No final de janeiro, o Måneskin lançou seu aguardado terceiro álbum de estúdio, Rush! (2023). Depois do sucesso de seu antecessor, Teatro d’Ira Vol. 1 (2022) e a rápida ascensão do quarteto italiano pelo mundo, todos os olhares estavam voltados de forma atenta para as novidades que o grupo traria em seus próximos projetos.

O lançamento dos singles “MAMMAMIA”, “SUPERMODEL” e “THE LONELIEST” sinalizaram a intenção da banda em explorar novos horizontes com a língua inglesa, em um provável esforço de conquistar mais espaço não só nos Estados Unidos, mas também ao redor do globo. Ao contrário do Teatro d’Ira, feito quase inteiramente em italiano, Rush! tem a maioria de suas 17 canções cantadas em inglês.

Para uma banda que fala um idioma não tão popular, é natural buscar maneiras mais acessíveis de se comunicar com os fãs através de uma língua universal. Um fator com o qual o Måneskin provavelmente não contava, entretanto, era a alta popularidade de suas canções em italiano fora da Itália.

Mesmo com dois álbuns de estúdio lançados, ao sair em turnê mundial o Måneskin demonstrou certa insegurança com seu repertório em italiano. O grupo buscou investir em canções “palatáveis” para os públicos de outras línguas, montando um show que continha 3 covers em inglês e o hit “I WANNA BE YOUR SLAVE” duas vezes, mesmo com material mais que suficiente para uma setlist completamente autoral e sem repetições.

A ausência de algumas músicas do Teatro d’Ira Vol. 1 foi contestada pelos fãs latinos, que insistiram na inclusão de favoritas como “LA PAURA DEL BUIO” e “VENT’ANNI”. Durante sua passagem pela América do Sul, o quarteto foi pego de surpresa pela intensidade do público e alterou sua setlist inúmeras vezes, substituindo covers de músicas em inglês pelas faixas mais pedidas em italiano.

Não é difícil entender a popularidade do Måneskin com os trabalhos feitos em sua língua materna. As canções soam cheias de energia e mostram grande habilidade de composição, além da enorme carga emocional passada nos vocais de Damiano David mesmo sem uma compreensão exata das palavras que estão sendo cantadas. Com apenas duas faixas em inglês, o Teatro d’Ira Vol. 1 se mostrou um excelente álbum de hard rock feito por uma banda promissora e que teria todas as ferramentas disponíveis para “trazer o rock de volta” para o mainstream.

Os próximos passos, entretanto, foram um tanto quanto decepcionantes. Enquanto os singles do Rush! se mostraram boas apostas comerciais, o restante do álbum falha em oferecer novidades ou faixas tão interessantes quanto as do disco anterior. As canções em inglês soam mais diluídas e parecem seguir uma fórmula apoiada na música pop, buscando refrões grudentos e versos repetitivos. O resultado é um disco pouco memorável, que não mostra muito da identidade do Måneskin e carrega mínimos traços da originalidade e audácia que conquistaram o público em trabalhos anteriores. 

As faixas mais interessantes seguem sendo aquelas cantadas em italiano. O trio composto por “MARK CHAPMAN”, “LA FINE” e “IL DONO DELLA VITA” traz um imenso sentimento de prazer por soarem não só mais naturais, mas também mais criativas e ousadas que todo o restante do álbum, carregando um sopro do Måneskin que encantou legiões de fãs e virou a mais nova cara do rock.  “IL DONO DELLA VITA” é uma das 3 baladas do Rush! e de longe a que consegue passar mais emoção, lembrando a intensidade de “CORALINE” ou “Torna a casa”, mais uma vez cativando o ouvinte de forma que atravessa completamente a barreira linguística.

Em seu terceiro álbum de estúdio, o Måneskin continua explorando sua faceta sensual e sexual, mas a energia necessária para o tema não consegue ser passada sonoramente com convicção. A banda mostra pouca criatividade ao construir riffs e melodias e suas composições soam fracas liricamente, o que é pouco característico de seus trabalhos anteriores. Até mesmo a música de protesto “GASOLINE” não soa convincente o suficiente, ao passo que a excelente “LA FINE” consegue trazer uma dose extra de agressividade enquanto Damiano discorre sobre as dificuldades da fama e da arte, descontando suas frustrações com muita clareza e com a rebeldia inata que colocou o Måneskin no radar global.

No fim das contas, ao tentar atingir novos públicos através da língua inglesa, o Måneskin cai no mesmo erro de seu primeiro álbum, Il Ballo della Vita (2018), e produz um trabalho que não condiz com o tamanho de seu potencial e com a qualidade musical que eles já mostraram que podem oferecer. A banda que conquistou o mundo com suas músicas em italiano acaba tropeçando nas armadilhas da indústria norte-americana e, apesar de conseguir boas posições nos charts e uma indicação ao Grammy, acaba sacrificando parte de sua identidade na tentativa de emplacar algum sucesso que supere a magnitude viral de seu cover de “Beggin’”.

Experimentando uma ascensão meteórica desde sua vitória recente no Eurovision 2021, é necessário que o Måneskin aproveite o momento para se manter fresco na memória dos ouvintes. Com o sucesso de “I WANNA BE YOUR SLAVE” o grupo provou que também sabe fazer grandes hits na língua inglesa, mas talvez a saturação de músicas neste idioma esteja inibindo tanto sua criatividade quanto sua originalidade. O resultado eventualmente pode se mostrar positivo para o mercado americano, os streams e os charts, mas a verdadeira chave para uma possível longevidade do Måneskin enquanto banda está na fórmula mais simples de todas: a língua italiana.

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