou na icônica Vans Warped Tour. A estreia deles no festival foi desastrosa: o público, no mínimo hostil, atirava terra, garrafas plásticas com urina e lixo no palco. Antes da invenção do Twitter, era assim que se manifestava o “hate”: de forma cruel e humilhante, e ao vivo. O motivo? O Simple Plan era visto como a antítese do pop punk — mais “pop” do que “punk” — além de serem vistos pela imprensa e por parte do público como uma banda “fabricada” pela indústria, o que simplesmente não é verdade.
Hoje, é comum ver pessoas surfando no hate nas redes sociais ou vaiando bandas apenas por moda, mesmo tendo a opção de simplesmente não comparecer aos shows. Mas, ao contrário do que muitos críticos desejavam, o Simple Plan abraçou essas experiências e as transformou em combustível. Quer uma reviravolta icônica? Após esses episódios, vieram hits como “Perfect”, inaugurando uma nova fase para a banda, que percebeu ter muito mais em comum com o público do que imaginava. O que começou como shows animados e caóticos transformou-se também em espaços de catarse, onde fãs choram e se sentem acolhidos, especialmente ao lidar com situações difíceis e universais, como a falta de compreensão dos pais em relação a sonhos e expectativas na juventude, ansiedade e depressão. “Por isso eles alcançam tantas pessoas diferentes, eles as lembram delas mesmas”, comenta Morgan Freed, criador da Emo Nite L.A.
Por fim, The Kids in the Crowd é muito mais do que mais um documentário sobre a trajetória de uma banda de rock. Além de mostrar exatamente quem é o Simple Plan – a essência do fã em uma banda -, o filme é também uma aula (ou no mínimo uma coceira na ferida) sobre as problemáticas de como lidar com a fama e o hate além da falta de apoio aos artistas (principalmente mais novos e inexperientes) no início de suas carreiras.
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