O elemento essencial de um show do Måneskin é bem óbvio: gente. Na última sexta-feira, 09, os italianos chegaram em São Paulo ainda vibrando com o calor e adrenalina de sua performance eletrizante no Rock In Rio 2022 e se apresentaram no Espaço Unimed fazendo o que fazem de melhor: buscando contato com as pessoas.

Eles abriram a noite com “Zitti e buoni”, “In nome del padre” e “Mammamia”, jogando a energia da casa de shows lá em cima. A plateia é viva e gosta de pular e cantar junto, derrubando completamente a barreira da língua e mostrando que sabe todas as letras em italiano, inclusive da longa e sensível “Coraline”, que é uma favorita dos fãs. Até mesmo o vocalista Damiano David ficou impressionado com tanta empolgação. “Vocês são o público mais barulhento que já tivemos. Eu nem consigo me ouvir cantando,” comentou com um sorriso.

Não há palavra melhor para descrever uma performance do Måneskin do que “pegajosa” – no melhor sentido. Os quatro integrantes – Damiano David, Victoria Di Angelis, Ethan Torchio e Thomas Raggi – vão aos poucos perdendo as peças de roupa com as quais subiram ao palco, até ficarem todos com as costas nuas e brilhantes de suor. De tempos em tempos, a baixista, o guitarrista e o vocalista se jogam na plateia colada à grade da pista premium, mesmo sem conseguir ir muito longe na multidão. Mais para o fim do show, durante “Lividi sui gomiti”, um grande grupo de fãs sortudos é escolhido pela banda para subir ao palco e curtir a música com eles em um pandemônio de corpos pulando e cantando. 

Ir a um show do Måneskin e não conseguir encostar em algum deles parece não só uma falha pessoal, mas também deixa a sensação de algo faltando – como se a experiência não estivesse completa.

Até mesmo entre os integrantes o contato físico é frequente. Victoria e Thomas costumam performar um momento sensual (e quase explícito) durante “Close To The Top”, enquanto Damiano corre de um lado para o outro abraçando os amigos e colegas de banda ou dançando com eles. Thomas e Victoria também vão até a bateria de Ethan às vezes, diminuindo um pouco o isolamento do único integrante que precisa ficar confinado a um único espaço.

A dificuldade de mobilidade devido à configuração mais apertada do Espaço Unimed parece frustrante, mesmo que os integrantes não demonstrem isso. É visível que, se eles pudessem, correriam até o final da pista se jogando nos fãs e vivendo aquela troca de toques e calor com eles – como fizeram no Rock In Rio. Depois que o primeiro deles desce para a plateia, porém, nenhum dos outros fica muito tempo sem dar uma saidinha do palco. O que eles querem mesmo é a energia viva dos corpos humanos.

Måneskin em São Paulo. Créditos: Marcela Lorenzetti
Måneskin em São Paulo. Créditos: Marcela Lorenzetti

Musicalmente, o Måneskin também mostra a que veio, o que surpreende ainda mais se considerarmos a pouca idade de seus integrantes – entre 21 e 23 anos. Para além dos vocais roucos e inebriantes de Damiano David, eles entregam solos de guitarra e de bateria, investem em hits com refrões contagiantes e covers de The Four Seasons e The Stooges, mas as músicas que fazem mais sucesso com os fãs são as originais mais voltadas para o hard rock. A banda não estava tão eletrizada quanto em sua performance da noite anterior no Rio de Janeiro, mas estava completamente presente e entregue ao momento. “Nós estamos nos divertindo demais,” garantiu Damiano no meio do show.

Ao fim da noite, depois de uma linda introdução onde Thomas brilha na guitarra em “Le Parole Lontane” e uma reprise mais animada de “I Wanna Be Your Slave”, os quatro se juntaram no palco e o vocalista prestou seus agradecimentos visivelmente emocionado. “Vocês fizeram essa noite ser especial e inesquecível para nós. Vamos lembrar disso para sempre”, afirmou. Vindo de alguém que acabou de passar pelo maior festival de música do país, o comentário sobre a plateia de São Paulo é impressionante e com certeza não é feito em vão.

Observar o Maneskin no palco é uma grande incógnita e um grande privilégio. Desde sua vitória no Eurovision 2021, há apenas um ano, a banda vem crescendo de forma vertiginosa e pouco comum para um grupo que tem grande parte de seu repertório em italiano. Não é pouca coisa que eles tenham chegado ao Palco Mundo do Rock In Rio logo em sua primeira visita ao Brasil e com tão pouco tempo de carreira, especialmente ocupando um horário de privilégio na programação do festival.

Seu sucesso meteórico nos traz o questionamento sobre os próximos passos e a dúvida sobre um futuro em que eles consigam manter esse nível de fama e aclamação em uma escala crescente. Por outro lado, a pouca idade dos artistas e sua habilidade inegável enquanto músicos nos faz pensar que podemos estar presenciando o início de um dos próximos nomes longevos e lendários do rock. 

Seja qual for o futuro do Måneskin, esse momento é inteiramente deles, e Damiano resume toda a história que a banda está construindo agora durante seu cover de “My Generation”, do The Who. Essa é a geração deles.

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